A Arábia Saudita representa uma nação-chave no coração do Oriente Médio. O reino islâmico saudita está passando por dramáticas mudanças econômicas e sociais que podem mudar a região e seu relacionamento com Israel e o Ocidente.
O reino saudita depende muito da indústria do petróleo e está tentando diversificar sua economia e criar mais empregos para os sauditas, conforme estabelecido em seu ambicioso plano de desenvolvimento socioeconômico “Visão Saudita 2030”. Esse plano, iniciado em 2016, se concentra não apenas na economia saudita, mas também menciona a importância de criar “uma sociedade vibrante” e de “viver pelos valores islâmicos”.
Segundo o ministro da Economia e Planejamento da Arábia Saudita, Mohammed Altuwaijri, a Visão 2030 basicamente libera o potencial da Arábia Saudita: “Diversificar longe do petróleo. Ter uma economia crescente e sustentável. Envolver o setor privado, criando empregos sustentáveis para os locais. Mas também, ter uma responsabilidade regional e uma responsabilidade global como um bom cidadão do mundo”.
O documento de estratégia do plano também enfatiza claramente a orgulhosa identidade islâmica do país e seu papel principal no mundo islâmico.
Liberdade religiosa
No momento, a Arábia Saudita está passando por mudanças sociais consideráveis. A internet desempenha um papel importante nesse desenvolvimento, o que abre maiores oportunidades “virtuais” para a liberdade religiosa que é inexistente no país.
O governo anunciou que quer que o país siga uma “forma moderada de islamismo” e até recebeu a visita de líderes cristãos estrangeiros, desde representantes do Vaticano, de igrejas coptas e anglicanas a líderes evangélicos. No entanto, as conversas com esses líderes ainda não levaram a melhorias concretas no tratamento de expatriados e imigrantes cristãos no país, e não há indícios de qualquer melhoria na liberdade religiosa dos cristãos sauditas.
Turismo
Um dos focos principais da ‘Visão 2030’ está no turismo, que é um pilar econômico estimulante do consumo e desenvolvimento de nações, além de possibilitar a geração de novos empregos.
Pela primeira vez em sua história, a Arábia Saudita está permitindo que turistas de quase 50 países solicitem vistos a partir deste mês.
O saudita Amr Ahmed Banaja, CEO da General Entertainment Authority, tem a missão de construir o setor de entretenimento na Arábia Saudita.
Banaja trabalha em projetos de entretenimento de longo prazo, como o ‘Qiddiya’, um parque de diversões a ser construído nos arredores de Riyadh. Ele também está trabalhando no ‘Projeto Mar Vermelho’, que está focado no desenvolvimento da costa da Arábia Saudita, e Neom, anunciada como uma cidade do futuro.
Neom, localizado nas margens do Mar Vermelho, é o maior megaprojeto do mundo hoje, com um custo estimado de 500 bilhões de dólares e é a peça central da visão 2030 da Arábia Saudita. Projetos como esses fazem parte do que a Arábia Saudita está abrindo e oferecendo ao mundo agora.
Uma outra atração turística para as pessoas que forem visitar a Arábia Saudita é Al Ula, a capital sul do povo nabateu e um patrimônio da UNESCO. Al Ula fazia parte das rotas comerciais de dois mil anos atrás.
Segundo Amer Madani, CEO da comissão real de Al Ula, o reino saudita pretende transformar Al Ula em um museu vivo grande e envolvente.
Mudanças sociais
Uma grande mudança na sociedade saudita ocorreu no futebol. Há pouco mais de um ano, pela primeira vez, as mulheres foram autorizadas a participar de jogos do esporte mais popular do país. Alguns estádios incluem uma seção da família, onde maridos com suas esposas, mães com seus filhos ou mulheres solteiras podem se sentar e aproveitar o jogo.
Entre outras mudanças, a Arábia Saudita também passou a permitir que mulheres frequentem os cinemas, shows ao ar livre e até mesmo dirigir no estrito Reino Islâmico.
Em todo o mundo árabe islâmico, percebe-se que cada vez mais a população local anseia que seus países aumentem seu bem-estar, a liberdade e que se tornem mais abertos ao mundo exterior.
Arábia Saudita e Brasil
A Arábia Saudita também está aberta a relações com o Brasil do Governo Bolsonaro.
Segundo a Agência Brasil, o Brasil e a Arábia Saudita fecharam parcerias em investimentos que podem resultar no desenvolvimento de projetos de até US$ 10 bilhões, benéficos para os dois países. O Fundo de Investimento Público saudita (PIF) explorará oportunidades em parceria com o governo brasileiro.
O acordo foi assinado no final de outubro pelo presidente Jair Bolsonaro, que visitou o reino saudita, e pelo príncipe Mohammed bin Salman.
O Brasil expressou o compromisso de trabalhar em conjunto com o fundo saudita para facilitar investimentos sauditas no país, prestando esclarecimentos sobre o marco legal e institucional para investimentos na economia brasileira.
O chanceler Ernesto Araújo disse que, durante o encontro, também foi discutida a simplificação de vistos de turismo e de negócios entre cidadãos dos dois países, buscando aumentar o fluxo de turistas e de empresários tanto no Brasil como na Arábia Saudita.
Desafios
Apesar das mudanças graduais, ainda há muitos desafios para o reino saudita, antes de alcançar a ‘Visão 2030’.
O conflito político, econômico e religioso dos ramos sunitas e xiitas do Islã entre a Arábia Saudita e o Irã e as disputas estratégicas pela influência dos países no Oriente Médio têm causado tensão nas relações de ambos, proporcionando graus variados de apoio aos lados opostos em conflitos regionais, especialmente na Guerra Civil Síria e na Iemenita.
Este conflito entre muçulmano e a ameaça do Irã têm aproximado a Arábia Saudita do Ocidente; o que coopera para que o regime passe por essas recentes mudanças.
Em 14 de setembro, o Irã atacou a principal instalação de processamento de petróleo da Arábia Saudita, diminuindo drasticamente a produção saudita por várias semanas. Ataques como esse são mais um dos motivos que levaram o reino saudita à nova visão de mudar sua sociedade, reduzindo sua dependência do petróleo e oferecendo uma nova Arábia Saudita ao mundo.
Se a Arábia Saudita alcançará ou não a ‘Visão 2030’, de qualquer forma, ela é um país que afetará profundamente o futuro do Oriente Médio.