A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou, no dia 8 deste mês, que emitiu um alerta de risco em relação à possível primeira notificação no país do superfungo “Candida auris”.
“No Brasil, não havia relato de nenhum caso de infecção por ‘C. auris’, mas nesta segunda-feira, 7 de dezembro, foi notificado à Anvisa o possível primeiro caso positivo em paciente internado em UTI adulto em hospital do estado da Bahia”, disse a agência em nota.
Conhecido como “Candida auris”, o fungo emergente representa uma grave ameaça à saúde global e foi identificado pela primeira vez como causador de doença em humanos em 2009, no Japão, segundo a Reuters.
De acordo com a Anvisa, algumas cepas do fungo são resistentes a todas as três classes de remédios antifúngicos e sua identificação requer métodos laboratoriais específicos.
Uma força-tarefa nacional formada por autoridades de saúde brasileiras segue averiguando o caso na busca de prevenir a disseminação do fungo em território brasileiro.
O que se sabe sobre o ‘superfungo fatal’?
Candida auris (C. auris) é um fungo semelhante a levedura, relacionado à Candida albicans. Foi descrito pela primeira vez como um patógeno em 2009, quando isolado de um paciente com infecção no ouvido no Japão.
O fungo causa infecções invasivas com uma alta taxa de mortalidade (cerca de 57%) e causa principalmente infecções na corrente sanguínea, feridas e ouvidos. O Centers for Disease Control and Prevention (CDC) considera C. auris um patógeno emergente que é invasivo e multi-resistente a medicamentos, em contraste com outras doenças fúngicas relacionadas à Candida spp.
Além disso, C. auris está geralmente associada a surtos em ambientes de saúde, como hospitais.
Os sinais e sintomas incluem febre e calafrios durante o uso de medicação antimicrobiana, sepse, isolamento de levedura semelhante à Candida do sangue do paciente, e pouca ou nenhuma resposta do paciente ou melhora com terapia antifúngica convencional.
Podem ocorrer coma, falência de órgãos (conforme a infecção se espalha para vários órgãos) e morte se o tratamento adequado for adiado.
A preocupação sobre o assunto
Em entrevista à CNN Brasil, a infectologista Teresa Cristina Sukiennik falou sobre o tema. Ela é uma das autoras do trabalho publicado em 2019.
“As Candidas podem ser de várias espécies e são extremamente comuns no mundo inteiro, dentro e fora de hospitais. Causam doenças comuns, como sapinho na boca de bebês ou assaduras de fralda, e também doenças muito graves, como infecções na corrente sanguínea”, explicou Sukiennik.
Questionada sobre qual a diferença do Candida auris para outros fungos do gênero Candida, ela respondeu:
“A primeira delas, é a resistência aos antifúngicos, então é mais difícil de tratar”, disse.
“Essa resistência não é uma característica muito comum nesse meio dos fungos. É muito mais comum nas bactérias”, acrescentou a infectologista.
A segunda característica, segundo ela, surge justamente por causa dificuldade de conseguir eliminar o fungo dos ambientes.
“Isso é muito importante nos espaços hospitalares”, detalha a médica. “Ele causa doença em pessoas mais imunossuprimidas, criticamente doentes ou então com muitos cateteres e sondas.”
“A preocupação vem da possibilidade de surtos dentro de hospitais. Não existe uma preocupação de infecção comunitária, em escolas, entre pessoas saudáveis”, declarou.
“Essa é uma característica muito comum em algumas bactérias. E aquelas que normalmente causam surtos hospitalares são muito bem adaptadas a esse ambiente. Permanecem na água, nas superfícies, nos canos de oxigênio. A limpeza do ambiente hospitalar tem que ser muito rigorosa e, mesmo assim, muitas vezes a gente não consegue erradicar tudo”, acrescentou.
Por fim, a médica tranquilizou sobre o impacto do fungo fora dos hospitais. Mas, apesar disso, deixou o alerta para a força da bactéria dentro das redes de saúde.
“O público em geral não deve se preocupar com o Candida auris, porque ele não vai alterar em nada a vida dos cidadãos comuns fora de hospitais”, completou.
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