O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, exigiu que a Bolívia neste sábado (27) liberasse a ex-presidente interina do país, Jeanine Áñez, e dois de seus ex-ministros. Ele expressou sua preocupação com os “sinais de comportamento antidemocrático” na Bolívia.
Áñez e os membros de seu Gabinete são acusados falsamente de “sedição e terrorismo” e de um “golpe de Estado” que nunca existiu, quando o socialista Evo Morales teve que renunciar ao cargo, após descobertas da fraude eleitoral em seu favor em 2019.
Em nota, Antony Blinken reagiu fortemente à prisão dos três políticos bolivianos há duas semanas.
“Os Estados Unidos estão profundamente preocupados com os crescentes sinais de comportamento não democrático e politização do sistema legal na Bolívia, após a recente detenção e prisão preventiva de ex-funcionários do governo interino”, disse o secretário de Estado dos EUA.
Sem mencionar diretamente Áñez ou os ex-ministros detidos, Blinken constantemente se referia a “ex-funcionários”.
Desta forma, os Estados Unidos exigiram que a Bolívia “deixasse claro seu apoio à paz, democracia e reconciliação nacional, libertando os ex-funcionários detidos enquanto se realiza uma investigação independente e transparente sobre questões de direitos humanos e o devido processo legal”.
Ele acrescentou que essas prisões “não são consistentes com os ideais democráticos da Bolívia”. No entanto, mesmo após às fraudes eleitorais de 2019, Blinken afirmou que as prisões, “desacreditam os esforços extraordinários de tantos eleitores, candidatos e funcionários públicos bolivianos que transformaram as eleições de outubro de 2020 e as eleições subnacionais deste mês em um sucesso democrático”.
Blinken acrescentou que existem dúvidas sobre a “legalidade” das referidas detenções por serem “baseadas em acusações infundadas, pelas aparentes violações do devido processo na sua execução e pela natureza profundamente politizada do trabalho de fiscalização do governo boliviano”.
Ele ressaltou que ainda espera manter uma “relação robusta e de respeito mútuo” com o governo do atual presidente boliviano, o socialista Luis Arce. Por isso, pede às autoridades e aos manifestantes bolivianos que ajam neste caso com “paz, moderação e respeito”.
Blinken assegurou que sua posição coincide com a da “União Europeia, a Conferência dos Bispos Católicos da Bolívia e as organizações bolivianas e internacionais de direitos humanos”.
A perseguição ordenada pelo Movimento pelo Socialismo, partido do ex-presidente Evo Morales, contra os membros do governo provisório da Bolívia, é um escândalo internacional. Foram tantos os abusos que autoridades de vários outros países se pronunciaram sobre o assunto, e até mesmo o secretário da Organização das Nações Unidas (ONU).
Há quase duas semanas, o secretário-geral da OEA também pediu a libertação de Áñez e dos dois ex-ministros. Daquela instância, considerou-se que “o sistema judicial boliviano não está em condições de oferecer as garantias mínimas de um julgamento justo e imparcial”.
Durante uma reunião na semana passada no México, tanto Arce quanto o presidente mexicano instaram a OEA a não intervir nos países.
Apoio do povo à Añez
O povo boliviano foi às ruas em apoio de Jeanine Áñez e seu gabinete. As manifestações que ocorreram, em 15 de março, em La Paz, Cochabamba, Sucre e Santa Cruz foram uma resposta ao envio de Áñez ao presídio feminino de La Paz.
Na capital boliviana, o protesto foi convocado pelo Comitê Nacional de Defesa da Democracia (Conade). Essa mesma organização liderou as manifestações contra a fraude eleitoral a favor de Morales em 2019.
“Não vamos desistir, vamos lutar até que essa situação de criminalização que ocorreu no país seja revertida”, disse o porta-voz do Conade, Manuel Morales, à EFE. A caminho do Ministério Público, a mobilização passou por pelo menos dois ministérios onde os manifestantes exigiam “justiça e liberdade” e asseguraram que em 2019 não houve golpe.
Em Santa Cruz, milhares de pessoas foram ao Cristo Redentor, monumento emblemático daquela cidade, o maior do país. Com as bandeiras de Santa Cruz e da Bolívia, o povo boliviano rejeita a prisão de Áñez e de dois de seus ex-ministros.