A coroação do novo imperador Naruhito será celebrada no Japão com dez dias obrigatórios de folga.
Entretanto, nem todos no país trabalhador estão contentes com a notícia.
Muitos não sabem o que fazer com seus dez dias de folga.
No final deste mês, o Japão entrará em clima de grande festa e celebrará a nova era imperial Reiwa (Rei: “feliz ou ordem” e Wa: “paz ou harmonia”).
No dia 30 de abril, o imperador Akihito renunciará o trono e dará lugar ao seu filho mais velho, Naruhito, que assumirá em 1º de maio.
Do dia 27 de abril a 6 de maio, todos no Japão estarão de folga.
Os japoneses já têm todos os anos no final de abril e início de maio, um feriado conhecido como “a semana de ouro”, mas que dura normalmente seis dias.
Neste ano, quatro dias extras de folga serão adicionados, para celebrar a nova era imperial.
Poderia se esperar uma razão para uma grande alegria entre os japoneses que trabalham.
Porém, nem todo japonês está pulando de felicidade.
De acordo com uma pesquisa do jornal japonês Asahi Shimbun, enquanto 35% dos entrevistados disseram que estão felizes com os dias extras de folga, uma proporção maior, de 45%, afirmou não estar tão contente.
Segundo um estudo comparativo realizado pelo site de viagens da Expedia, sobre hábitos de férias em diferentes países, ter tempo livre não faz parte do sistema japonês.
Da média de 20 dias de folga que o japonês possui por ano, ele usufrui apenas de 10.
E a explicação para isto, é que 63% deles dizem se sentir culpados quando tiram folga.
No Japão, há uma cultura de medo no trabalho.
Temor de ser rejeitado pelo chefe, perder o emprego e também querer mostrar solidariedade aos colegas.
Além disso, eles dormem pouco.
Aqueles que tiram muitas férias, são olhados por colegas de forma negativa.
E as consequências dessa mentalidade no trabalho são os “Burn-outs”, acidentes vasculares cerebrais, suicídio e ataques cardíacos.
Karoshi
Os japoneses são mundialmente conhecidos como um povo de trabalhadores esforçados.
Não é incomum no país, um dia de trabalho de 12 horas e as horas extras são vistas como um sinal louvável de lealdade.
Os perigos dessa ética de trabalho até levaram ao surgimento de uma palavra separada em japonês: “Karoshi”, traduzido como “morte por excesso de trabalho”.
Em 2017, o The Guardian noticiou sobre a jornalista japonesa de 31 anos, Miwa Sado, que se matou devido aos efeitos de 159 horas extras.
O suicídio acontece com frequência no Japão e o de Sado reflete problemas dentro desta cultura de trabalho e no sistema político do país.
Reforma política
Em 2014, o governo japonês iniciou uma investigação em larga escala sobre as horas extras de trabalho no país, devido ao grande número de vítimas do fenômeno “karoshi”.
A pesquisa descobriu que cerca de 1 em cada 4 das empresas pesquisadas, possuía funcionários trabalhando por mais de 80 horas extras por mês.
Em mais de 10% dos casos, isso foi mais do que 100 horas por mês.
Em 2016, o “karoshi” se tornou uma causa oficial de morte no Japão e sobreviventes passaram a poder processar seus empregadores, se comprovado como causa da tentativa de suicídio, a carga extra de trabalho.
O primeiro-ministro Shinzo Abe também prometeu uma reforma completa, estabelecendo uma semana máxima de trabalho, para limitar o trabalho excessivo.
E para garantir que as empresas cumpram as novas regras, as chamadas “equipes de horas extras” monitoram de perto os empregadores.
Graças às regras mais rígidas e a uma maior atenção da comunidade internacional, a cultura de trabalho no Japão parece estar lentamente mudando.
O Japão ainda tem uma cultura hierárquica, em que as horas extras são sinônimos de lealdade.
E ainda está fora de questão, ir para casa mais cedo do que um colega de alto escalão. Além disso, o país não se libertou da mentalidade de que funcionários que não querem trabalhar horas extras, são considerados fracos ou inadequados para o trabalho.
Semana de Ouro
Apesar de toda essa “cultura do medo” no ambiente de trabalho, há também muitos japoneses que aproveitam ao máximo esta semana de férias.
A semana dourada já é usada todos os anos para viagens e visitas à família ou amigos.
Os quatro dias extras são mais que bem-vindos.
De acordo com a Expedia, organizações de viagens estão vendo um aumento acentuado no número de reservas para o período de férias.
Voos longos, especialmente para a Europa, já foram reservados com muito mais frequência do que a média de um ano inteiro.