Em 2020, durante as últimas eleições municipais no Brasil, houve um aumento expressivo na violência política, com uma alta de 196% nas ocorrências de assassinatos e atentados nas primeiras semanas do calendário oficial daquele pleito. Ao menos 45 casos foram contabilizados como violência política, incluindo assassinatos, agressões, atentados e ofensas.
Os dados, do relatório “Violência Política e Eleitoral no Brasil”, produzido pela iniciativa Terra de Direitos e Justiça Global, dizem que foram registrados 13 assassinatos e 14 atentados entre 1º de janeiro e 1º de setembro de 2020. Já entre 2 de setembro e 29 de novembro, foram contabilizados 14 assassinatos e 66 atentados contra candidatos e candidatas a prefeituras e câmaras de vereadores de diversas siglas partidárias.
Esses números colidem com uma projeção feita pelo jornal O Estado de São Paulo, que apontou cerca de 76 assassinatos políticos em 2020. Os Estados com mais casos de mortes políticas foram Rio de Janeiro (26 casos), Pará (8), São Paulo (6) e Alagoas (5).
O relatório “Violência Política e Eleitoral no Brasil” também mostrou que entre os partidos houve registro de dois óbitos no PTB, no PP e no DEM. Patriota, MDB, PL, PT, PSC, Solidariedade e PTC tiveram um caso cada. Entre as vítimas dos mais de 60 atentados estavam 59 candidatos e 7 candidatas das legendas PL, Cidadania, PDT, PSDB, Podemos, DEM, Republicanos, MDB, PSL, PT, PSC, PSB e PSD.
Na fronteira
Casos de assassinatos envolvendo postulantes ou políticos com mandatos ocorreram de diversas formas, como o caso do vereador Farid Afif (DEM), executado em outubro de 2021, menos de um ano após ter sido eleito em Ponta Porã, cidade sul-mato-grossense, onde também foi morto. O município faz fronteira com a cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero. Na época, as autoridades policiais informaram que o parlamentar estava sendo monitorado por criminosos nas redes sociais, o que chocou ainda mais pela alta tática de espionagem para matar o vereador de uma cidade tão conhecida e estratégica do ponto de vista geográfico.
Farid fez ao menos três postagens no Facebook e outras no Instagram no dia do crime, conforme informações fornecidas ao portal G1, da TV Globo. Dessa forma, os assassinos sabiam onde ele estava, o perseguiram e o executaram com uma pistola calibre .45. No dia do crime, o vereador entrou em uma loja para se abrigar após o início do tiroteio. As possíveis testemunhas, ao ouvirem os disparos, também se abrigaram, o que comprometeu o testemunho ocular do crime.
Pouco depois, em dezembro de 2021, um ex-secretário de Saúde foi o segundo vereador morto a tiros na fronteira, evidenciando a violência na região fronteiriça. A vítima foi Hugo Leonardo da Silva Gonçalves (MDB), 38 anos, vereador de Paranhos, cidade a 462 km de Campo Grande e próxima à fronteira com o Paraguai. Seu corpo foi encontrado em uma lavoura ao lado de uma estrada vicinal que dá acesso a Paranhos e a cidade paraguaia vizinha, Ypejhú. O carro do vereador estava crivado de balas e tombado.
Em fevereiro deste ano, portais locais, como Campo Grande News e MídiaMax, noticiaram que o presidente da Câmara de Ponta Porã, Agnaldo Pereira Lima, conhecido como “Miudinho”, do PSDB, e aliado do prefeito Eduardo Campos, também do PSDB, foi chamado para depor no inquérito sobre o assassinato do vereador Farid Afif. No entanto, a imprensa não divulgou detalhes sobre o motivo da convocação, se como testemunha ou por indícios de participação no crime. A oitiva ocorreu na DHPP (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio e de Proteção à Pessoa), em Campo Grande.
No Rio de Janeiro
Um levantamento do Grupo de Investigação Eleitoral (Giel) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), realizado entre fevereiro de 2020 e outubro de 2021, apontou que o Rio de Janeiro registrou 19 execuções de políticos, incluindo pré-candidatos, vereadores, ex-vereadores e assessores parlamentares.
Uma das vítimas foi o vereador Alexsandro Silva Faria, conhecido como Sandro do Sindicato (Solidariedade). Ele dirigia uma van quando foi cercado por homens armados e executado com tiros de fuzil. O vereador era montador de estruturas metálicas e foi eleito para o primeiro mandato na Câmara Municipal de Duque de Caxias com 3.247 votos.
Outro caso foi o do vereador Joaquim José Santos Alexandre, conhecido como Quinzé, de 66 anos, também de Duque de Caxias, que foi assassinado. Danilo Francisco da Silva (MDB), vereador conhecido como Danilo do Mercado, e seu filho, Gabriel da Silva, de 25 anos, também foram mortos.
2024 sob alerta
Neste ano eleitoral, que marca mais uma eleição municipal em todo o país, três pré-candidatos a vereador foram assassinados em menos de duas semanas no estado do Ceará. Entre 28 de abril e 9 de maio, os crimes ocorreram nas cidades de Camocim, Crato e Icó. Duas das vítimas já ocupavam o cargo quando foram assassinadas, e a terceira tinha histórico de atuação política, figurando como pré-candidata para este ano.
O primeiro crime foi contra o vereador Cesar Araújo Veras (PSB), de 51 anos, no município de Camocim, situado no litoral oeste a 357 km de Fortaleza. O parlamentar foi esfaqueado por um garçom em um restaurante no dia 28 de abril. Ele não resistiu aos ferimentos no pescoço. Formado em administração, casado e pai de três filhos, César Veras tinha uma carreira política consolidada em Camocim, estando em seu quarto mandato como vereador.
O segundo crime aconteceu contra o ex-policial e vereador em exercício Erasmo Morais (PL), assassinado a tiros de fuzil na manhã do dia 7 de maio, no Crato, na Região do Cariri, a 508 km da capital cearense. O homicídio aconteceu por volta das 11h, no Bairro Mirandão, perto da residência do vereador. Testemunhas relataram à polícia que dois homens em uma picape branca realizaram os disparos. Erasmo levou mais de 10 tiros. A equipe de peritos encontrou 47 cápsulas (36 de fuzil e 11 de pistola) no local. A vítima estava como suplente e era pré-candidato para as eleições deste ano no Crato. Até agora, ninguém foi preso pelo crime.
O terceiro crime ocorreu na cidade de Icó, a 375 km de Fortaleza, no dia 9 de maio. A vítima foi Geilson Pereira Lima, sargento da Polícia Militar e pré-candidato a vereador pelo PL. O homicídio ocorreu dentro de um frigorífico e foi capturado por câmeras de segurança. Conhecido como Sargento Geilson, a vítima tinha 49 anos e já foi secretário de Segurança Pública e Cidadania de Icó, sendo exonerado em 2021.
Em 2022, Sargento Geilson esteve como candidato a deputado estadual pelo Partido Liberal (PL), sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro. No ano passado, ele foi afastado da Polícia Militar pela Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) após publicações nas redes sociais criticando a gestão municipal de Icó.
Nas imagens, é possível ver quatro homens conversando no frigorífico, quando um quinto homem chega, usando um capacete, e conversa brevemente com os outros. Ele se aproxima de uma porta do estabelecimento, saca uma arma e atira contra o sargento. Em seguida, um segundo criminoso, também de capacete, entra e continua os disparos. Três das quatro testemunhas saem do local durante o crime.
Proteção policial a candidatos
Durante as eleições municipais, a segurança dos políticos é garantida por esquemas policiais estratégicos em cada região. A Polícia Federal é responsável por investigar e combater crimes eleitorais de maior gravidade, especialmente aqueles envolvendo candidatos ou partidos.
As Polícias Civil e Militar atuam na proteção de candidatos e eleitores. A presença de agentes pode ser solicitada por partidos políticos e lideranças. Em algumas cidades, a Guarda Municipal também colabora com as forças estaduais e federais.