As autoridades da Região Autônoma Uigur de Xinjiang (XUAR) da China usam um programa de big data que “seleciona arbitrariamente muçulmanos turcos para possível detenção” em campos de internamento com base em comportamento legal, disse a Human Rights Watch (HRW) em relatório publicado na terça-feira (8).
A Human Rights Watch (Observatório de Direitos Humanos) é uma organização internacional não governamental que defende e realiza pesquisas sobre direitos humanos.
No relatório, “China: Programa de Big Data tem como alvo os muçulmanos de Xinjiang“, o grupo de vigilância sediado em Nova York analisa uma lista vazada de mais de 2.000 detidos da prefeitura de Aksu, fornecida no final de 2018 pelo Serviço Uyghur da Radio Free Asia (RFA).
“O programa de big data, a Plataforma de Operações Conjuntas Integradas (IJOP), aparentemente sinalizou as pessoas na Lista de Aksu, que os funcionários avaliaram e enviaram para campos de ‘educação política’ em Xinjiang”, disse a HRW.
“A Lista Aksu fornece mais insights sobre como a repressão brutal da China aos muçulmanos turcomenos de Xinjiang está sendo turbinada pela tecnologia”, disse Maya Wang, pesquisadora chinesa da Human Rights Watch.
“O governo chinês deve respostas às famílias das pessoas na lista: por que foram detidos e onde estão agora?”, disse Wang em um comunicado antes da publicação do relatório na terça-feira.
O programa de policiamento da IJOP agrega dados sobre as pessoas em Xinjiang e sinaliza para as autoridades aquelas que considera “potencialmente ameaçadoras”, disse o relatório. “As autoridades então avaliam o‘ desempenho geral’ desses indivíduos, juntamente a outras fontes de informação, e enviam alguns para campos de ‘educação política’ e outras instalações.”
A Human Rights Watch passou quase dois anos analisando a Lista de Aksu, uma planilha do Excel com os 2.000 nomes, consultando exilados uigures daquela região e verificando números de identidade em um site oficial de pessoas que foram incluídas na lista negra do Sistema de Crédito Social da China, diz o relatório.
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A análise da Lista de Aksu “sugere fortemente que a vasta maioria das pessoas sinalizadas pelo sistema IJOP são detidas por comportamento legal e não violento diário”, segundo o relatório.
Entre as atividades que levaram à detenção estavam ‘estudar o Alcorão sem permissão do Estado, permitir que os filhos estudassem o Alcorão, recitar o Alcorão, usar roupas religiosas ou ter uma longa barba, ou ir à peregrinação anual a Meca, na Arábia Saudita, sem permissão do Estado’, menciona o relatório.
Os uigures também foram enviados para campos de países “sensíveis”, incluindo Turquia, Afeganistão, Arábia Saudita e Quirguistão – bem como em outros lugares em Xinjiang, como Urumqi e Kashgar, sem notificar as autoridades locais, acrescentou a HRW.
“As plataformas de policiamento preditivo são realmente apenas uma folha de figueira pseudocientífica para o governo chinês justificar a vasta repressão aos muçulmanos turcomenos”, disse Wang. “O governo chinês deve fechar imediatamente a IJOP [ Plataforma de Operações Conjuntas Integradas], deletar todos os dados que coletou e libertar todos os detidos arbitrariamente em Xinjiang.”
Acredita-se que as autoridades mantiveram até 1,8 milhão de uigures – cerca de 1 em cada 6 adultos – e outras minorias muçulmanas em uma vasta rede de campos de internamento no XUAR desde abril de 2017, muitas vezes por atos que rotulam como sinais de “extremismo”.