No início deste ano, caciques do Partido dos Trabalhadores (PT) se reuniram com lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) a fim de selar uma aliança para montar “comitês populares de luta”, grupos formados por militantes e sindicalistas que endossam a campanha eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República.
Com a supervisão do ex-ministro José Dirceu, a ideia da reunião foi viabilizar um assento para o MST em uma roda de discussão de programas sociais caso o petista seja eleito novamente para a chefia do Palácio do Planalto. Na ocasião, o encontro foi divulgado pela revista Veja.
Essa criação de grupos populares é uma prática antiga. Em Cuba, na década de 60, Fidel Castro instituiu os “comitês de defesa da revolução”, que reunia organizações civis para ajudar o Estado a localizar adversários do regime. Na Venezuela, uma estratégia semelhante chamada de “círculos bolivarianos” foi colocada em prática por Hugo Chávez, inclusive com a atuação de paramilitares armados.
No Brasil, a parceria PT-MST visa proliferar nas cidades do país colegiados que atuem na propagação de discursos e ideias contra o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) e de apoio ao projeto lulopetista de retornar ao comando do Executivo federal.
Esse tipo de aliança, que visa o fortalecimento do MST, é vista com muita preocupação por empresários ligados ao setor do agronegócio. É o caso de Emilio Cury, que viu sua paz ir embora 23 vezes durante as gestões do PT. Ele teme que o resultado das urnas venha acompanhado de um novo ambiente de medo e insegurança.
Nos últimos anos, sua fazenda localizada no município de Serrana (SP) foi invadida 23 vezes. Em todos os casos, os penetras eram militantes da chamada reforma agrária. Nos episódios, centenas de pessoas ocuparam as terras e levaram pânico ao proprietário, aos caseiros e aos demais funcionários da propriedade.
Além da Fazenda Martinópolis, facilmente encontrada nos sites de busca em função das seguidas invasões, outros fazendeiros e pecuaristas da região sofrem com a atitude, algumas vezes hostil, de quem invade.
“É preciso que as autoridades façam algo para preservar as propriedades. A minha, sempre utilizada para o plantio e que sempre empregou inúmeros funcionários, é apenas um exemplo. Conheço vários fazendeiros que tiveram sua paz afastada pela chegada de invasores que apenas criam embaraços e prejuízos”, afirma Cury.
Em 2019, no primeiro ano do atual governo federal, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) registrou apenas uma única ocupação de terra no primeiro trimestre. No mesmo período do ano anterior, foram 43 ações do tipo.
O empresário, que foi eleito vereador de Ribeirão Preto (SP) em 2020, entende que, apesar de as invasões terem se tornado uma realidade no campo, elas aconteceram em menor intensidade durante o governo de direita comandado por Bolsonaro.
“É preciso que os novos políticos, aqueles que forem eleitos, se comprometam a lutar pela segurança do campo. É inadmissível uma propriedade ter sua rotina alterada em função de invasores delinquentes, que só querem causar prejuízos a todos nós”, acrescenta.