As máscaras podem ser prejudiciais para o desenvolvimento da fala e da linguagem de bebês, afirma o Professor e Ph.D. David J. Lewkowicz, em um artigo publicado em 11 de fevereiro, na Scientifc American.
Lewkowicz é cientista sênior do Laboratório Haskins e professor adjunto do Centro de Estudos Infantis de Yale, Universidade de Yale, nos EUA.
Segundo Lewkowicz, os pais podem tomar algumas medidas para compensar esse problema no desenvolvimentos de seus filhos, que pode ser causado atualmente pelo uso de máscaras.
No artigo ele menciona o caso de uma pessoa próxima de sua família que ficou alarmada quando soube que sua filha de dois anos deveria usar uma máscara na pré-escola. A pequena já se esforçava para se fazer entender, e sua mãe agora teme que a máscara torne mais difícil para sua filha ser entendida e que ela tenha dificuldade em contar o que seus colegas e professores mascarados estão dizendo.
Lewkowicz afirma que devido à máscara facial se tornar um acessório diário, a pandemia de covid-19 acabou revelando a necessidade fundamental do ser humano de ver rostos inteiros.
“Será que bebês e crianças pequenas, que devem aprender o significado da miríade de sinais comunicativos normalmente disponíveis nos rostos de seus parceiros sociais, são especialmente vulneráveis à degradação em rostos parcialmente visíveis?”, questiona Lewkowicz no artigo.
O cientista americano explica que os rostos são uma fonte complexa e rica de sinais sociais, emocionais e linguísticos.
“Contamos com todos esses sinais para nos comunicarmos uns com os outros por meio de uma dança complexa e dinâmica que depende de cada parceiro ser capaz de ler os sinais do outro. Curiosamente, mesmo quando podemos ver rostos inteiros, muitas vezes temos dificuldade em dizer o que as outras pessoas estão sentindo. Por exemplo, como observou a psicóloga Lisa Feldman Barrett, podemos interpretar um sorriso como significando ‘Estou feliz’, ‘Gosto de você’ ou ‘Estou envergonhada’. Portanto, ver rostos parcialmente visíveis nos rouba uma infinidade de sinais linguísticos que são essenciais para a comunicação”, explica Lewkowicz.
De acordo com o especialista infantil, bebês e crianças pequenas veem e ouvem sinais comunicativos e aprendem a atribuir significados a eles por meio de suas interações diárias com seus cuidadores e parceiros sociais.
“Considere, por exemplo, um bebê em uma festa de aniversário ou em uma creche onde várias pessoas mascaradas podem ser ouvidas e vistas conversando. Para descobrir qual rosto combina com qual voz, o bebê deve aprender que a boca é a fonte da linguagem falada e que olhar para a boca é essencial para descobrir se o rosto de uma pessoa em particular combina com uma determinada voz”, elucida Lewkowicz.
Para saber “se e quando” os bebês podem descobrir a importância da boca de um falante, Lewkowicz iniciou um estudo em seu laboratório. No estudo ele e sua equipe mostraram vídeos de rostos falantes para bebês de diferentes idades e rastrearam sua atenção usando um dispositivo de rastreamento ocular.
“Descobrimos que os bebês começam a ler os lábios por volta dos 8 meses de idade. Crucialmente, o início da leitura labial nessa idade corresponde ao início do balbucio canônico, sugerindo que os bebês começam a leitura labial porque se interessam pela fala e pela linguagem. Com a leitura labial, os bebês agora ganham acesso a pistas visuais da fala que, como Janet Werker e seus colegas da Universidade de British Columbia mostraram [ver estudo neste link], são claramente perceptíveis para eles. Portanto, a leitura labial agora permite que os bebês vejam as pistas visíveis de fala de que precisam para descobrir qual rosto combina com qual voz. Claro, os bebês não podem acessar pistas de fala visíveis se outros estiverem usando máscaras”, esclarece Lewkowicz.
A descoberta da leitura labial foi realizada em um estudo apenas com bebês que aprendiam Inglês e, portanto, segundo Lewkowicz, ele e sua equipe de pesquisa não tinham certeza se esse era um comportamento universal visto em bebês aprendendo qualquer idioma. Mas para esclarecer essa dúvida, em estudos subsequentes com seus colaboradores, Ferran Pons e Laura Bosch da Universidade de Barcelona, a equipe de Lewkowicz examinou a resposta de bebês que aprendem Espanhol e Catalão a rostos falantes e eles descobriram que esses bebês também começam a ler lábios por volta dos 8 meses de idade.
“Curiosamente, também descobrimos que bebês bilíngues que aprendem Espanhol e Catalão leem mais os lábios do que bebês monolíngues, indicando que bebês bilíngues dependem mais de pistas visuais de fala para ajudá-los a manter suas duas línguas separadas”, diz Lewkowicz.
Segundo Lewkowicz, uma vez que a leitura labial surge na infância, ela se torna o modo padrão de processamento da fala sempre que a compreensão é difícil.
“Isso é ilustrado por nossos estudos mais recentes, nos quais meus colegas espanhóis, a estudante de graduação Joan Birules e eu descobrimos que crianças bilíngues de 4 a 6 anos leem mais os lábios quando são confrontadas com a fala em uma língua desconhecida do que em uma língua familiar. Da mesma forma, descobrimos que os adultos que são especialistas em falantes de uma segunda língua leem mais os lábios do que seus colegas monolíngues quando confrontados com a fala em sua segunda língua. Esses achados são consistentes com outras evidências de que adultos recorrem à leitura labial quando confrontados com fala com ruído, fala com sotaque ou fala em língua estrangeira”, aponta Lewkowicz.
Até o momento, a pesquisa de Lewkowicz demonstra que as articulações visíveis que os bebês normalmente veem quando os outros estão falando desempenham um papel fundamental na aquisição de habilidades de comunicação. Uma pesquisa da Universidade de Cambridge também mostra que os bebês que leem mais os lábios têm melhores habilidades de linguagem quando são mais velhos. Nesse caso, isso sugere que as máscaras provavelmente impedem a aquisição da fala e da linguagem dos bebês, segundo Lewkowicz.
Por outro lado, Lewkowicz lembra que os bebês passam grande parte do tempo em casa com seus cuidadores sem máscara. O cientista afirma que é apenas na creche ou quando está fora de casa com seus pais que eles não veem rostos inteiros falando.
“Portanto, podem ser apenas aquelas situações que podem ter consequências negativas de longo prazo para os bebês. Precisamos de mais pesquisas para nos dizer se esse é o caso”, afirma Lewkowicz.
O Prof. Lewkowicz aconselha os pais que, quando estiverem em casa e sem máscara, ele devem se engajar o quanto possível em se comunicar com os bebês mostrando toda a face, para que eles possam ouvir e ver os rostos falantes em todo o seu esplendor.
“[A prática disso] garantirá que os cérebros dos bebês, que são altamente adaptáveis, terão a oportunidade de compensar a privação perceptual que experimentam fora de casa”, conclui Lewkowicz.