O general Gustavo Dutra, que chefiava o Comando Militar do Planalto em 8 de janeiro, afirmou que pediu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) o adiamento das prisões de manifestantes. “Vai morrer gente”, teria dito o militar no dia 8/1.
A informação foi publicada nesta sexta-feira, 21, pela Veja. A revista diz ter obtido acesso a detalhes do depoimento de Dutra prestado à Polícia Federal.
Com base no relato à PF, Lula havia ordenado, ainda na noite de 8 de janeiro, a desmobilização do acampamento erguido próximo ao Quartel-General do Exército em Brasília. O chefe do Executivo federal também havia determinado que os envolvidos na manifestação fossem presos.
Na ocasião, os governistas exigiam o cumprimento das ordens de Lula, mas Dutra alegava que não seria uma boa ideia. Ele falava em adiar a operação para a manhã seguinte.
Em conversa por telefone com Dutra, Lula repetia: “São criminosos, general. Tem de ser todo mundo preso”. Na terceira vez, o militar foi incisivo. “Presidente, estamos todos indignados. Hoje é um dia triste para o Brasil. Mas, até o momento, só estamos lamentando danos ao patrimônio. Se entrarmos agora, sem coordenação, vai morrer gente. O senhor quer isso?”, questionou.
“Prende todo mundo amanhã”
Lula, conforme o depoimento., acabou cedendo. “Seria uma tragédia. General, cerca todo mundo, não deixa ninguém sair da praça e prende todo mundo amanhã”. O militar, então, agradeceu a adesão do mandatário.
A retirada do acampamento já era assunto entre o ministro da Defesa, José Múcio, e o então comandante do Exército, general Júlio César de Arruda. O oficial, segundo interlocutores, assumia essa postura para impedir que parentes de militares que estavam no local fossem presos.
Duas semanas após os atos 8/1, o general foi demitido pelo presidente da República.