O Ministério Público de São Paulo abriu uma investigação para apurar as circunstâncias de uma compra de mais de meio bilhão de reais, feita pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em respiradores da China, segundo o jornal Folha de S. Paulo.
São 3.000 aparelhos importados da China por um intermediário do Rio de Janeiro a um custo de U$ 100 milhões (mais de R$ 550 milhões). Em seus comunicados praticamente diários, no Palácio dos Bandeirantes, João Doria ainda não detalhou nada sobre esta compra.
Segundo a Folha, um dos pontos que chamam a atenção dos promotores, além da rapidez da entrega, tratando-se de importação da China, é o valor que deve ser pago em cada unidade: média de R$ 180 mil.
O gasto com respiradores pelo governo de Doria é acima daquele feito com outros modelos de ponta no mercado, encontrados à venda pela reportagem com preços na faixa de R$ 60 mil.
Também está acima de cotações mais antigas feitas para o modelo de respirador SH300, em páginas de vendas de produtos médicos na internet, nas quais os preços variam de U$ 3.500 a U$ 20.000, que fica entre R$ 19 mil e R$ 107 mil pelo câmbio desta quarta-feira (29).
A Secretaria da Saúde de São Paulo afirmou que “como o governo federal fez a aquisição de toda a produção nacional e, consequentemente, impediu que os estados comprassem respiradores no Brasil foi necessária a importação”.
O governo paulista enviou informação das oito empresas para a Folha. A de menor valor ofereceu aparelho por R$ 63,6 mil, mas segundo o governo estadual, “o equipamento não pôde ser entregue devido à requisição federal”. Duas empresas ainda ofereceram aparelhos com valores menores, mas com prazo maior.
“A lógica da compra tem o tempo de entrega, que é mais do que fundamental. O estado não precisa de respirador em agosto. Precisa de respirador em maio. Ela tem uma segunda lógica que é de escala, de qualidade do produto e também de preço. Então, nas especificações e no tempo que São Paulo precisa dos respiradores nós compramos de quem ofertou o menor preço”, afirmou o vice-governador Rodrigo Garcia (DEM).
Uma empresa de origem britânica, com sócios brasileiros e escritório no Rio, a Hichens Harrison & Co., intermediou o negócio do governo de SP com os fabricantes chinesas.
Os sócios brasileiros são Pedro Moreira Leite, que foi vice-presidente do conselho fiscal do Flamengo, e Fabiano Kempfer, que atuou no Ministério do Trabalho na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A empresa é especializada no comércio com a China e já atua também como fornecedora para o Metrô do Rio.