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Bloco carnavalesco faz sátira a métodos acusados de terem sido usados como tortura, homenageiam Carlos Alberto Brilhante Ustra e Sérgio Paranhos Fleury, que foram respectivamente comandante do DOI-CODI e delegado da Polícia Política durante a regime militar, nos anos 1970.
O Movimento “Direita São Paulo” causou incômodo e rebuliço nas redes sociais após anunciar que iriam criar o bloco Porão do Dops. Criticados por de setores da esquerda como a UNE (União Nacional dos Estudantes), que lançou uma nota de repúdio em sua rede social acerca do bloco, a discussão não ficou apenas na esfera ideológica e chegou na esfera jurídica quando os promotores de Justiça Beatriz Fonseca e Eduardo Valério entraram na Justiça com ação civil pública contra os responsáveis pelo bloco carnavalesco “Porão do DOPS 2018”.
A promotoria recomendou aos organizadores que acabassem com qualquer divulgação que implicasse em propaganda ou apologia de tortura, especialmente retirando as imagens dos torturadores e modificando a alusão ao porão do DOPS na denominação do evento.
Pedem, ainda, a condenação dos organizadores ao pagamento, em caso de descumprimento das obrigações, de multa correspondente a R$ 50 mil por dia a ser recolhido ao Fundo Especial de Despesa de Reparação de Interesses Difusos Lesados.
Além da ação, a promotoria requisitou à Polícia Civil a instauração de inquérito policial destinado à apuração crime de apologia da tortura.
O Conexão Politica conversou com Douglas Garcia, organizador do evento e vice-presidente do Direita São Paulo, confira abaixo a entrevista:
QUANDO E COMO SURGIU A IDEIA DE REALIZAR O BLOCO? e como surgiu a ideia de fazer o bloco ?
– A ideia de fazer o Bloco surgiu no carnaval de 2017, mas ainda não tínhamos o nome, foi quando que, por brincadeira, a página Editora Humanas lançou o Bloco Porão do DOPS, mas era um evento fictício. Nós queríamos levar para a rua, mas o dono da página não autorizou, ficou com medo de haver confronto.
QUAL O NOME OBJETIVO CENTRAL DO BLOCO?
– São, na verdade, dois motivos: ocupação de espaço no meio cultural e desmistificação da história do regime militar. O carnaval, embora não agrade alguns conservadores, tem um grande público em cidades como São Paulo, Salvador e Rio de Janeiro, não podemos entregar isso de mão beijada pra a esquerda… Seria muita burrice.
VOCÊS ESPERAVAM QUE A REPERCUSSÃO FOSSE TÃO IMEDIATA E A JUSTIÇA FOSSE TÃO RÁPIDA PARA TENTAR BARRAR O BLOCO?
– Aguardávamos uma repercussão sim, mas apenas pelo escândalo da esquerda nas redes sociais e da imprensa aparelhada, jamais imaginaríamos que o Ministério Público, o Tribunal de Justiça e a Polícia Civil entrariam neste meio, muito menos com tamanha celeridade.
O NOME “Porão do Dops” TEVE RELUTÂNCIA EM ACEITAÇÃO DENTRO DO MOVIMENTO?
– Não. Pouquíssimos se sentiram desconfortáveis, mas os membros do Direita São Paulo têm muita sinergia, a maioria maçante deles adoraram o nome Porão do DOPS.
COMO VOCÊS ESTÃO LIDANDO COM A TENTATIVA DE CENSURA QUE ESTÃO SOFRENDO – QUAIS MEDIDAS JÁ FORAM TOMADAS?
– O Direita São Paulo sempre levou muita pancada, então estamos acostumados a crescer com base no grito da imprensa, ameaças quanto à integridade física e processos judiciais. No começo, aguentamos tudo sozinhos, mas posteriormente alguns movimentos, como Direita Minas, Direita Goiás, Direita DF, Direita MS, sites de informação e cultura como o Terça Livre através da Fernanda Salles, a Professora Paula Marisa, enfim, uma série de pessoas nos apoiaram, além do neto do Delegado Fleury, Bruno Fleury, que me procurou para agradecer pela homenagem ao avô e ao Delegado Dr. Carlos Augusto, o Carteira Preta, que trabalhou oito anos no DOPS.
QUAL ÓRGÃO TEVE A PRIMEIRA ATITUDE CONTRA O BLOCO?
– Teoricamente falando, o primeiro órgão que se manifestou de forma contrária ao Bloco foi a Câmara Municipal de São Paulo na figura da vereadora Sâmia Bomfim (PSOL) e o vereador Natalini que passou uma temporada preso no DOPS. Mas na prática mesmo, o primeiro a tomar medidas judiciais foi o Ministério Público por intermédio da Promotoria de Justiça de Direitos Humanos.
QUAL FOI A SUA REAÇÃO QUANDO O MINISTÉRIO PÚBLICO REFERIU A VOCÊ COMO “CAPITÃO DO MATO”?
– Eu ri incontrolavelmente. Se disser que fiquei irritado, é mentira. Não consigo me fazer de vítima para ganhar processos judiciais, se eu for processar a promotoria, é porque tentaram usar em mim um apelido de forma perjorativa, como se eu fosse um bandido. “Marcos Willians Herbas Camacho, vulgo Marcola”, foi nesse sentido que eles fizeram, assim realmente não tem graça e merecem ser punidos, até porque não sou conhecido por este apelido e não tenho a menor intimidade com essa promotoria.
VOCÊS RECORRERAM A POLÍCIA ACERCA DAS AMEAÇAS QUE RECEBERAM QUANDO CRIARAM O BLOCO?
– Não recorremos por falta de tempo: enquanto temos que arrumar todos os detalhes para o Bloco Porão do DOPS 2018, precisamos nos preocupar em não ser presos ou condenados a pagar multa, já que a promotoria avaliou a ação no valor de R$ 200.000,00 em caso de condenação e, na liminar, R$ 50.000,00 diária por desobediência à ordem judicial. Mas temos todos os prints guardados, assim que tivermos mais tempo, faremos um Boletim de Ocorrência.
QUAL A EXPECTATIVA QUE VOCÊS TÊM EM RELAÇÃO A ADESÃO DO BLOCO ESSE ANO?
– Ótimas expectativas! Mas o trabalho incansável do MP atrapalhou um pouco, pois muitas pessoas queriam comprar passagens antecidapas para vir de outros Estados, mas não podem fazer isso pois precisam saber qual será a decisão da liminar que está na mesa da juíza.
POR QUE OCUPAR ESPAÇO ATÉ MESMO NO CARNAVAL É IMPORTANTE?
– Porque boa parte do público carnavalesco é despolitizado e pode ser facilmente influenciado pela esquerda, já que no carnaval você pode incluir questões como drogas, gênero e uma série de coisas que não prestam, em contrapartida você pode oferecer uma diversão saudável e que não venha trazer nenhum tipo de depravação cultural ao país.
QUAL MENSAGEM VOCÊS GOSTARIAM DE DEIXAR AO NOSSO PÚBLICO?
– Malgrado tudo o que aconteceu conosco nos últimos dias, nós vencemos a guerra: o Bloco não teria sido o sucesso que está sendo se não fosse o escândalo da esquerda e as ações do Estado aparelhado. Pautamos o debate e levantamos o benefício da dúvida. Nessa história, os mais prejudicados foram a esquerda enquanto nós só saímos fortalecidos e preparados para mais um combate independente da realização do Bloco.