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O ano começou e os ânimos para com tal começam a florescer. E 2018 será incrível, a pôr em literatura e a quanto mais queira-se.
Porém, incrível não como sinônimo de maravilhoso — como muitos usam o termo —, como antônimo mesmo de crível. Incompreensível; esquisito; inexplicável: este ano será i. àqueles que irão vê-lo da tela escura que é a tevê.
Não a tratar aqui de qualquer visão pessoal sobre vossos interlocutores, tão pouco de algum sujeito (Bolsonaro, Lula, Moro) público. E que os supersticiosos cessem de ler para que não lhes fira.
Indo direto ao ponto, a revelia popularesca acentuará-se para pôr quantos dedos for possível nas feridas do establishment mal acostumado a ordená-la. Ponto central para este ano e que pode mudar definitivamente o rumo do país — incluindo a abundância de assuntos que ocuparão o debate público daqui às próximas décadas. Mas do quê falaremos?
A base de um debate político maduro — vide o da cultura anglo-americana — é o arcabouço cultural alimentado por uma forte literatura diversificada. Diga-se o óbvio, esta serve como fonte teórica para o mundo prático.
O que, porém, há no país onde Pabllo Vittar e Duvivier são elevados ao topo do debate público? E que, para embasar alguma visão coesa, prefere-se facebookalizar as ideias? Obviamente, não há de se pensar, fantasiosamente, que o brasileiro vá de um momento a outro ler e se fazer conhecedor de tudo; e aí sim, pensará por si e então fará boa política. Nem de cair no erro de se pensar que a inteligência, e seu pedantismo in natura, não traz malefícios à vida social também. Mas a questão — e o erro todo — é o brasileiro sequer ter um imaginário minimamente maduro formado.
Quando sua paixão ser despejada por vias políticas será um tanto caótico. A direita, a esquerda, e os centristas, todos asseguram-se, cada um a seu modo, representantes únicos da massa; que, na verdade, não parecem conhecer o potencial, para bem ou mal, desta.
A quem dúvida e acha que será um ano glorioso, corre-se o risco de se deparar a uma continuação de mau gosto de 2017. É difícil imaginar que a imprensa parará de debater política americana via novelas ou resista a tentação comercial de usar celebridades como fonte mor de moralidade e consciência. Ou não achar que Jair Bolsonaro será eleito e tomará (sem o mesmo fazer movimentos para tal) o foco de todo um país falante.
O brasileiro está habituado, ainda, a tratar a política como forma de dar vazão ao seu ego; a gosto, avilta-se às dores dos outros e acaba criando uma avalanche de sandices.
Não será um juíz, nem um mito, nem a política americana, nem (quiçá) 2018 e todo seu arranjo de eventos, que salvará ou destruirá esta nação. Senão você, ele, ela, a forma como as pessoas tem se relacionado, os valores em geral, que o fará: caso não calcar-se a uma boa base, o castelo irá cair pelas as próximas décadas já citadas.
Afinal, este é o efeito quando a maior parte da população falante acha-se no direito de impor política partidária à sua história, e a toda uma cultura.
Apesar de tanto se falar em Nova Direita, nova esquerda, renovação política, o mesmo Brasil que jogou no ostracismo o grande músico Heitor Villa-Lobos e seu maior filósofo, Mário Ferreira dos Santos, para brincar de revolução política, volta a assombrar com a quase completa ignorância para com a vida em seu sentido lato.
Este Brasil, que não consegue distinguir seus problemas psicológicos, medos crônicos etc., do alheio a tudo isso, neste ano de 2018 está pronto para, sem querer querendo, iniciar um processo corrosivo.
Resta saber se nossa cultura tem base para aguentar e/ou romper este montante jacobino a frente. Ou então caminharemos para o início de um erro já cometido.