A pandemia da covid-19 atingiu o mundo inteiro e trouxe prejuízos incalculáveis para diversos setores da sociedade. Embora tenha havido uma corrida global para gerar evidências rápidas, grande parte disso se concentrou nos impactos da saúde. Ainda existem evidências limitadas sobre os possíveis efeitos socioeconômicos da pandemia e ainda menos indícios sobre as consequências desse surto na saúde das pessoas.
No Brasil, a indústria fitness foi uma categoria bastante prejudicada pelas medidas dos governos estaduais e municipais que estabeleceram os fechamentos dos estabelecimentos.
Assim como diversos setores, as academias também foram pressionadas a fecharem as portas temporariamente para evitar aglomerações e, consequentemente, a disseminação do novo coronavírus.
Com a pausa nas atividades, muitas redes de academias tiveram que diminuir rapidamente os números de funcionários ao mesmo tempo que passaram a adotar estratégias para não perderem clientes. Investimentos em novos métodos foram firmados, incluindo aulas e exercícios para serem executados em casa. Apesar disso, vale destacar que essas medidas foram aplicadas por grandes redes do setor. Enquanto isso, muitos estúdios menores faliram por completo.
No mês de junho, uma matéria do site Metrópoles abordou os impactos da pandemia no Distrito Federal. Segundo a reportagem, 40 academias fecharam e 4,5 mil pessoas foram demitidas.
Ainda de acordo com a matéria, o número de demissões poderia chegar em 5 mil.
Um dos professores de educação física afetados pela impossibilidade de trabalhar foi Iran Nakamura, de 36 anos. Ele atuava em uma grande rede do DF, mas acabou mandado embora em abril.
“Colocaram todos de férias coletivas e, pouco antes de eu voltar, recebi a ligação dizendo que estavam cortando alguns funcionários e eu era um deles”, relatou ao Metrópoles.
No Brasil inteiro
Outros estados brasileiros também foram atingidos pela pandemia da Covid-19.
As demissões em massa mostram o quão subitamente a indústria fitness virou de cabeça para baixo.
No final do mês de março, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), decretou estado de calamidade pública em SP para tentar frear avanço do coronavírus. E uma das decisões tomadas por Doria foi anunciar que academias e centros de ginástica deveriam ser fechados.
Campinas, uma das mais atingidas
A pandemia do novo coronavírus atingiu em cheio o segmento de academias de ginástica da Região Metropolitana de Campinas.
Neste mês de julho, uma reportagem do Correio Popular registrou que ao menos 145 das 414 academias que funcionam na região já encerraram suas atividades em definitivo desde o início da quarentena no Estado, no final do mês de março.
Os dados são Associação Brasileira de Academias (Acad Brasil).
Os números representam cerca de 35% das academias do município.
Mercado Fitness após a pandemia da Covid-19
Diante de todo esse cenário – cercado de tantas incertezas – parece que a única certeza para o mundo pós-pandemia é que esse retorno será marcado por mais e mais dívidas, tanto do setor público como do privado. Logo, apontar uma saída para a crise traz sérios desafios.
Com isso, surge o questionamento: como será o mercado fitness pós-pandemia?
Para responder essa e outras perguntas, o Conexão Política (CP) entrevistou Danilo Luis Peres (DLP) — profissional de Educação Física e especialista no ramo de emagrecimento.
Confira abaixo a entrevista na íntegra:
CP: No início de maio, o presidente Jair Bolsonaro assinou um novo decreto que incluiu as academias de ginástica como serviço essencial durante a expansão da pandemia do novo coronavírus no Brasil. O anúncio foi publicado dois dias depois de Bolsonaro demonstrar preocupação com a saúde da população e fazer questionamentos sobre o fechamento das academias. Além dos estabelecimentos ligados aos exercícios físicos, o presidente incluiu no decreto salões de beleza e barbearias como essenciais à população. Você concorda que esses setores são serviços essenciais?
DLP: Sim, concordo totalmente com a visão e decreto do presidente Jair Bolsonaro. Ele, inclusive, é formado na escola de educação física do exército brasileiro. Vista de fora, a academia é tida por muitos como centro de lazer. Porém, a atividade física é de extrema importância para a saúde do ser humano, e age diretamente no tratamento e até mesmo prevenção de patologias causadas pelo sedentarismo, ansiedade e muitos outros fatores. Vale aqui lembrar, que o ramo das academias é responsável pela geração de milhares de empregos pelo Brasil afora. E assim como eu, milhares de profissionais e proprietários dependem dessa renda gerada com o funcionamento dos estabelecimentos.
CP: Com a entrada do novo coronavírus no Brasil e as fortes consequências que atingiram o setor econômico, você foi atingido diretamente ou indiretamente?
DLP: Com o surto da covid-19, eu, assim como todos colegas da área, infelizmente fomos atingidos diretamente na área econômica, pois o rendimento caiu drasticamente sem a abertura das academias. Com o desemprego em massa, a procura por personal um personal caiu também.
CP: Na sua área, houve queda no seu faturamento ou demissão?
DLP: Sim, infelizmente houve uma queda enorme no faturamento – seja por parte das academias – ou por aulas avulsas como personal. Ocorreu uma onda de demissão muito grande de professores em suas respectivas áreas e muitos estabelecimentos acabaram tendo que fechar definitivamente, justamente por não ocorrer faturamento.
CP: Você fechou as portas ou conhece pessoas que tiveram que fechar suas redes devido a crise que se instalou no país?
DLP: Na academia onde presto serviço de professor atualmente, eu tenho conseguido me manter durante esse período sem funcionamento. Agora, referente a rede de academias que tiveram suas portas fechadas, sim, tenho conhecimento de alguns proprietários que não conseguiram manter o estabelecimento. Muitos realmente tiveram que fechar as portas definitivamente.
CP: Os estados e municípios já estão adotando, ainda que lentamente, o processo de reabertura da economia. A medida permite que academias voltem a funcionar, mas de modo cautelosa, seguindo as orientações estabelecidas. Como você enxerga esse processo?
DLP: As orientações vão desde as limitações de alunos nos espaços ao uso de máscaras, que são fundamentais para a abertura das academias. Eu vejo com bons olhos essa retomada, ainda que seja de maneira lenta. Agora, algo que intriga muito é a questão de limitar o horário de funcionamento das academias, pois, se oferecessem um horário de funcionamento como de costume, ou seja, sem restrição de horários (limitação), o fluxo de alunos fica espalhado dentro do dia, evitando as aglomerações tão temidas pelas autoridades de saúde.
CP: De um modo geral, como será feito esse processo de reabertura?
DLP: Como falei anteriormente, as academias terão que se adequar as medidas exigidas para a reabertura. Elas poderão funcionar com capacidade máxima de 30% de alunos no espaço, atuando 6 horas por dia, além de disponibilizar borrifadores e panos para limpeza dos equipamentos. O álcool em gel também tem sido fundamental para higienização das mãos, além de outras medidas que também foram firmadas, a exemplo da restrição do uso dos chuveiros. As aulas coletivas também estão proibidas devido aglomeração. Os funcionários, alunos e professores deverão manter uma distância de 2 metros. Algumas outras medidas podem ser tomadas por conta própria das redes de academia.
CP: As redes fitness estão sendo ‘bombardeadas’ por sugestões de especialistas, que defendem medidas que visem inovar o mercado como forma de atrair o interesse do usuário, visto que muitos dos clientes tiveram sua vida financeira completamente atingida pela pandemia. O que de positivo pode ser adotado pelas redes para que o cliente enxergue ainda mais a continuidade do serviço como algo necessário?
DLP: A prática da atividade física é saúde, mais que qualquer outra coisa. Isso é cientificamente comprovado. Executar constantemente exercício físico tem um impacto fundamental na saúde das pessoas. Infelizmente, quase de modo geral, as pessoas tendem a encaram as academias como centro estético, e esquecem do quão importante é aquele local para saúde física e mental. Baseado nisso, os próprios clientes tem essa visão do ambiente, pois estão ali dia a dia, e sentem os resultados dessa prática tão saudável e essencial para o corpo humano. Nesse período em que as academias ficaram fechadas, eu acabei encontrando alguns clientes pelas ruas, e os mesmos relataram a falta que as academias estavam fazendo, pois ainda que eles possam treinar em casa, não conseguem ter a disposição que têm dentro do ambiente da academia. Com base nesse panorama, os próprios alunos entendem a importância do funcionamento das academias para sua saúde.
CP: Com o fechamento das unidades, os clientes que optaram pela continuidade tiveram que realizar suas atividades em casa, por meio de plataformas online. Até que ponto isso pode ser utilizado num cenário pós-pandemia?
DLP: Sim, muitas academias ofertaram plataformas de treinos online para que os alunos realizassem exercícios em casa. Existem casos de pessoas que, por algum motivo, não se sintam bem no ambiente da academia, e optem por treinos personalizados em casa, seja sozinho ou com o auxílio de um personal trainer. Acredito eu, que pós pandemia, essa ferramenta continuará sendo muito utilizada pelas grandes redes de academia, a fim de oferecer melhores condições de treinos residenciais.