Por Rodolfo Haas
Em julho de 2020, a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) foi palco de um acontecimento raro: dois professores conservadores disputando uma mesma eleição para a reitoria da instituição. Alexandre Paulo Machado, docente da Faculdade de Medicina, e Danieli Artuzi Pes Backes, professora na Faculdade de Administração, ambos ligados ao movimento Docentes pela Liberdade (DPL), concorreram com o professor de Engenharia Elétrica Evandro Soares.
Evandro Soares recebeu mais votos na consulta pública, mas os nomes de Alexandre e Danieli fazem parte da lista tríplice enviada para Brasília, onde o Ministério da Educação e o presidente da República vão exercer a prerrogativa de escolher um dos candidatos.
A UFMT ficou famosa nacionalmente em julho de 2019, quando todos os espaços da universidade sofreram corte na energia elétrica por falta de pagamento das contas – mesmo com o MEC garantindo que o dinheiro havia sido distribuído. Evandro Soares era então vice-reitor – assumiu o posto em março de 2020, quando a reitora Myriam Serra se afastou do cargo.
Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Uberlândia, mestre em Microbiologia e Imunologia pela Universidade Federal de São Paulo e doutor em Ciências também pela Unifesp, Alexandre Paulo Machado tem 42 anos e é professor da UFMT desde 2006. Na entrevista, ele explica sua candidatura e comenta suas propostas para a universidade.
[Em tempo: A conversa com o professor faz parte de um esforço do movimento Docentes pela Liberdade (DPL) em trazer pensadores competentes e capazes de agregar análises relevantes para o cenário nacional. As opiniões expressas na entrevista não reproduzem, necessariamente, as posições do DPL ou Conexão Política.]
O que levou o senhor a se candidatar para a reitoria da universidade?
Há mais de dez anos faço oposição a esse grupo de esquerda que domina a UFMT por mais de duas décadas. Sempre fiz uma oposição consciente, que sempre buscou mover, fazer ações, protestar contra as irregularidades. Ao longo dos anos, vi a universidade morrendo, enquanto outros interesses tomavam conta da instituição. Por ter vindo de escola pública, nunca aceitei essa situação. Há um desvio de finalidade, um desvio de foco institucional: a atual gestão deixou a educação de lado para impulsionar projetos pessoais políticos. Aqui dentro já se fez muitas campanhas a favor dos governos do PT e contra os presidentes Michel Temer e Jair Bolsonaro. Com a universidade vilipendiada dessa forma, o Estado também perde. Mas a gota d’água foi o corte de luz.
Como o senhor avalia episódio do corte de luz na universidade, em 2019?
O governo Bolsonaro vem fazendo todos os repasses de verba, e ainda assim a universidade insiste no discurso de que está havendo contingenciamento. Até hoje não sabemos o tamanho do prejuízo provocado pelo corte de luz, os reagentes de laboratório perdidos, o hospital veterinário esvaziado, cheio de animais doentes sendo recolhidos pelos donos às pressas. Enquanto a equipe da reitoria não se manifestava, eu entrei em contato com o MEC, e o ministro Abraham Weintraub conseguiu que a companhia de energia aceitasse religar o serviço no mesmo dia. Na época, conseguimos mais de 300 assinaturas pedindo uma auditoria nas contas da universidade. O ministério acatou a denúncia e encaminhou para a Controladoria Geral da União, que encontrou uma série de irregularidades para o período analisado.
Quais suas propostas para a reitoria da UFMT, caso seu nome seja escolhido?
Se eu entrar na reitoria, vou auditar tudo, não vai ficar nada para trás. Quem não mede, não gerencia. Sem auditar, será impossível seguir pois ficará refém do desgoverno da atual gestão da UFMT. A gestão é a principal ferramenta para poder dirimir todas as ações no sentido da educação. Então, sem diagnóstico, não tem como fazer boa gestão, muito menos boa educação.
Temos propostas que não são só para a UFMT, mas para a universidade brasileira como um todo. A educação, como meta pública, vem perdendo espaço no mundo inteiro, enquanto a privada cresce. Na pandemia, as privadas ofereceram um leque de EAD. O aluno quer um diploma no final, precisa trabalhar. Muita gente não quer entrar na pública, por conta de greves, paralisações. Você não sabe quando vai se formar. Hoje, o aluno da UFMT custa perto de 5 mil reais, per capita. Se você considerar a evasão, e o investimento por aluno formado, esse custo é absurdamente maior.
A educação pública precisa de um grande reforço, um salto de qualidade e responsável especialmente tecnológico e humanitário. A sociedade não vai continuar bancando uma universidade ideológica por muito tempo sem compromisso com a sua missão principal. Não adianta o ensino ser somente gratuito, é preciso ter qualidade e eficiência, pois o mundo moderno está exigente.
Suas propostas são difíceis de colocar em prática?
Não. Nosso lema era justamente: “ideias simples, grandes soluções”. Um dos projetos é a universidade com transparência em tempo real. Uma vez instalada, nunca mais nenhum administrador vai poder agir sem prestar contas. Hoje não sabemos para onde vai a parte do orçamento que não é voltada para pagar salário. Temos um cemitério de obras dentro da universidade, algumas faltando 100 mil reais para terminar, é pouco dinheiro. E ninguém sabe por que elas não terminam. A UFMT já empenhou mais da metade de seu orçamento de 2020, cerca de 0.5 bi, simplesmente parada por questão da pandemia. Como gastou? Dai a importância de um sistema de transparência efetivo, inclusive que possa ser usado por várias outras instituições públicas.
Precisamos de grandes projetos, factíveis a baixo custo, mas que façam a universidade, que hoje está encastelada, transpor muros. A universidade hoje está reprimida, queremos ideias boas que atraiam várias outras para serem estimuladas ao máximo numa simbiose entre as universidades, governos e a sociedade brasileira. Nosso plano foi pensado para a UFMT, mas também conta com projetos de alcance para toda a universidade pública do Brasil.