Um grupo de indígenas fortemente armados se formou no norte do Rio Grande do Sul com o objetivo de controlar a reserva Votouro, localizada na cidade de Benjamin Constant do Sul. O grupo é responsável por dois homicídios e tentativas de assassinatos — uma delas contra o próprio prefeito da cidade, ferido e mantido em cárcere privado. Por trás da formação da milícia, está o potencial financeiro da região, cuja receita anual com a agricultura é estimada em R$ 10 milhões.
O cacique Elizeu garcia concorreu a uma vaga para vereador em 2016. Foi quando outro indígena, Edimar Pires, entrou na disputa que a milícia privada, comandada pelo cacique Elizeu, passou a perseguir o opositor e também aqueles que o apoiaram.
Segundo investigação do Ministério Público, cerca de cem pessoas deixaram o território em função do clima de terror instalado:
“Houve vários fatos graves, como sequestro, homicídios e tentativas de homicídio. Faltam políticas públicas em tudo que está relacionado às disputas por terras”, afirma a procuradora da República Luciane de Oliveira.
Em Dezembro de 2016, ocorreu o primeiro crime: a milícia foi à casa de um índio opositor e, a tiros, o expulsou do território. Dois meses depois, o sobrinho do prefeito, Itacir Hochmann, foi morto quando passava de carro com outro ocupante por uma estrada que corta a reserva. Itacir, após o crime, foi até a reserva mas foi recebido a tiros. Ferido na cabeça, foi retirado do carro pelos milicianos e mantido preso até a chegada da polícia.
Em outro ataque, realizado em 2018, um indígena foi assassinado em casa, porém o alvo era o pai da vítima, que, segundo o MPF, se contrapunha “publicamente às decisões da liderança”. Ele conseguiu escapar.
Para o Ministério Público, a formação da milícia “teve origem no desejo irrefreável de perpetuação no poder” da região norte do Rio Grande do Sul.