O Papa Francisco se recusou a se encontrar com o Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, porque, segundo o líder religioso, ele não quer se encontrar com “figuras políticas” durante as eleições e, depois que o principal diplomata americano criticou um acordo que o Vaticano está negociando com a China, segundo o site Politico.
O Vaticano recusou na quarta-feira (30) o pedido de Pompeo por uma audiência com o papa, depois que o secretário de Estado no início deste mês acusou a Santa Sé de colocar em risco sua “autoridade moral” se estender um acordo com a China sobre as nomeações de bispos, informou o Politico.
“Há dois anos, a Santa Sé chegou a um acordo com o Partido Comunista Chinês, na esperança de ajudar os católicos da China. Ainda assim, o abuso dos fiéis pelo PCCh só piorou. O Vaticano põe em risco sua autoridade moral, caso renove o acordo”, escreveu Pompeo no Twitter, em 19 de setembro.
Pompeo também criticou a liderança da Igreja Católica durante uma conferência sobre liberdade religiosa organizada pela Embaixada dos EUA na Santa Sé em Roma esta semana, dizendo que deveria estar na vanguarda dos direitos humanos.
Os principais diplomatas do Vaticano – o Secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin e o ministro das Relações Exteriores, o arcebispo Paul Gallagher – confirmaram que o papa recusou o pedido de Pompeo por uma audiência na quinta-feira, dizendo que não queria que a Igreja Católica fosse puxada para as eleições nos Estados Unidos, informou a Reuters.
“Sim, ele perguntou. Mas o papa já havia dito claramente que figuras políticas não são recebidas em períodos eleitorais. Essa é a razão”, disse Parolin.
O acordo com a China “é um assunto que nada tem a ver com a política americana. Este é um assunto entre as Igrejas e não deve ser usado para este tipo de fins”, disse Parolin.
O acordo de dois anos entre o Vaticano e Pequim deve ser renovado neste mês.
Parolin defendeu o acordo e disse que o Vaticano espera que ele avance a liberdade religiosa e permita a “normalização” da comunidade da Igreja Católica na China, que viu seus membros serem levados à clandestinidade se reconhecerem o papa.
Parolin e Gallagher disseram que o Vaticano foi pego de “surpresa” com as críticas públicas de Pompeo à Igreja.
“Normalmente, quando você está preparando essas visitas entre funcionários de alto nível, você negocia a agenda para o que vai falar em particular, confidencialmente. É uma das regras da diplomacia”, disse Gallagher.
Perguntado se Pompeo estava “começando uma briga” com o Vaticano, ele disse: “Isso é loucura”.
Durante a conferência da quarta-feira (30), em seu discurso, o Secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin, condenou a intolerância ao “politicamente correto” como um ataque insidioso à liberdade religiosa presente em muitas democracias ocidentais.
“Os ataques à liberdade religiosa são muitas vezes motivados pelo medo e pela ideologia”, afirmou o cardeal Pietro Parolin.
Um exemplo disso seria “regimes totalitários que usam o poder para impor restrições draconianas, como testemunhado, por exemplo, em países onde a prática de certas tradições religiosas é proibida e ‘minorias’ são ativamente perseguidas”, declarou o cardeal Parolin.
Outra forma mais sutil de perseguição vem das “vozes intolerantes dos politicamente corretos que silenciam e condenam as crenças, tradições e práticas religiosas que se chocam com sua ideologia progressista, rotulando-as de ‘odiosas’ e ‘intolerantes’”, disse o cardeal disse.
“É hora de refletirmos mais seriamente sobre a raiz da ‘intolerância’ em tais situações e, em particular, o encolhimento do espaço público para o diálogo para e com aqueles que praticam suas crenças abertamente”, continuou Parolin.
“Na verdade, o grau de respeito pela liberdade de religião na esfera pública é um indicador claro da saúde de qualquer sociedade”, acrescentou ele, “e, segue-se, portanto, que também é um ‘teste de tornassol’ para o nível do respeito que existe por todos os outros direitos humanos fundamentais.”
Em seu discurso, o Cardeal Parolin disse ainda que a proteção e promoção da liberdade de religião é “uma marca da atividade diplomática da Santa Sé”.
Afirmou também que, segundo a doutrina católica, este “direito humano fundamental, juntamente com o direito inviolável à vida, constitui o fundamento indispensável e sólido de muitos outros direitos humanos”.
A Igreja Católica destaca o direito à vida e o direito à liberdade religiosa como dois direitos distintamente importantes, uma vez que constituem a base de todos os outros direitos.
Como escreveu o Papa João Paulo II, a liberdade religiosa é “uma pedra angular da estrutura dos direitos humanos e, por isso, um fator insubstituível para o bem dos indivíduos e de toda a sociedade, bem como para a realização pessoal de cada um”.
De forma semelhante, João Paulo escreveu que o direito à vida é “o primeiro dos direitos fundamentais”, observando que é “impossível promover o bem comum sem reconhecer e defender o direito à vida, sobre o qual todos os outros direitos inalienáveis de indivíduos são fundados e a partir dos quais eles se desenvolvem”.
Em suas palavras de quarta-feira, o Cardeal Parolin também falou da ligação entre liberdade religiosa e liberdade de consciência, dizendo que “infelizmente, estamos testemunhando um número crescente de exemplos onde esta liberdade está sendo violada, ainda que de forma contundente pela legislação civil, o que efetivamente equivale a um ataque à dignidade da pessoa humana.”
As ameaças modernas à liberdade religiosa incluem “opressão física, perseguição e imposição ideológica”, afirmou o cardeal, mas também “a negação da própria natureza do homem”.
Assista ao discurso do Secretário de Estado do Vaticano no link abaixo:
https://www.facebook.com/watch/live/?v=359681771846312&ref=watch_permalink