O ex-secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno, concedeu entrevista à BBC News Brasil.
Demitido por Bolsonaro em fevereiro, ele conta que pretende voltar a advogar em breve.
O ex-ministro também confessou que flerta com a possibilidade de disputar a prefeitura do Rio de Janeiro em 2020.
“Há conversas em curso, mas eu tenho muito cuidado porque eu tinha abraçado com muita veemência a bandeira [Bolsonaro] na última eleição. Não me sinto hoje confortável pra me vincular a ninguém”, declarou.
Questionado acerca do papel do ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) no governo federal, Bebianno respondeu:
“O Moro caiu numa armadilha do destino. Eu no lugar dele teria um enorme arrependimento de ter abandonado a minha carreira de magistrado. Agora ele tem três caminhos: ou vai ser indicado para o Supremo, que era uma coisa dada como certa que já não é mais, ou ele se lança na política, ou ele vai viver de dar palestras.
Ele jogou fora uma carreira acreditando em um projeto que já não sei se ele acredita mais. Olhando de fora acho que ele não acredita, mas se mantém ali porque caiu nessa armadilha. Não tem muito o que fazer, porque para a vaga no Supremo ele depende do Presidente, então não pode romper com o presidente. Para carreira política é algo muito incerto e distante, e dar palestras acho que seria a última escolha dele. O que resta é ele ir levando.”
Sobre o ministro Paulo Guedes, o advogado fez a seguinte colocação:
“Ele [Bolsonaro] aposta que vai manter viva essa popularidade ao longo de três anos e meio, está acostumado a bater nos outros, como pode manter essa posição sendo que hoje ele é a vidraça? Então, ele tem muita sorte porque o Paulo Guedes desceu de paraquedas nesse projeto dele. Paulo Guedes não foi uma pessoa que foi capturada por ele, não foi uma escolha dele ‘eu quero alguém com o perfil do Paulo Guedes, então eu vou procurar’ ou ‘eu quero o Paulo Guedes’. Não foi isso o que aconteceu.
O que aconteceu é que, até por falta de opção, o Paulo Guedes foi o nome que apareceu. Ele percebeu num dado momento que o nome do Paulo Guedes respaldava a candidatura dele perante um eleitorado que ele não teria, só teve porque o Paulo Guedes estava engajado na campanha. Se o Paulo Guedes tivesse se desvinculado da campanha, provavelmente ele não teria ganhado a eleição.
Então, hoje, eu enxergo que há dois governos. Existe um governo do Paulo Guedes, que tenta realizar, e existe o governo do Jair Bolsonaro, que é isso aí que a gente vai ver até o final, esses embates, essas coisas, que enquanto parlamentar ele sobreviveu e ascendeu com essa estratégia. No Executivo, me parece que essa estratégia por si só não vai ser vitoriosa. Ele depende fundamentalmente do Paulo Guedes pra realizar, sem o Paulo Guedes ele não vai realizar nada.”
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