Certo dia, meus amigos e eu nos deparamos com a história de alguns mártires cristãos enquanto líamos em nosso grupo de estudos. Comentamos sobre como os antigos cristãos não tinham medo de defenderem suas posições mesmo perante ao risco ou à certeza da morte. O sangue dos mártires era como sementes, quanto mais cristãos matavam mais cristãos apareciam.
Confesso que essas elucubrações me entristeceram um pouco, mas por razões não tão óbvias. Não me entristeci pelos mártires, desta vez, mas por não haverem mais tantos cristãos com a força moral dos mártires. Vou explicar.
Naquela ocasião do grupo de estudos eu questionei um amigo:
— Há quantos anos frequenta a igreja assiduamente?
— 10 anos — ele me respondeu em tom de orgulho.
— Quantas vezes ouviu um sermão que falasse sobre aborto?
— Nenhuma vez.
Comentei: — Muitos jovens que estão na igreja desde crianças nunca ouviram um sermão a respeito do aborto em nossa igreja, mas na escola eles ouviram seus professores defendendo isso, na universidade eles presenciaram todo o corpo docente pregar a prática, na mídia eles vêm artistas e intelectuais moralmente decadentes incentivando o assassinato como se fosse método anticonceptivo. Os cristãos da antiguidade não tinham medo algum de morrerem pelas suas convicções, mas nós temos medo de um assassinato de reputação, e nos calamos diante do mundo. O Aborto é apenas um exemplo; quantos assuntos estamos deixando de tocar para não parecermos caretas e chatos?
A liderança cristã se preocupa mais com o repertório musical que será tocado no domingo que com o tema do sermão, que tornou-se ladainha regada de água com açúcar. A liderança cristã se preocupa mais com a roupa que as irmãzinhas estão vestindo que com a ideologia que elas defendem entre seus amigos. A liderança cristã se preocupa mais com o corte de cabelo do mancebo que com as influências marxistas, materialistas, gramscianas, niilistas ou seja lá que diabos for no modo de vida desse jovem. A grade verdade é que liderança cristã se preocupa mais com a equalização do microfone que com as palavras de repreensão que poderão sair do mesmo. A liderança cristã quer ver seus templos belos e modernos, mas não se preocupa se seus jovens estão como sepulcros caiados e decadentes em virtudes.
Eu apelo: chega de frescura! Parem de passar as suas mãos bem cuidadas nessas cabeças descuidadas. Apelem aos jovens para que sejam virtuosos, que defendam a verdade, que se apeguem aos seus princípios ainda que zombem, ainda que façam troça, ainda que riam, ainda que gargalhem, ainda que debochem, ainda que o isolem, ainda que o afastem, ainda o boicotem, e… AINDA QUE O MATEM.
Achou forte? Pois saibam que calados estão matando-os vocês mesmos, e os estão ensinando outros a matarem-se. Eles não aprendem nas igrejas que drogas são ruins, mas aprendem na escola que são legais e que devem ser legalizadas; eles não aprendem na igreja que aborto é abominável, mas aprendem nas universidades que aborto é um direito da mulher; eles não aprendem na igreja que famílias são as bases e fundamentos de uma sociedade saudável e forte contra as tiranias, mas aprendem na imprensa que os modelos familiares devem ser destruídos para que venha uma revolução redentora; eles não aprendem nas igrejas princípios morais fortes e transcendentais, mas aprendem com o mundo que o bem e o belo são relativos e alienantes.
Não percebem que escola não é mais lugar de educação há muito tempo? Não notam que universidades não são mais lugares em que se busca conhecimento? É papel da igreja educar, ensinar e instruir. É papel dos pais cristãos — que são líderes cristãos em suas casas — educarem seus filhos. Ou vão confiar a educação de seus jovens ao mundo e às instituições mundanas? Vão mesmo terceirizar a salvação das almas ao Estado?
Nossos jovens deixaram de temer a Deus e passaram a temer uma vida em Deus. Não possuem mais a coragem dos mártires, possuem agora a covardia da multidão que cata pedras ao chão afim de lançarem num corpo que jaz moribundo de tantas outras pedras deter. Os rapazes são agora efeminados e fracos de espírito, as moças são deselegantes e depravadas. A igreja não educa os pais por medo, os pais não educam os filhos por medo, os filhos têm preguiça e medo de educarem-se e são educados preguiçosamente pelo diabo, que possui diploma e liberdade de cátedra, que por sua vez tem medo da igreja. Todos têm o temor de todos, menos o temor a Deus. Parabéns, liderança crista! Estão mandando missionários para morrerem em países comunistas e muçulmanos pelo evangelho, mas estão deixando os próprios filhos definharem e, muitas vezes defenderem os que matam esses missionários.
Inda que seja cansativo eu apelo: chega de frescura!