A Polícia Federal intimou nesta quarta-feira (21) Eduardo Tagliaferro, ex-chefe da AEED (Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação) do TSE, para prestar depoimento sobre os vazamentos de mensagens divulgadas pelo jornal Folha de S. Paulo que sugerem ações extraoficiais do ministro do STF Alexandre de Moraes.
O depoimento está agendado para as 11h de quinta-feira (22) na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo. A esposa de Tagliaferro também foi convocada para depor, às 14h30, conforme informações obtidas pelo Poder360 com fontes próximas à investigação.
A pedido de Moraes, a PF instaurou um inquérito para investigar o vazamento das mensagens publicadas pela Folha. O caso está sob a jurisdição do STF, com relatoria do próprio ministro Alexandre de Moraes, e está sendo conduzido pela DIP (Diretoria de Inteligência Policial), na sede da Polícia Federal em Brasília.
A reportagem entrou em contato com Eduardo Tagliaferro para questionar se ele gostaria de comentar sobre o depoimento à PF. Ele informou que ainda não contratou um advogado.
Mensagens
As mensagens e arquivos divulgados pela Folha foram trocados entre Moraes, seus assessores e outros membros de sua equipe via WhatsApp, como o juiz e assessor do ministro Airton Vieira e o perito criminal Eduardo Tagliaferro, que atuava no TSE até ser preso por violência doméstica contra sua esposa. Os registros indicam que o gabinete do ministro solicitou, pelo menos 20 vezes, a produção de relatórios de maneira não oficial.
Contudo, os casos aos quais o jornal teve acesso não incluíam a informação oficial de que a produção do relatório foi feita a pedido do ministro ou de seu gabinete, mas sim por um juiz auxiliar do TSE ou através de denúncia anônima. Esses documentos eram posteriormente utilizados para fundamentar ações criminais contra apoiadores de Bolsonaro.
Segundo a Folha, 2 dos relatórios foram elaborados contra o jornalista Rodrigo Constantino e o ex-apresentador da Jovem Pan Paulo Figueiredo – ambos defensores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Quem mandou isso aí, exatamente agora, foi o ministro e mandou dizendo: ‘Vocês querem que eu faça o laudo?’. Ele tá assim, ele cismou com isso aí. Como ele está esses dias sem sessão, ele está com tempo para ficar procurando”, disse Airton Vieira a Tagliaferro em 28 de dezembro de 2022. “É melhor por [as postagens], alterar mais uma vez, aí satisfaz sua excelência”, disse.
O assessor do TSE respondeu então que alteraria o documento. “Concordo com você, Eduardo [Tagliaferro]. Se for ficar procurando [postagens], vai encontrar, evidente. Mas como você disse, o que já tem é suficiente. Mas não adianta, ele [Moraes] cismou. Quando ele cisma, é uma tragédia”, afirmou o juiz.
Em 1º de janeiro de 2023, Airton enviou duas cópias de decisões de Moraes relacionadas ao inquérito das fake news, que ordenaram a quebra de sigilo bancário, o cancelamento de passaporte e o bloqueio de redes sociais de Constantino e Figueiredo. No início da decisão, consta que “trata-se de um ofício encaminhado pela Assessoria Especial de Desinformação Núcleo de Inteligência do Tribunal Superior Eleitoral”.
Anteriormente, em 22 de novembro de 2022, Moraes havia enviado outra publicação de Constantino e solicitado a análise das mensagens. Airton recomendou o bloqueio e multa pelo STF e pediu para Tagliaferro “caprichar” no relatório. O documento, por sua vez, indicava que as informações foram obtidas através de um sistema de alertas do Tribunal. Mais tarde, a equipe expressou preocupação com o modus operandi da denúncia.