Na última terça-feira (7), uma foto publicada por uma adolescente repercutiu nas redes sociais.
Na ocasião, Maria Clara Sahdo Cetraro, de 16 anos, fez um post no Twitter em que aparece vestida com um blazer preto, uma camisa do Palmeiras e um papel escrito “presidente”, fazendo alusão a Jair Bolsonaro.
Imagem: Reprodução | Twitter
De acordo a jovem, que estuda em uma instituição particular de Manaus/AM, tratava-se apenas de um trabalho escolar corriqueiro em que os alunos precisavam interpretar figuras políticas das mais variadas correntes ideológicas.
Cada aluno tinha liberdade para argumentar sobre o tema do debate: o projeto “Escola Sem Partido”, proposta que visa coibir doutrinação ideológica nas escolas através da fixação de cartazes em salas de aula.
Coube a Maria o papel de representar a direita e o presidente Jair Bolsonaro.
Na legenda, a adolescente fez questão de deixar claro que é fã incondicional do chefe do Executivo.
Imagem: Reprodução | Twitter
Inicialmente, porém, a publicação de Maria foi repercutida de maneira negativa pela ‘lacrosfera’ do Twitter, que rapidamente tratou de inundar a foto da garota com deboches, ofensas e xingamentos.
O linchamento virtual e a intolerância política que a garota sofreu por parte da esquerda estenderam-se por algumas horas, mas não desestabilizaram a jovem, que tratou de levar tudo na esportiva.
Imagem: Reprodução | Twitter
Imagem: Reprodução | Twitter
O que ninguém esperava é que a publicação da garota – que até então sofria ataques – chegaria ao presidente da República.
Bolsonaro fez questão de deixar um ‘tweet especial’ para Maria Clara.
Imagem: Reprodução | Twitter
Desinibida e inteligente, Maria Sahdo conversou com a equipe do Conexão Política e concedeu uma breve entrevista.
Para a jovem, apesar de ter sido duramente criticada e até virado “meme”, o saldo foi positivo após ter sido notada pelo presidente e por representantes da direita.
Imagem: Arquivo Pessoal
CP: Maria, seu post repercutiu bastante e foi coroado com a menção do presidente Bolsonaro. Gostaríamos de saber como surgiu seu interesse pela política.
MARIA SAHDO: Eu nunca fui de me interessar por política, mas eu sempre conversei bastante com meus pais sobre o assunto. Porém, no ano passado, quando começou a época das eleições, eu comecei a me interessar bastante e estudei bastante sobre as propostas e as correntes [ideológicas], direita, esquerda, centro, tudo mesmo. Eu ia filtrando aquilo que era de acordo com os meus preceitos, com as coisas que eu acreditava e pela forma que eu fui criada. Eu cheguei à conclusão que eu simpatizava mais com o Bolsonaro. A partir daí eu fui construindo melhor a minha opinião política.
CP: Como você conheceu o presidente?
MARIA SAHDO: Sinceramente? Eu não sei exatamente em qual momento da minha vida eu conheci o Bolsonaro, mas eu me lembro de comentarem bastante sobre ele quando o Trump [presidente dos Estados Unidos] foi eleito.
CP: Como funciona essa questão ideológica na sua casa? Os seus pais também são interessados por política?
MARIA SAHDO: Existe, sim, uma corrente ideológica na minha família. Meus pais sempre foram de direita, mas eles não tinham o Bolsonaro como candidato. Como eu estava bastante engajada no assunto, eu comecei a conversar com eles. Mostrei os lados bons do Bolsonaro. Mostrei que nem tudo é exatamente aquilo que é publicado pela mídia. Mostrei que tem muita coisa que precisa ser interpretada. Eu conversei bastante com eles. Hoje, posso dizer que eu fui uma ponte para que meus pais se convencessem a votar no Bolsonaro.
CP: Vamos falar sobre o contexto da foto. Do que se tratava aquela situação?
MARIA SAHDO: A professora de redação queria fazer um debate na sala. Ela ia separar os alunos de acordo com as correntes políticas. Ela pediu para que fossemos vestidos a caráter. Cada aluno escolheu o seu personagem. A sala inteira já sabe que eu sou uma das pessoas que mais apoiam o Bolsonaro, então foi a primeira coisa que veio na minha cabeça. Eu me vesti de homem, coloquei uma camisa do Palmeiras, um blazer por cima e foi assim que aconteceu.
Imagem: Arquivo Pessoal
CP: Após a publicação da foto você recebeu alguns comentários ofensivos. Conte-nos sobre essa situação.
MARIA SAHDO: Eu publiquei a foto na última terça-feira (7). Eu tinha cerca de 60 seguidores apenas, que eram os meus amigos, os que sabiam das minhas opiniões políticas. O meu Twitter, porém, não era privado, então eu comecei a receber comentários negativos de pessoas que eu nem conhecia. Isso foi tomando uma gigantesca proporção. Na quinta-feira (9) de manhã, [a publicação] já tinha 100 mil visualizações.
CP: E qual foi o seu sentimento após sofrer ataques, ofensas e xingamentos?
MARIA SAHDO: Eu nunca fui uma pessoa de me importar com a opinião alheia. Eu sou bastante segura dos meus ideais. Quando eu comecei a ser atacada, eu percebi que eu tinha virado um “meme”, então eu dei risada, mas foi uma risada irônica, porque eu realmente não estava acreditando que eu estava sofrendo tudo aquilo apenas por ter expressado a minha opinião. Eu não ataquei ninguém e nem citei nomes, apenas expressei uma opinião. Não foi algo que me afetou, mas eu fico pensando se aquilo tivesse acontecido com alguém que tem depressão ou qualquer outro problema psicológico, será que aquela pessoa saberia lidar com a situação da mesma maneira que eu?
CP: E quanto ao tweet do presidente, dedicado a você, como você descobriu? O que você sentiu?
MARIA SAHDO: Foi um susto muito grande! Eu tinha comentado com o meu pai que vinha sofrendo ataques e ele me disse: “isso vai chegar ao Bolsonaro”. Eu levei na brincadeira, pois nunca imaginava que aquilo teria maiores proporções. Na quinta-feira (9), o cartunista André Guedes retuitou a minha publicação. A partir dali, grande parte da direita no Twitter começou a me defender e a se empenhar que aquilo chegasse ao Bolsonaro. Na sexta-feira (10) à tarde eu recebi um WhatsApp de uma amiga, depois disso uma outra amiga me ligou e começou a gritar no telefone, super feliz por mim. Eu não estava acreditando, então fui entrar no meu Twitter e, quando vi, entrei em choque. Na hora, comecei a chorar muito, pois fiquei muito emocionada. Até agora a ficha não caiu. O presidente do Brasil, do meu país, com 209 milhões de pessoas. Ele me chamou pelo nome e me agradeceu pela homenagem. Realmente, é absurdamente gratificante. Eu não tenho palavras para expressar o quanto sou grata por esse momento.
CP: Qual avaliação que você faz de tudo isso?
MARIA SAHDO: Eu acho que toda ação tem uma reação. Tudo o que a gente faz, sempre vai ter uma consequência. No meu caso, a consequência ruim foram as coisas que disseram a meu respeito. Mas todas as coisas negativas que eu ouvi se anulam com os elogios que recebi e, é claro, com o tweet do Bolsonaro.