Ignorando pressões virtuais encabeçadas pela esquerda, a Gazeta do Povo manterá o comentarista Rodrigo Constantino no quadro de colaboradores do jornal.
A decisão foi anunciada pelo próprio veículo, nesta sexta-feira (6), em extenso comunicado publicado nas redes sociais.
Antes disso, Constantino já havia sido dispensado da rádio Jovem Pan, da RecordTV, da Rádio Guaíba e do Correio do Povo.
Na nota oficial, a Gazeta do Povo afirma que as declarações do analista político foram “inoportunas e infelizes, intempestivas e formuladas com imprecisão”.
No entanto, para a empresa, “não nos parece que, ante as explicações e os pontos por ele abordados, estejamos, necessariamente, diante de uma afronta aos limites razoáveis da liberdade de expressão”.
O veículo ressalta que Constantino publicou uma coluna nesta última quinta-feira (5) em que explica a sua intenção, aponta suas próprias falhas e pede desculpas.
Após “análises e ponderações”, a Gazeta conclui que “ainda que não concordemos com a forma de muitos dos seus posicionamentos e com muitas das suas opiniões, continuamos acreditando na importância da diversidade de ideias e na importância do diálogo para a construção de uma sociedade melhor e de uma democracia cada vez mais madura”.
Confira o comunicado da Gazeta do Povo na íntegra
Caros Leitores,
Em relação à recente polêmica envolvendo Rodrigo Constantino, colunista da Gazeta do Povo, e aos vários pedidos acerca da posição do jornal sobre o tema, cumpre-nos, de início, reafirmar aqui o nosso compromisso com a liberdade de expressão, mas também e antes disso, como premissa, o nosso compromisso com a dignidade da pessoa humana, com a dignidade de cada indivíduo. Todos que nos acompanham conhecem nossos valores e nossas convicções, dentre os quais destacamos: a defesa do estado democrático de direito, a defesa da vida, a valorização da família, a valorização da mulher, a crença no protagonismo dos indivíduos e na capacidade de desenvolvimento das pessoas e da sociedade.
A liberdade de expressão é, sem dúvida, algo fundamental, mas nem por isso pode ser utilizada de forma irresponsável e sem limites. Em razão disso, portanto, jamais poderíamos admitir ou dar voz a discursos que, consciente e intencionalmente, agredissem aqueles valores e crenças acima mencionados. Jamais poderíamos tolerar, por consequência, um discurso que defendesse condutas absolutamente inadmissíveis, tais como o estupro, a discriminação ou qualquer outra aberração que atentasse contra a dignidade de toda e qualquer pessoa.
Pois bem, nesta quinta-feira, 05 de novembro, em coluna publicada nesta Gazeta do Povo, Rodrigo Constantino explica de forma mais clara e objetiva o que quis e o que não quis dizer. Isso não nos impede de considerar que suas manifestações iniciais foram inoportunas e infelizes, intempestivas e formuladas com imprecisão, dando margem a dúvidas que precisaram ser esclarecidas. É compreensível, portanto, parte do desconforto e constrangimento que despertou em muitas pessoas.
Na sua coluna desta quinta, no entanto, disse que jamais teve a intenção de analisar qualquer situação em concreto e reforçou a necessidade de que o caso de Mariana seja apurado e que, assim, faça-se justiça. Disse, inclusive, que acha brandas as penas do crime de estupro em nosso país.
Em seguida, Constantino reforçou o seu entendimento de que “não é não”. Nas palavras dele: “Também reforço aqui que não vejo nenhum espaço para a relativização do não. Não é não, sempre. Diante de qualquer sinalização para a interrupção de um determinado comportamento (inclusive um simples flerte), seja ele qual for, a vontade manifestada pela mulher deve ser imediatamente respeitada, sem qualquer margem para a discussão. Repito: não é não, sempre”.
Adiante, explicou que a reflexão que desejava provocar estaria centrada apenas em se separar casos de estupro daqueles em que houvesse consentimento. Por fim e muito importante, admitiu que talvez não tenha explicado da forma mais adequada a sua visão sobre o conceito de feministas e, admitindo que possa ter magoado muitas mulheres, pediu desculpas pelas fortes palavras utilizadas.
Como sempre procuramos destacar e lembrar, as opiniões de nossos colunistas não necessariamente representam as nossas opiniões, e desde que respeitados os limites anteriormente mencionados, acreditamos na Gazeta do Povo como um espaço de debate construtivo e sim, também, de divergência de ideias. Estimulamos a pluralidade de pensamentos e ainda que nem sempre compartilhemos deles, acreditamos que, em uma sociedade verdadeiramente democrática, um espaço para a conversa civilizada é absolutamente indispensável.
Constantino, na coluna publicada ontem, procurou novamente explicar a sua intenção, apontou suas próprias falhas e pediu desculpas. Apesar de sabermos e de respeitarmos entendimentos diversos, não nos parece que, ante as explicações e os pontos por ele abordados, estejamos, necessariamente, diante de uma afronta aos limites razoáveis da liberdade de expressão. Ainda que não concordemos com a forma de muitos dos seus posicionamentos e com muitas das suas opiniões, continuamos acreditando na importância da diversidade de ideias e na importância do diálogo para a construção de uma sociedade melhor e de uma democracia cada vez mais madura, razão pela qual, após várias ponderações e análises, decidimos pela manutenção de Rodrigo Constantino em nosso quadro de colunistas.
Ana Amélia Cunha Pereira Filizola
Diretora da Unidade de Jornais do GRPCOM