
O Instituto Nacional de Câncer (Inca), um dos principais centros de referência em tratamento oncológico no Brasil, enfrenta desde janeiro deste ano uma grave crise de abastecimento de medicamentos e insumos básicos, com reflexos diretos nos pacientes e na qualidade do atendimento. Profissionais de saúde e familiares denunciam que a escassez de remédios essenciais tem causado atrasos nas altas hospitalares, dificultando a liberação de leitos e, em alguns casos, colocando em risco a saúde de quem luta contra o câncer.
Entre os medicamentos em falta estão a morfina, fentanil e baclofeno, fundamentais no controle da dor, além de antibióticos, insulina e outros itens essenciais para o tratamento de complicações. A ausência de lactulose e loperamida agrava os riscos de complicações intestinais. O quadro é ainda mais preocupante devido à falta de materiais básicos, como luvas cirúrgicas, cateteres e esparadrapos, que afetam diretamente os procedimentos e cuidados aos pacientes. A falta de cateter venoso central, por exemplo, compromete o suporte a pacientes em estado crítico.
Em uma ampla reportagem sobre o caso, o jornal O Globo cita casos de famílias de pacientes que têm sido forçadas a arcar com custos extras para garantir medicamentos e insumos necessários.
O diretor-geral do Inca, Roberto de Almeida Gil, negou que o instituto esteja enfrentando uma crise, mas reconheceu as dificuldades no abastecimento. Segundo ele, a escassez de alguns medicamentos ocorre porque, quando o Inca tenta adquiri-los, os fornecedores, que preferem vender em grandes volumes para estados e municípios, muitas vezes não se interessam em negociar com a instituição.
“Alguns desses medicamentos fazem parte de grandes programas do SUS e são comprados em escala pelos governos (estaduais e municipais). Quando tentamos adquiri-los para o Inca, que compra em menor volume, às vezes não há interesse dos fornecedores, e a licitação dá ‘deserta’”, alegou.
Gil também apontou entraves burocráticos que dificultam a reposição rápida de medicamentos e insumos. “Somos obrigados, por lei, a reapresentar o processo quando uma licitação dá ‘deserta’ e tentar a mesma compra pelo mesmo valor. Se não conseguimos, fazemos compras emergenciais, mas isso não pode ser regra”, afirmou ao jornal O Globo.
Em relação ao orçamento, o Inca recebeu uma verba de R$ 469 milhões para 2025, sendo R$ 184 milhões destinados à compra de medicamentos e insumos. Esse valor representa um aumento em relação a 2024, quando o hospital gastou R$ 160 milhões.
Gil pontuou que, apesar do aumento no orçamento, o Inca ainda enfrenta revés orçamentários. “Sempre teremos desafios orçamentários e decisões difíceis a tomar. Precisamos pensar no conjunto de pacientes e na essencialidade dos medicamentos. Não podemos escolher o ótimo, mas o bom”.
Em nota, o Inca afirmou que mantém seu fluxo de atendimento regular, apesar da falta pontual de alguns medicamentos. O Ministério da Saúde, por sua vez, informou que cabe ao Inca gerenciar as compras de insumos e medicamentos, conforme planejamento técnico.
O instituto explicou que a baixa demanda de compras por parte do Inca não atrai fornecedores, que preferem negociar com os governos estaduais e municipais, e que fatores externos, como a alta dos custos e a saída de fornecedores do mercado, contribuem para o desabastecimento.
O Inca também listou que medicamentos em falta estão sendo substituídos por outros equivalentes e que os estoques estão sendo regularizados.