A Coreia do Norte é o país mais fechado do mundo. Vivendo sob um regime socialista instaurado após a Segunda Guerra Mundial, esta nação como conhecemos hoje teve como seu fundador e primeiro líder um homem chamado Kim Il-Sung. Governando por décadas com mão de ferro, sua história e legado são controversos, com muitas versões sobre sua própria história.
Isso se deve ao fato da imprensa e das narrativas serem controladas pelo aparato estatal norte-coreano. Para muitos especialistas em Coreia do Norte, no entanto, existe um consenso de que boa parte do que é contado no país é fruto de invenções que pretendem criar uma imagem heróica ao líder.
Seja como for, hoje iremos conhecer a biografia deste homem – a partir de relatos do próprio governo norte-coreano e informações oriundas de países rivais, como Estados Unidos e a própria Coreia do Sul.
Kim Il-Sung: antecedentes e início da vida
Sabe-se que Kim nasceu em 15 de abril de 1912, em um vilarejo no território correspondente a atual Pyongyang, capital da Coreia do Norte. Seu pai era Kim Hyong-jik, e sua mãe, Kang Pan-sok que batizaram o filho com o nome de Kim Sŏng-ju. Os relatos sobre seus antepassados e primeiros anos de vida são obscuros, mas sabe-se que ele veio de uma família de classe médica, presbiteriana praticante.
Segundo a imprensa oficial do país, Sung teria vindo de uma linhagem de líderes patrióticos. Seu bisavô (cujo nome seria Kim Ung U), teria liderado uma revolta contra um navio americano, o General Sherman, em 1866. O navio teria invadido águas coreanas para saquear riquezas, e o movimento popular teria o objetivo de manter a soberania da nação.
Já seu pai, também teria sido uma liderança popular, famoso por promover agitações contra a ocupação japonesa na Coreia a partir de 1910. Ele teria sido preso diversas vezes por autoridades japonesas, e morrido em decorrência das torturas que sofreu na prisão.
Portanto, Kim Il-Sung nasceu em uma coreia ocupada pelos japoneses, que governavam de forma autoritária, explorando os recursos e a população coreana. Os invasores adotaram uma política de apagamento da cultura e identidade locais, proibindo o ensino de aulas de coreano, o uso da língua coreana e a substituição de nomes nacionais por nomes japoneses.
Primeiras atividades
Sua militância começou aos 22 anos, em 1926, quando fundou a “União Abaixo ao Imperialismo”. Nesta época, ele cursou a Academia Militar de Whasung, abandonando os estudos no ano seguinte, por considerar o ensino obsoleto. Imigrou então para a China, onde estudou na escola Yuwen e formou-se em 1930. Foi neste período que teve os primeiros contatos e interessou-se pela ideologia do comunismo.
Em 1931, Kim se filiou ao Partido Comunista Chinês, tendo participado de atividades anti-japonesas. Em 1935, no contexto da Guerra Civil Chinesa, alistou-se no Exército do Norte, onde conheceu o homem que seria seu mentor intelectual, Wei Zhengmin.
Aqui, os relatos existentes são os da própria propaganda norte-coreana. No mesmo ano que se juntou ao exército chinês, ele teria adotado o nome de Kim Il-Sung, que significa “torne-se o sol”. Nos próximos dois anos, galgou postos até assumir o comando de uma divisão com algumas centenas de homens. Participou de pequenas batalhas, mas saiu vitorioso em momentos de dificuldade para seu exército.
Em 1940, no contexto da Segunda Guerra Mundial e da ocupação japonesa na China, Kim foi duramente perseguido e precisou fugir para a União Soviética. Lá recebeu treinamento militar e combateu ao lado dos soviéticos até o final da guerra.
Líder da Coreia do Norte
Com a derrota japonesa para os Aliados, em 1945, a península coreana foi dividida em duas zonas de influência: o norte para os soviéticos, e o sul para os norte-americanos. A partir deste processo de ocupação, teremos o nascimento das duas Coreias. A Coreia do Sul, capitalista, e a Coreia do Norte, comunista.
Sob controle soviético, o líder Joseph Stalin enviou Lavrentiy Beria para a região a fim de definir o processo de implementação de um estado comunista. Beria então recomendou que Kim Il-Sung fosse colocado como líder do novo país, o que foi aceito.
Ele retornou à Coreia em setembro de 1945 e, com apoio incondicional da União Soviética, foi empossado como líder inquestionável em fevereiro de 1946.
Em 1948, como forma de consolidar seu poder e garantir a defesa do território, Kim criou o Exército Popular da Coreia. Os soviéticos passaram a fornecer enormes quantidades de equipamentos, armamentos e veículos militares, além de treinamento para as tropas.
Neste período, a ONU tinha como objetivo realizar eleições em toda a península coreana para definir um único líder e unificar os dois territórios. No entanto, nenhuma das duas Coreias tinha o interesse de se submeter a outra.
A Guerra da Coreia (1950 – 1953)
Apesar de não ser um consenso, diversas fontes afirmam que a decisão de invadir a Coreia do Sul tenha partido do próprio Kim Il-Sung, e não da União Soviética – que, ainda segundo relatos, havia garantido que os Estados Unidos não tinham intenção de interferir na Coreia do Norte.
O começo do conflito foi favorável para os norte-coreanos, que realizaram grandes avanços e, ao final de junho de 1950, conquistaram a capital do sul. Frente a estes eventos, o presidente norte-americano, Harry S. Truman, autorizou o envio de suas forças armadas para intervir no conflito, sob a bandeira da ONU.
Com o envio de homens, veículos e armamentos, a Coreia do Norte, com o apoio norte-americano, conseguiu reverter o quadro e, em dezembro do mesmo ano, infligiram uma severa derrota aos norte-coreanos na Batalha de Inchon.
O avanço rumo ao norte fez com que os chineses interviessem no conflito. A Coreia do Norte faz fronteira com o país, e este temia que o conflito se expandisse para dentro de suas fronteiras, dando início a uma nova guerra mundial.
A interferência chinesa fez com que a guerra chegasse a um impasse: nenhum dos dois lados conseguiam avançar para além dos limites que já haviam conquistado. O resultado foi um armistício que colocou um fim ao conflito e estabeleceu uma zona desmilitarizada entre as Coreias. O número total de vítimas da guerra ultrapassa os 1 milhão de coreanos.
O governo de Kim Il-Sung
O governo de Kim Il-Sung após a Guerra da Coreia foi marcado por uma grande centralização de poder e culto à personalidade do próprio líder. Kim criava uma imagem de um ser quase divino, uma figura paternal e infalível. Com isso, a repressão e perseguição a opositores também cresceu.
Para reerguer seu país, devastado pelos anos de conflito, elaborou uma estratégia de planificação da economia. O Estado passou a controlar quase todo o comércio e indústria, coletivizando a agricultura.
De início, Kim posicionou a Coreia do Norte como um grande aliado da União Soviética, mas não tardou para que os dois países se distanciassem. O motivo foi a ruptura sino-soviética, que fez com que os países do bloco comunista se alinhassem com apenas uma das duas nações. O líder norte-coreano optou por se aproximar da China.
A Ideologia Juche
Kim Il-Sung baseou seu governo a partir da chamada Ideologia Juche, que pode ser traduzida como “Mestre de si próprio”. Até os dias atuais, essa é a ideologia seguida pelo governo norte-coreano.
Ela prega que o verdadeiro governante do país é o povo norte-coreano, prezando pela independência e autonomia da nação em relação a poderes externos – favorecendo a indústria e produção local em oposição ao comércio internacional . No entanto, por ter uma economia frágil, a Ideologia Juche resultou em graves problemas econômicos a partir da década de 1980.
Últimos anos e morte
Em seus últimos anos de governo, no início da década de 1990, a Coreia do Norte já estava isolada do mundo externo, com exceção de laços econômicos com países como China, Rússia, Vietnã e Cuba. A crise econômica, as primitivas técnicas de produção agrícola e uma série de catástrofes naturais que assolaram o país resultaram em um grande período de fome, levando um grande número de norte-coreanos à morte.
Em 8 de julho de 1994, Kim Il-Sung faleceu de um ataque cardíaco súbito, aos 82 anos, sendo substituído como líder supremo da Coreia do Norte pelo seu filho, Kim Jong-Il.