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Imagine que você frequentará um lugar com algumas proibições, coisas banais do tipo: não fume, não entre sem camisa, desligue o celular, etc. Bom, isso é um contexto bastante familiar para quem tem uma vida social. Agora imagine que essas restrições passem a ser de ordem ideológica e não estejam expressas em nenhum enunciado visível mas que seja uma espécie de “convenção” daquele ambiente. Até ai tudo bem, não vou propor um debate sobre Robert Nisbet no DCE de uma Universidade Federal fedendo a urina de esquerdistas… vá lá, dá pra relevar… bom senso, embora ai eu já identifique um problema, mas passamos. Agora imagine que de uma hora pra outra, comece haver um movimento para que todo o universo esteja envolto nesse tipo de convenção, contaminando até mesmo as rodas de boteco, as reuniões em família, universidades -onde supõe-se serem centros de debates e busca pelo conhecimento- clubes, peças de teatro, stand up’s, conversas de mesa no Habibs enfim… E então o mundo todo passa a ser o grande palco onde o violador da regra sacra será exposto e humilhado em praça pública aos xingos e demais aviltes. Hashtags serão levantadas, vida exposta. “Procura-se homem acusado de ser sincero”, ativistas e pelegos editando novas leis sobre quais piadas são permitidas, juízes sensíveis a opinião pública julgando a legalidade de uma anedota e Danilo Gentilli encabeçando a lista dos terroristas mais procurados. Chato né?
De certo modo isso é o politicamente correto.
O politicamente correto é uma censura velada adornada por uma justificativa que invoca certa consciência social, uma espécie de “censura pelo bem da humanidade”. É aquela típica coisa oca inventada por esquerdistas afim de tentar fazer belo o demônio, jogo de linguagem, eufemismo, apenas… mas essa censura prévia tem funcionado, pois esse é um tipo de censura que lhe impõem e você nem percebe; e isso é preocupante.
O policiamento das opiniões tem contido as pessoas e desestimulado o exercício da liberdade de expressão mesmo em ambientes onde este se faz necessário. É como se uma ordem natural de coisas tivesse limitado o uso da palavra. Não é preciso dizer que isso tem efeitos funestos nas relações sociais; relações que passam a ser cada vez mais tomadas pela superficialidade em detrimento da intimidade e da profundidade.
Importante frisar que a censura no politicamente correto é, a princípio, auto imposta, pois cada vez que nos retemos estamos censurando nosso próprio eu, e é justamente essa tortura psicológica, esse domínio psicológico sobre as pessoas, que os colonizadores mentais desejam obter; alienando, limitando e controlando as pessoas com uma espécie de proibição prévia que na verdade não existe, mas presume-se em vigor pelo “andar das coisas”, ordem esta que é disseminada por esses patrulheiros e inoculada nas pessoas através dos costumes e pelo medo da reação que esse ou aquele posicionamento pode desencadear.
É um fato curioso se pensarmos que uma ideologia que tanto atacou o senso comum e suas convenções em nome da liberdade, alegando que a transgressão à elas era um rumo para o progresso, manifestando isso na arte, na filosofia… agora tenta ditar os costumes com base numa convenção que restringe a maior das liberdades: a de pensamento.
Creio que se desejamos manter uma ordem sadia de coisas, não podemos nos deixar vencer pela “praga PC”* e o modo de fazermos isso é muito simples: transgredindo-a. Como? mantendo a naturalidade, a nossa originalidade; pois cada ser humano é um só, com suas diferenças, vícios e virtudes. A igualdade de pensamento a qual almejam esses totalitários peace and love é tanto ridícula quanto inatingível (assim como suas teorias econômicas) não devendo ser levada a sério a ponto de deixarmos que se afigure exitosa, ainda que só aparentemente. Portanto, acredito que a saída seja dar a cara a tapa, pois antes que o mundo vire uma grande convenção partidária do PSOL, ele há de ser uma grande roda de boteco!
Praga do politicamente correto, termo abordado por Luis Felipe Pondé em seu brilhante ensaio “Guia politicamente incorreto da Filosofia”.