O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encontrou com o fundador da XP Investimentos, Guilherme Benchimol, na última quarta-feira (20), em São Paulo (SP). O petista tem recusado convites para eventos públicos com o mercado financeiro, mas mantém agendas reservadas com representantes do setor.
Um dia depois de se reunir com Benchimol, durante conversa com jovens da comunidade de Heliópolis, também na capital paulista, Lula elogiou a trajetória do empresário, mas sem citá-lo nominalmente.
“Ontem eu conversei com um desses [representantes] do sistema financeiro e ele me contou uma história importante. Ele fez universidade de Economia e foi trabalhar numa dessas empresas de mercado, que vende ações, numa corretora, mas foi mandado embora. Quando ele chegou em casa, o pai dele achou que ele não valia nada”, disse o petista.
“Aí ele, com raiva, saiu de casa, foi para uma outra cidade, montou um pequeno escritório, chamou uns amigos para trabalhar e montou um dos maiores bancos de investimento que nós temos hoje no Brasil. Por quê? Porque ele foi desafiado. Então vocês estão desafiados a provar para o mundo inteiro que vocês podem tanto quanto qualquer outra pessoa”, acrescentou.
O encontro entre Lula e Benchimol tem forte simbolismo político, uma vez que o ex-presidente havia dito, em fevereiro, que não faria sinalizações ao mercado financeiro na campanha deste ano. A reunião, no entanto, repercutiu de forma negativa entre investidores que são contrários ao modelo econômico defendido pelo esquerdista.
A economista Renata Barreto, sócia da FazCapital e CEO da Cursology, foi às redes sociais e demonstrou reprovação. Segundo ela, “esse encontro é a definição do corporativismo no Brasil, onde as empresas com boas relações com o governo são as que se dão bem”.
“Como eu previa, ninguém do mercado financeiro, que tenha relevância na internet, ninguém dos escritórios de AAI [Agente Autônomo de Investimentos] ligados à [corretora] XP se pronunciou sobre o encontro entre Benchimol e Lula”, lamentou.
Renata sugeriu que, para mudar esse cenário, “não basta termos empresários pau na mesa, que se recusem a fazer isso. Precisamos de um legislativo mais alinhado com esses valores, que possam propor a redução das burocracias, regulações, impostos e [promover] um enxugamento drástico da máquina pública”.
Após intensa repercussão, o dono da XP publicou uma nota em seu Instagram e se justificou. Segundo ele, há a expectativa de encontros “com todos os candidatos à Presidência” e que “a agenda é sempre a mesma” nesse tipo de reunião, que costuma discutir “uma economia estável, juros baixos e inflação controlada”.
“Na minha opinião, quanto mais empreendedores que acreditam no Brasil, façam as coisas certas e, acima de tudo, pensem a longo prazo, mais forte será nosso país”, diz o texto de Benchimol.