Em uma entrevista realizada pelo Movimento Docentes Pela Liberdade (DPL) e cedida com exclusividade ao Conexão Política, o Pesquisador Científico do Centro de Imunologia do Instituto Adolfo Lutz de São Paulo e responsável pelo laboratório de Imunotecnologia, Dr. Carlos R. Prudêncio, explica o que se sabe sobre pessoas que parecem imunes à Covid-19.
Desde o início do ano, milhares de pesquisadores, de todos os continentes, buscam respostas a respeito do coronavírus SARS-CoV-2. Perguntas sobre sua estrutura biológica, a forma como atinge os seres humanos, a transmissão e possíveis tratamentos são total ou parcialmente respondidas pelos principais centros de pesquisa do mundo. No Brasil, o Centro de Imunologia do Instituto Adolfo Lutz, de São Paulo, participa dessa força-tarefa.
Em meio a esse trabalho de tamanha relevância, o imunologista Carlos Prudêncio, pesquisador científico do instituto, separou um tempo de sua agenda para atender à equipe do movimento Docentes pela Liberdade (DPL).
Na entrevista, ele explica qual é o status atual das pesquisas a respeito da Covid-19. E alerta para o fato de que o percentual de pessoas com anticorpos desenvolvidos em relação ao vírus é menor do que o inicialmente esperado. E que isso pode significar que uma parcela da população pode ser naturalmente imune à doença.
O que se sabe sobre a forma como a Covid-19 atua dentro das células humanas? É uma atuação diferente da de outros tipos de vírus?
Gotículas minúsculas entram em contato com as mucosas, como nariz, boca e olhos, pelas quais penetram no organismo da pessoa que será contaminada. Os sintomas geralmente começam a ficar evidentes depois de cinco dias. As proteínas chamadas spikes se prendem à membrana da célula humana, permitindo que a liberação do material genético (RNA). A partir desse momento, a célula passa a replicar milhares de vezes até a célula morrer. As principais células alvo do vírus para se multiplicar são as do sistema respiratório.
Se a carga viral de contágio for alta, há a possibilidade de o vírus já chegar nos pulmões mesmo antes de começar a se replicar. Vai ocorrer a possibilidade de ultrapassar as barreiras naturais e físicas do trato respiratório.
Essas barreiras já existem no corpo humano para evitar que esses invasores entrem nos pulmões a partir do trato respiratório superior. As cópias do vírus começam a se espalhar pelo organismo, infectando outras células e avançando especialmente pelos brônquios. O sistema imunológico é ativado, com uma tempestade de citocinas. Em alguns casos, o organismo perde o controle e começa a bombear níveis excessivos de citocinas, o que causa inflamação nos pulmões e no coração.
Grande parte da sintomatologia advém de reações do próprio sistema imunológico. O vírus, dentro de suas particularidades, atua de forma semelhando a outros vírus observando suas características próprias de infecção, replicação e disseminação para outras células.
A pesquisa sorológica realizada em Wuhan aponta que apenas 3% das pessoas responderam com anticorpos reativos ao vírus. O que essa descoberta significa?
Ainda não existe um consenso quanto aos testes sorológicos. No geral, em diversos países tem sido observado um índice menor que o projetado anteriormente baseados em modelos epidemiológicos. Isso poderia ser explicado em parte pelo processo de isolamento social e também por fatores como menor índice de propagação do vírus.
Ainda, mesmo a existência de fatores de defesa natural do próprio sistema imunológico, poderiam estar presentes assim como a reação cruzada com outros vírus gerando um mecanismo de proteção.
Interessantemente, algumas pessoas infectadas com o vírus, após a comprovação de diagnóstico positivo por PCR para COVID-19, simplesmente não produzem anticorpos para o vírus. Isto de deve provavelmente a imunidade inata ou mesmo outros mecanismos desconhecidos. No geral, os padrões de resposta imune não seguem à risca o que tem sido de conhecimento convencional.
É possível que uma parcela grande da população seja imune ao coronavírus SARS-CoV-2?
Sabe-se que a parcela de indivíduos que apresentam anticorpos reativos ao vírus da COVID-19 é menos frequente do que o esperado. Isso tem acarretado questionamentos a hipótese do passaporte de imunidade. É preciso maior números de estudos para que ocorre um direcionamento com maior assertividade sobre a resposta imune de infectados, principalmente os assintomáticos.
Estudos recentes têm apontado que essa parcela produz menor quantidade e maior inconsistência no padrão de anticorpos gerados. Por outro lado, a imunidade de rebanho, pode ser que ocorra em um índice menor que 70% para a população produzir uma barreira natural ao vírus. Nesse contexto, é preciso ver o padrão de resposta imune de forma complementar e não apenas isoladamente.
Qual é a diferença entre ter contato com o vírus e ser infectado por ele?
A transmissão costuma ocorrer no contato com infectados, por meio de secreções, como: gotículas de saliva; espirro; tosse; catarro. Toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos, também transmitem o vírus.
A exposição frequente ao vírus agrava quadros de profissionais da saúde ou outras classes que estão diretamente relacionados com os infectados. Dessa forma, o contato frequente ou de maior intensidade aumenta consideravelmente as chances de ocorrer infecção em uma pessoa susceptível.
O Dr. Carlos Prudêncio é membro do movimento Docentes Pela Liberdade (DPL), uma associação que tem como objetivo agregar docentes e discentes do ensino superior, médio e básico em prol da liberdade e qualidade acadêmica e escolar. O movimento vem produzindo artigos e reportagens para potencializar as ferramentas educacionais, filosóficas, científicas, artísticas e da alta cultura a fim de criar condições para o desenvolvimento da nação brasileira.
O Pesquisador Científico concluiu seu doutorado na Universidade Federal de Uberlândia e pós-doutorado na Universidade de São Paulo e na Universidade Castilla-la Mancha (Espanha). Prudêncio publicou artigos em revistas de renome e é inventor detentor de oito patentes relacionadas ao campo da biotecnologia de vacinas e diagnóstico, com experiência em gestão da inovação e transferência tecnológica focada em Saúde. Sua pesquisa está focada em abordagens de alto rendimento baseadas na tecnologia de exibição de fagos aplicada ao estudo de interações patógeno-hospedeiro e na descoberta de alvos para desenvolver novos diagnósticos, medicamentos e vacinas de interesse para a Saúde Pública.
[Em tempo: A conversa com o professor faz parte de um esforço do movimento Docentes pela Liberdade (DPL) em trazer pensadores competentes e capazes de agregar análises relevantes para o cenário nacional. As opiniões expressas na entrevista não reproduzem, necessariamente, as posições do DPL ou Conexão Política.]