O Conexão Política entrevistou o alemão Robin Zane (34), que atuou como atirador de elite (sniper) nas Forças Especiais da SDF (Forças Democráticas Sírias) contra o Estado Islâmico, em cooperação com as Forças Especiais dos EUA por 8 meses, em 2017. Hoje, casado com uma brasileira, ele reside no Rio de Janeiro treinando corporações. Recentemente, Robin teve sua verdadeira identidade exposta nas redes sociais e foi acusado de treinar e armar facções criminosas no Brasil. Na semana passada, ele veio a público para se defender do que ele chama de “fake news” e também registrou uma queixa na Polícia Civil do RJ, solicitando uma investigação para descobrir os autores das acusações.
“Na verdade, não foi a mídia que divulgou notícias falsas. Havia um artigo escrito por um jornalista sobre narcoterroristas sendo treinados por mercenários da África e do Leste Europeu. Esse artigo foi postado em um grupo de WhatsApp e alguém começou a postar minhas redes sociais, minhas informações privadas, e as pessoas estavam dizendo que eu poderia ser um desses mercenários treinando o Comando Vermelho. Esses indivíduos precisam ser responsabilizados por isso. Apresentei um boletim de ocorrência oficial contra as pessoas que começaram a espalhar essas mentiras nesses grupos de WhatsApp e a investigação está em andamento”, explicou Robin ao Conexão Política.
Vida na Alemanha
Robin Zane nasceu e cresceu na Floresta Negra, no sul da Alemanha. Ele e suas duas irmãs mais novas foram criados pela mãe e avós. Na escola, ele conta que nunca foi o melhor da classe, até o dia em que decidiu se tornar um soldado das forças especiais.
“Meu avô foi uma grande inspiração para isso, pois ele serviu o primeiro exército alemão após o fim da Segunda Guerra Mundial. Ele serviu lá por apenas dois anos, mas sempre me contava histórias engraçadas sobre seu tempo na unidade alpina. Isso me deixou curioso sobre os militares”, disse Robin ao Conexão Política.
Além do avô, Robin disse que muitos filmes de guerra que assistiu e o desejo de ser alguém que ajuda as pessoas também o inspiraram a se tornar um soldado de forças especiais.
Com um senso de justiça muito forte, Robin disse: “lutando contra o mal eu acreditava (e ainda acredito) que posso fazer a diferença no mundo”.
Como membro da comunidade das forças especiais da Alemanha, Robin disse que nem sempre é fácil revelar as unidades em que serviu, mas seu currículo é público. Ele entrou para o exército alemão quando tinha 17 anos e, após o treinamento básico, inscreveu-se para a Unidade de Reconhecimento Especial.
“Eles são um pouco parecidos com o COMANF brasileiro, mas sem o setor de mergulho. Fui treinado por 3 anos em todos os tipos de habilidades. Minhas especialidades eram ser franco-atirador, breacher [violador] -aquele que abre portas com ferramentas e explosivos – e médico de combate. Após 3 anos de treinamento, minha unidade foi dissolvida e eu me transformei em instrutor de uma unidade de comando. Fui encarregado de treinar atiradores de elite, atirar em combate e me tornei um especialista no CQB (como lutar dentro de casa ou em ambiente urbano ou confinado)”, disse Robin.
Naquela época, Robin também estudou psicologia para ser capaz de compreender a psicologia da guerra e, principalmente, aplicá-la ao treinamento de soldados. Depois de mais 7 anos, ele deixou o exército alemão para ir para o setor privado.
Para se tornar um sniper, Robin fez a escola de reconhecimento especial básico, e em seguida, entrou para a escola de atirador de elite, onde recebeu o treinamento especializado. Ele conta que, na época, sua família não sabia que ele havia entrado para o exército.
“Eu não queria que ninguém tivesse medo e, principalmente, minha mãe teria odiado. A única pessoa para quem eu realmente queria contar era meu avô, mas ele morreu quando eu tinha 14 anos. Antes de ir pra a guerra escrevi algumas cartas, caso algo acontecesse comigo”, disse Robin.
Certa vez, Robin foi fazer uma consultoria de segurança no Iraque. Ele disse que quando sua família descobriu, eles ficaram preocupados, mas que também sabiam que Robin estava seguindo seus sonhos.
Robin sempre teve o sonho de se tornar um atirador de elite.
“Eu tinha muitas armas de brinquedo quando era criança e estava sempre me escondendo nas árvores ou nos arbustos quando meus avós me procuravam. Meu avô me incentivou muito com suas histórias e também com seu apoio. Acho que ele ficaria orgulhoso de mim hoje”, disse Robin.
Para se tornar um atirador de elite, o ex-militar alemão afirma que é preciso ser muito paciente.
“O que a maioria das pessoas não sabe é que ser um atirador não significa ‘atirar em pessoas’. Isso é apenas 5% do trabalho. 95% do trabalho é estar atrás das linhas inimigas e fazer reconhecimento – observar todos os movimentos, encontrar posições-chave, alvos de alto valor e relatar essas informações ao centro de comando”, explicou Robin.
Na Síria
Segundo o sniper alemão, ele disse que serviu em combate por 2 meses no Iraque, onde sua atuação foi basicamente no campo. E em 2017, sozinho e voluntariamente, ele foi para a Síria para lutar ao lado das Forças Democráticas Sírias (SDF) contra o Estado Islâmico, em cooperação com as Forças Especiais dos EUA por 8 meses.
“Naquela época, eu não fazia mais parte da força militar na Alemanha”, explicou Robin.
No campo de combate, o soldado alemão ganhou seu nome de guerra: ‘Robin Zane’, o que tornou-se hoje também um apelido frequentemente usado por seus amigos.
“Tudo começou com ‘Robin’, porque eu sempre pegava munição dos caras das forças especiais (que tinham mais do que o suficiente) e dava para os médicos de combate para que eles treinassem mais. Então, as pessoas começaram a me chamar de ‘Robin Hood’, o que levou a apenas ‘Robin’. O nome Robin Zane veio mais tarde na Síria”, contou o sniper alemão.
Quando Robin ainda servia no exército alemão, suas armas eram o G36 e o G22. E depois, ele passou a usar o G28 como rifle de precisão. Na Síria já foi muito diferente. O sniper conta que nos primeiros meses os recursos lá eram muito limitados e ele teve que usar um rifle de precisão russo, o Dragunov, que era muito antigo. Mais tarde, ele adquiriu um M16 com cano de atirador e silenciador.
“Para realmente dar um tiro não é complicado, mas requer prática. Você precisa encontrar uma posição muito estável, controlar sua respiração e ter um certo controle sobre o gatilho de sua arma”, explicou o atirador de elite.
O sniper alemão contou que seu recorde foi um tiro de cerca de 800 metros de distância.
Questionado sobre as operações em campo e se foi preciso matar alguém, Robin preferiu responder em uma perspectiva diferente.
“Eu salvei muito mais vidas do que tirei! Mas em uma guerra como esta, em que o inimigo é claramente um inimigo e está disposto a morrer dirigindo um carro cheio de explosivos em sua direção e detoná-lo – não é difícil dizer que eu tive que tirar vidas de inimigos”, explicou Robin.
“Felizmente, nunca precisei atirar em nenhuma criança-soldado, pois não havia mais nenhuma na cidade de Raqqa. Acho que algo assim teria destruído minha alma. E quando se trata de números, há duas coisas: as mortes confirmadas e as mortes suspeitas. Eu sei das minhas mortes confirmadas, mas não vou revelar esse número porque ainda estamos falando de seres humanos e eu tenho respeito por cada vida, mesmo que elas sejam o inimigo”, acrescentou.
Muitos soldados que foram a guerras sofrem transtornos psicológicos leves ou severos. No começo, Robin confessou que teve problemas para dormir, mas que superou rapidamente. Ele disse que teve muito apoio de amigos com quem pôde conversar e que isso lhe ajudou muito. Mas o sniper alemão aprendeu a olhar de uma outra maneira tudo o que presenciou no campo.
“Eu vejo isso com a perspectiva: os terroristas do Estado Islâmico fizeram coisas terríveis com suas vítimas. Pensar nisso ajuda muito a não pensar demais e facilita o processamento de tudo”, disse Robin.
Ele conta que perdeu alguns amigos na guerra.
“O mais importante para mim foi o Jac. Ele fazia parte da minha equipe de atiradores de 4 homens. Ele era do Reino Unido e perdeu a vida a 50 metros de mim. Foi muito trágico porque foi um dia depois de termos vencido a guerra contra o Estado Islâmico na cidade de Raqqa, sua capital. Isso ainda me afeta e esta é uma das razões pelas quais ensino polícia e militares agora com as habilidades que adquiri – especialmente na guerra”, disse Robin.
Segundo Robin, os riscos de vida no campo de combate são altos, e todas as vezes que ele ia para a linha de frente – o que acontecia quase todos os dias – ele sabia do perigo.
“Um momento especificamente perigoso foi quando estávamos em um prédio e o Estado Islâmico nos cercou em um contra-ataque. Havia cerca de 60 deles e apenas 16 nossos. A maioria dos combatentes do SDF estava com medo e desperdiçou munição. No final, sobrevivemos usando coletes suicidas que tiramos de terroristas mortos do EI e os jogamos no andar de baixo, onde o inimigo estava. Nós sobrevivemos e carrego essa memória comigo quase todos os dias”, disse Robin.
“O alvo estava escondido em uma minarete e ele estava fora do alcance da maioria dos outros caras. Minha M16 modificada e minha paciência aguardando que ele ficasse confortável demais e se mostrasse demais foram fatores para fazer uma tacada bem-sucedida”, disse Robin.
Uma das imagens que mais impressionou Robin e que ele nunca mais vai esquecer é a de quando ele pôde andar pela cidade liberta, após a derrota do Estado Islâmico.
“Senti orgulho do que havíamos conquistado. Então, de pé no estádio que era a última fortaleza antes dos terroristas desistirem … foi uma sensação incrível ver civis e especialmente crianças jogando lá novamente!”, lembrou Robin.
Seu contato com o povo local era mínimo, pois a barreira do idioma foi uma das coisa mais difícil para Robin.
“Embora eu tenha aprendido árabe no serviço militar, o dialeto na Síria era muito difícil de entender. Quase não tínhamos contato com civis, exceto quando os tirávamos de um prédio, depois de libertá-lo dos terroristas do EI”, explicou o sniper.
Após toda sua experiência no exército alemão e depois, como atirador de elite nas Forças Especiais da SDF na Síria, Robin descobriu que ele é mais forte do que imaginava.
“Hoje posso lidar com qualquer coisa e acredito que com o treinamento certo qualquer um pode desenvolver essa mentalidade. Não importa quais recursos materiais você tenha. No final, o quão engenhoso você é em sua mente é o que importa”, disse Robin. Mas ele afirma que também não pode mudar o mundo sozinho. “É preciso muita ajuda não apenas de militares e policiais, mas também do povo de um país para melhorar a situação.”
No Brasil
Após a guerra contra os terroristas do Estado Islâmico, Robin decidiu ir direto da Síria para o Brasil – através do Iraque, porque não há voos da Síria para o Brasil.
“Sempre quis conhecer o Rio de Janeiro porque é famoso pelo carnaval e pelas praias incríveis. Então, cheguei aqui direto de uma das piores zonas de guerra que já existiu”, disse Robin.
No Rio de Janeiro, Robin conheceu sua atual esposa, na praia de Ipanema, sua praia preferida.
“Ela estava procurando alguém para praticar o Inglês e eu estava procurando alguém que me ajudasse com o meu negócio. Como ela é empreendedora, foi bom para os dois. Com o tempo, nos apaixonamos e agora estamos casados e felizes”, disse Robin.
Sobre seus planos no Brasil, Robin disse que atualmente ele está estruturando sua empresa de treinamento ‘Robin Zane Tactical’.
“Quero ajudar a polícia e os militares brasileiros a aprender com minha experiência. Eu ensino tiro de combate, CQB e Snipers. Neste momento, trabalho com algumas unidades da polícia e dos militares, e quero expandir ainda mais”, disse ele.
Recentemente, Robin encontrou um espaço de treinamento perfeito no Rio para começar a dar aulas para policiais e militares que desejam treinar fora do treinamento usual da unidade. Robin também fez parceria com vários campos de tiro pelo Brasil e vai começar a dar cursos para civis, policiais e militares nesses locais também.
“E também começarei a dar consultoria a organizações privadas e governamentais sobre treinamento e desenvolvimento de suas instalações de treinamento”, acrescentou Robin.
Robin confessa que o Brasil é a sua nova casa. A primeira vez que ele viu a praia de Ipanema, ele se apaixonou e criou uma ligação muito forte com o Rio de Janeiro.
“Sinto-me em casa agora e não tenho outro plano a não ser trabalhar e aproveitar a vida aqui”, confessou Robin.
Nos quase 3 anos que Robin está no Brasil, ele disse que aprendeu muito com os brasileiros, que segundo o sniper alemão, são pessoas que se adaptam muito rapidamente.
“São pessoas fortes e se começarem a trabalhar juntos da maneira certa, o Brasil pode mudar para melhor. Quero ajudar o Brasil ensinando minhas experiências de militar e da guerra para a polícia e os militares. Que seja Polícia Federal, Polícia Civil, BOPE, CORE, GRUMEC, COMANF e todas essas unidades. Estou à disposição de qualquer pessoa que queira aprender algo novo que certamente irá melhorar a maneira como a polícia e os militares podem combater o crime e a violência no Brasil”, disse Robin ao Conexão Política.
Questionado sobre a violência e a criminalidade que deixa o povo brasileiro tão vulnerável nas ruas e em suas próprias residências, o sniper alemão disse:
“Para o povo civil, só posso dizer: Aprenda a se defender. Aprenda a atirar, aprenda BJJ [ Jiu-jitsu brasileiro] ou Krav Maga [combate de contato israelense]. Também estou aqui, aberto para ensinar qualquer cidadão cumpridor da lei a se proteger. Basta, e é hora de uma mudança no Brasil. Acho que o Presidente Bolsonaro fez uma excelente escolha, dando às pessoas o direito de possuir uma arma. Se as pessoas aprenderem a usá-las de maneira responsável e segura para proteger a si mesmas e a outras pessoas, o Brasil ficará muito mais seguro.”
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