– Meu filho, eu estou com medo!
Disse-me o meu pai, após 4 longos anos em uma cama hospitalar instalada em seu quarto, tendo ao seu lado, minha mãe, com Alzheimer, aquela que lhe fora a companheira de toda vida.
– Não há o que temer, meu pai! – disse-lhe confiante. Estou aqui ao teu lado, completei enquanto dava-lhe uma mão e lhe acariciava os cabelos com a outra.
Recordei-lhe boas histórias, de gestos bondosos e de suas ações como profissional e cristão, dos exemplos e dos ensinamentos aos seus três filhos, de sua honrada e honrosa trajetória.
– Eu errei! – disse-me em tom de aflição.
– Sem dúvida o saldo é muito mais positivo! – repliquei.
Já era madrugada quando se acalmou. As minhas orações e melhores pensamentos, embora silenciosos naquele momento, eram voltados apenas para ele.
Ter medo faz parte do percurso, por desconhecer o que virá pela frente, por acreditar não se achar pronto para o próximo passo e reconhecer em si a fragilidade humana.
Mas, com ele, também aprendi que é preciso seguir adiante, enfrentar a si mesmo, sendo este o segredo da vida, em todas as dimensões, seja familiar, profissional ou espiritual.
“O que faz a perda não é a concorrência, é a incompetência!”, dizia-me, mostrando que a disputa sempre foi e sempre será conosco mesmos. Que precisamos estar sempre prontos para enfrentar as adversidades e que não há nenhum demérito quando derrotados de forma justa. Se assim for, então, será preciso reconhecer que necessitamos envidar mais esforços e nos prepararmos melhor para o próximo desafio.
E ter fé, crer no Criador, como ele sempre demonstrou, nos dá forças e coragem para o enfreamento, pois sabemos que jamais estaremos sozinhos ao longo da caminhada. Ora e labora! É preciso ter paciência, determinação e fé para vencermos os obstáculos, assim como a sabedoria para as escolhas de que caminhos seguir.
Alma serenada, ânimo renovado, em pouco tempo nasceu um novo dia. A luz e o calor do sol penetraram no quarto. Ele chamou por mim, mais uma vez. Liguei a televisão, a Santa Missa estava por começar. Contritos, a acompanhamos. Seguiu-se um novo dia, com suas pequenas batalhas a enfrentar, a vencer, sobretudo contra nós mesmos, para que possamos cuidar do outro, dos nossos e das nossas obrigações.
E sempre e por tudo dizendo: – Obrigado Senhor!