A revista Nature e o diário Journal of Virology (da Sociedade Americana de Microbiologia) publicaram hoje (3) dois artigos, nos quais cientistas afirmam que o novo vírus corona (2019-nCoV) está intimamente relacionado ao vírus que causa a SARS (SARSr-CoV). Eles também alertam para a possibilidade de novas mutações do coronavírus.
A epidemia, iniciada em 12 de dezembro de 2019, causou (até o fechamento da matéria) 17.496 infecções confirmadas em laboratório, com 362 casos fatais.
No artigo da Revista Nature, os cientistas do Instituto de Virologia de Wuhan, na China, descrevem sua pesquisa de identificação e caracterização do novo coronavírus (2019-nCoV) que causou uma epidemia de síndrome respiratória aguda em humanos em Wuhan, China. Eles analisaram sequências genômicas completas de 5 pacientes no estágio inicial do surto. Zhou, Yang e Guang observaram que elas são quase idênticas entre si e compartilham 79,5% de identificação de sequência com o SARS-CoV.
Além disso, verificou-se que o novo vírus corona (2019-nCoV) é 96% idêntico no nível do genoma inteiro a um coronavírus de morcego. A análise da sequência de proteínas aos pares de 7 proteínas não-estruturais conservadas mostrou que este vírus pertence à espécie de SARSr-CoV.
O vírus 2019-nCoV foi isolado do líquido de lavagem bronco-alveolar de um paciente gravemente doente, que foi neutralizado por soros de vários pacientes. Os cientistas então puderam confirmar que este novo CoV usa o mesmo receptor de entrada de células, ACE2, que o SARS-CoV.
Os cientistas afirmaram que o genoma – a composição genética completa de um organismo – do vírus encontrado em vários pacientes em Wuhan é 96% semelhante ao coronavírus encontrados em morcegos. Alguns desses vírus podem infectar pessoas e causar infecções respiratórias e pneumonia.
Segundo esses cientistas, mais de 79% do novo vírus corresponde à SARS.
No entanto, a fonte do novo coronavírus ainda não foi determinada. De acordo com o artigo, desde o surto de SARS, há 18 anos, um grande número de coronavírus relacionados à síndrome respiratória aguda grave (SARSr-CoV) foi descoberto em seu hospedeiro natural, os morcegos.
Estudos anteriores indicaram que alguns desses SARSr-CoVs têm potencial para infectar seres humanos.
No outro novo estudo do Journal of Virology, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Minnesota e da Universidade da Carolina do Norte, também analisou o potencial uso de receptores pelo novo coronavírus 2019-nCoV, com base no rico conhecimento sobre SARS-CoV (síndrome respiratória aguda grave) e a sequência lançada recentemente do novo vírus.
“O recente surgimento do 2019-nCoV coloca o mundo em alerta”, disse o autor sênior Dr. Fang Li, do Departamento de Ciências Veterinárias e Biomédicas da Universidade de Minnesota.
“2019-nCoV é uma reminiscência do surto de SARS-CoV em 2002-2003. Nossos estudos estruturais de uma década mostraram como o SARS-CoV interage com hospedeiros animais e humanos para infectá-los. A mecânica da infecção por 2019-nCoV parece ser semelhante”, afirmou Fang Li.
O Dr. Li e os coautores usaram o conhecimento obtido de várias espécies de SARS-CoV – isoladas de diferentes hospedeiros em anos diferentes – e de receptores da enzima conversora de angiotensina-2 (ACE2) de diferentes espécies animais para modelar previsões para o novo coronavírus.
Ambos os vírus usam o ACE2 para entrar na célula, mas serve normalmente como um regulador da função cardíaca.
“Nossas análises estruturais preveem com segurança que o 2019-nCoV usa o ACE2 como receptor de entrada de células que o SARS-CoV. Esse e vários outros detalhes estruturais do novo vírus são consistentes com a capacidade do novo coronavírus de infectar humanos e com alguma capacidade de transmissão entre humanos”, afirmam os pesquisadores.
“De forma alarmante, nossos dados preveem que uma única mutação – em um ponto específico do genoma – poderia melhorar significativamente a capacidade do 2019-nCoV de se ligar à ACE2 humana”.
“Por esse motivo, a evolução de 2019-nCoV em pacientes deve ser monitorada de perto para o surgimento de novas mutações na posição 501 em seu genoma e, em menor grau, na posição 494, a fim de prever a possibilidade de um surto mais grave do que foi visto até agora”, alertam os pesquisadores.