Desde a semana passada, tenho conversado com pessoas que participam, em maior ou menor grau, das atividades políticas em Brasília. Fiz uma pequena investigação sobre os relatos da extrema-imprensa sobre uma suposta cooptação de Bolsonaro pelo sistema podre.
Sobre essa questão, tenho uma notícia ruim e outra boa. A ruim: de fato, houve uma aproximação entre Bolsonaro e os outros poderes, especialmente em relação a Toffoli. A boa: isso não representa uma mudança de lado do presidente. É preciso entender o contexto, muito complexo.
Bolsonaro representa a busca pela mudança de um sistema completamente corrompido. O problema é que tal mudança, para ser efetiva, requer uma intervenção profunda nas instituições. Há apoio popular suficiente para ela ocorrer, mas não há meios materiais para tal desdobramento.
O garantidor de uma limpeza mais profunda do sistema seria a classe militar, que simplesmente não quer nada disso. Logo, Bolsonaro percebeu que não teria apoio para seguir tal caminho, sendo obrigado a “dançar conforme a música”, o que significa negociar com os bandidos de sempre.
Há ainda o grave problema nas contas públicas, que até o momento não foi resolvido. O país está praticamente quebrado, obrigando o governo a negociar para aprovar a Previdência. O plano inicial do establishment era usar a situação para promover o impeachment de Bolsonaro, forçando o descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Para complicar a situação, há a investigação contra Flávio Bolsonaro. O presidente está convicto de que seu filho é inocente e que foi perseguido pelo MP carioca. Toffoli aproveitou a situação para usar o caso de Fávio a seu favor, bloqueando uso do COAF e enfraquecendo a Lava Jato.
O ajuntamento de bandidos do Congresso, mais conhecido como Centrão, interpretou tal movimento como uma brecha para passar a lei pró-bandido, mais conhecida como “abuso de autoridade”, em mais um ato de total descoordenação política da bancada do PSL, liderada por um inepto.
O deputado Waldir, líder da bancada, apadrinhado pelo presidente do PSL, seguindo recomendação do general Ramos, coordenador político do Planalto, achou uma boa trocar aprovação da urgência para o abuso de autoridade pela aprovação da MP da Liberdade Econômica.
A bancada do PSL votou contra, mas a escancarada sacanagem do Rodrigo Maia em patrolar e ilegalmente concluir votação simbólica, garantiu a aprovação, largando a bomba no colo de Bolsonaro, que não aprovou tal acordo e agora terá que exercer o veto.
Tudo isso ocorre em paralelo a uma série de medidas questionáveis, como a indicação de Eduardo à embaixada americana, a troca de superintendentes da PF e a mudança no COAF. Cada situação dessas têm motivações legítimas, mas não necessariamente são medidas corretas.
Bolsonaro afirmou a interlocutores que não confia em ninguém no Itamaraty para o cargo, pois a diplomacia brasileira seria um “ninho de esquerdistas” e ele quer fazer da relação com os EUA um marco da sua presidência. Particularmente, prefiro Eduardo no Brasil.
Sobre a PF, Bolsonaro entendeu que há uma perseguição política contra ele na superintendência carioca, onde membros da sua família estariam sendo investigados sem a existência de nenhuma evidência de ilícito. Sobre o COAF, há uma crença que ele estaria mais blindado no BC.
O argumento de Bolsonaro é que ele baixou MP para deixar o COAF no Ministério da Justiça, com Moro, mas a Câmara derrubou a medida. O próprio Guedes não teria interesse de ficar com a bomba na mão e o BC é historicamente um órgão menos político, garantindo o trabalho do COAF.
Há ainda a questão da PGR, onde há o desejo de colocar no cargo um procurador que não esteja alinhado com as operações abafa usuais do órgão. Mas está muito difícil achar um nome que seja minimamente aceito pela categoria e que possa atingir esse objetivo.
A Beatriz Kicis, uma das deputadas mais íntegras do Parlamento, faz campanha para Gustavo Gonet. Segundo ela, ele tem o perfil ideal para o cargo, mas tem como “mancha” no currículo o fato de ter sido sócio de Gilmar Mendes. De qualquer forma, seria o mais alinhado.
Diferentemente do que tem sido divulgado pela extrema-imprensa, não há um estremecimento entre Bolsonaro e Moro. De fato, ele está desanimado com os últimos desdobramentos, mas não atribui a eles a ação do presidente. No momento, ele não pensa em deixar o governo.
Enfim, o que parece estar em curso é a transformação de um Bolsonaro mais combativo em um presidente negociador e mais pragmático. O mais interessante é que a extrema-imprensa exigia dele essa postura e agora o condena por assumi-la. O que a imprensa quer é a sua queda.
É interessante notar como o nível de desconfiança em relação a Bolsonaro aumenta conforme há maior distância entre ele e quem emite a opinião. Pessoas do seu círculo mais íntimo seguem muito confiantes na sua lisura, aqueles mais distantes começam a desconfiar.
O fato é que a mudança mais profunda almejada por pessoas como eu não irá acontecer. Nesse sentido, o sistema venceu. Por outro lado, ainda temos um presidente comprometido com o país, dentro das suas claras limitações e com todos os desafios colocados.
Nesse momento, o mais importante é a campanha pelo veto ao abuso da autoridade, que pode ser parcial, desde que volumoso e por um nome na PGR que represente um desafio ao sistema, além do Lava Toga e o impeachment de ministros do STF que rasgam a constituição.
O establishment podre continuará a utilizar todos os meios que estiverem à sua disposição para acabar com a Lava Jato e impedir qualquer novo avanço na limpeza do país. Cabe a nós fazer pressão contra o movimento por todos os meios possíveis. Como a manifestação de domingo.