As instituições públicas de ensino superior da Holanda, Universidade de Amsterdã (UvA) e Universidade Livre de Amsterdã (VU), estão iniciando uma colaboração com a polêmica e gigante chinesa de tecnologia. A Huawei está investindo 3,5 milhões de euros em um laboratório de inteligência artificial para ferramentas de busca, informou o jornal holandês Financieele Dagblad (FD) nesta terça-feira (25).
A notícia causou espanto por causa dos laços estreitos da Huawei com o governo comunista chinês. Em muitos países a empresa chinesa não tem permissão para fornecer equipamentos para a rede 5G por questões de segurança nacional e receio de espionagem do PCC.
Nos Estados Unidos, a Huawei está em uma lista de empresas que os americanos consideram “ser de propriedade ou controladas pelos militares chineses”. Como resultado, a empresa não pode mais oferecer tecnologia de busca do Google em seus smartphones, possivelmente um motivo para buscar cooperação com instituições de ensino de Amsterdã.
O governo britânico recentemente anunciou que vai proibir as empresas de telecomunicações do país de comprar novos equipamentos fabricados pela chinesa Huawei. As empresas britânicas vão ter até 2027 para remover a tecnologia chinesa já instalada de suas redes 5G. As empresas de telecomunicações canadenses também fecharam as portas para as empresas chinesas.
A Polônia assinou um acordo de cooperação com os EUA para a nova tecnologia 5G, afirmando que a segurança e a cooperação com os EUA serão um aspecto central. O Vietnã, por questões geopolíticas, também contornou a chinesa Huawei e desenvolveu uma tecnologia própria para o 5G.
No entanto, a cooperação entre as universidades de Amsterdã e a Huawei foi aprovada pelos Ministérios da Economia e da Educação da Holanda. Segundo o FD, o serviço de inteligência holandês AIVD também deu sinal verde.
Um porta-voz do Ministério da Economia disse à agência de notícias ANP que havia apontado “enfaticamente” às universidades os “grandes riscos”. Isso inclui a proteção do conhecimento.
De acordo com o Ministério da Educação, a responsabilidade pela cooperação é das universidades. “Não é necessário um acordo ou objeção do ministério sobre certas garantias.”
A respeito da tecnologia 5G, o gabinete do governo holandês ainda não decidiu sobre a participação ou não da Huawei na rede 5G do país.
Esclarecimentos
Os partidos da coalizão governante, VVD e CDA, solicitaram esclarecimentos do gabinete do governo sobre a cooperação das universidades com a Huawei. Eles demonstraram ter “sérios questionamentos” sobre o projeto.
“Por que deixar os chineses investir milhões em tecnologia na qual queremos ser os melhores? Quão seguro ela é realmente? O Ministro deve se aprofundar nisso e não deixar isso para as universidades. Perguntas da Câmara estão a caminho, segurança em primeiro lugar”, tuitou o parlamentar da Segunda Câmara, Dennis Wiersma (VVD).
A parlamentar Joba van den Berg, do CDA, também ficou preocupada. Ela está surpresa com a cooperação “porque setores vitais devem ser protegidos”. Outro parlamentar, Kees Verhoeven, chamou a notícia de “impressionante”. Ele se pergunta como isso se relaciona com a política 5G do gabinete.
Mecanismo de busca com “filtro” de textos “ofensivos” e “impróprios”
O professor de Inteligência Artificial da VU, Frank van Harmelen, espera que o laboratório se transforme em um centro de pesquisa independente com 100 funcionários.
No laboratório, a tecnologia será desenvolvida para mecanismos de busca que conversam com o usuário. Ela também deve ser capaz de “filtrar” textos “ofensivos” e outros “impróprios”, de acordo com um anúncio de recrutamento para alunos de doutorado.
Holanda: a “porta de entrada” da Huawei para a Europa
Em 2005, a Huawei assinou o primeiro contrato significativo na Europa com a Telfort para a rede UMTS (3G). Desde então, a empresa está no mercado holandês de telecomunicações e TIC. Além do Carrier Business Group, no qual a Huawei fornece equipamentos de telecomunicações para as redes das operadoras de telecomunicações, a empresa chinesa criou o Enterprise Business Group em 2011, para direcionar empresas com soluções de TI e o Consumer Business Group em 2012, para atingir os consumidores com smartphones e tablets.
A Huawei quer digitalizar a Holanda com seus produtos. A ênfase da empresa é o projeto das Cidades Inteligentes (Smart Cities). Recentemente, a Huawei assinou o Memorando de Entendimento ‘Smart City’ com 5 cidades holandesas – Amsterdã, Haia, Tilburg, Groningen e Amstelveen.
Wonder Wang, CEO da Huawei na Holanda, afirmou: “A Holanda foi o primeiro país europeu onde assinamos um grande contrato. Para a Huawei, a Holanda foi a porta de entrada para a Europa”.
Xu Chen, Embaixador da da China nos Países Baixos, disse: “Espero que empresas chinesas como a Huawei continuem a crescer na Holanda. Espero que Holanda e China cooperem ainda mais”.