TRANSCRIÇÃO:
Ernesto Araújo
Ministro das Relações Exteriores
Transcrição: Cristian Derosa
Gostaria de começar com uma frase que é absolutamente fundamental para entender o que está acontecendo no Brasil. Vou dizê-la um pouco diferente do que vocês estão acostumados a ouvir:
Gnosesthe ten aletheian kai he aletheia eleutherosei humas.
“conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.
Essa convicção íntima e profunda animou o presidente Jair Bolsonaro na luta extraordinária que ele travou e está travando para reconquistar o Brasil e devolvê-lo aos brasileiros. Nesse versículo de São João há três conceitos cruciais para o pensamento humano, para a vida humana e para nosso momento histórico. Temosgnosis, (conhecimento) alítheia (verdade) eeleftheria (liberdade).
Alítheia (ou Aleteia): a tradução mais literal dessa palavra grega seria desvelamento, ou melhor, “desesquecimento”. Lítheia é o esquecimento, o rio do esquecimento que, na tradição grega, os mortos cruzavam para o outro lado. Alítheia ou Aleteia é cruzar o rio de volta, isto é, a superação do esquecimento sobre algo que estava esquecido e, de repente, recupera-se. A palavra envolve uma experiência autêntica, interna, individual, sentimental, de tal maneira que o nosso conceito atual de verdade é muito pobre diante desse conceito originário. Nosso conceito de verdade normalmente se refere apenas à verdade factual, um conceito um pouco técnico, frio, quando deveria ser algo orgânico e vivido. Aleteia nos faz desesquecer e reconectarmos conosco mesmos. E neste redescobrimento e reconexão conosco é que a verdade liberta. Pois, afinal, onde é que estava preso aquele que se vê libertado pela verdade? Estava preso fora de si mesmo. Estava procurando ser o que não é. O Brasil estava preso fora de si mesmo. E eu arriscaria dizer que a política externa brasileira estava presa fora do Brasil.
Eleftheria é outra palavra genial criada pelos gregos. Não conheço outra língua antiga (não conheço muitas) que possua esse conceito. Exceto, talvez, o latim “libertas”, mas que é uma tradução tardia do grego. Mesmo assim, na Grécia Antiga,Eleftheria significava basicamente a liberdade civil, um termo jurídico. Somente com a literatura cristã, especialmente com esse trecho de São João, Eleftheria se tornou algo mais completo, mais profundo e mais elevado. Liberdade é um conceito que se desgastou ao longo dos séculos, mas preserva uma força incrível. É uma palavra que ainda acende o coração das pessoas. Alguém pode estar desanimado, desamparado, mas quando ouve a palavra liberdade, não há quem não levante a cabeça subitamente alerta a perguntar: “liberdade, onde?”. O presidente Bolsonaro está libertando o Brasil por meio da verdade. Nós vamos também libertar a política externa brasileira, vamos libertar o Itamaraty, como o presidente prometeu que faríamos em seu discurso de vitória.
Falamos da liberdade e da verdade, mas não falamos ainda do conhecimento (gnosis). A verdade liberta, mas para se chegar à verdade é preciso conhecê-la. Não se trata aqui de um conhecimento racional, pois a verdade, neste sentido profundo, não pode ser ensinada por dedução analítica. Gnosis é o conhecimento no sentido de uma experiência mais íntima. A verdade é essencial, mas se não pode ser ensinada nem aprendida, como vamos conhecer a verdade? Para explicar isso eu queria apelar a um brasiliense ilustre, Renato Russo, quando ele diz “é só o amor”. É só o amor que conhece o que é a verdade. Não são a prudência ou a cautela que conhece o que é a verdade, mas só o amor. Cautela, prudência, pragmatismo, são bons instrumentos quando sabemos para onde queremos ir, mas eles não nos ensinam para onde ir. Não nos mostram o que somos e não nos explicam a nós mesmos. É só o amor que explica o Brasil.
O amor, assim como a coragem que do amor decorre, conduziram os nossos ancestrais a formarem esta nação imensa e complexa. A maioria de nós passou anos ouvindo, na escola, que foi a ganância, o anseio de riqueza ou o acaso que formou o Brasil. Mas não foi. Foram o amor, a coragem e a fé que trouxeram até aqui, através do oceano, das florestas, as pessoas que nos fundaram. Pessoas que disseram coisas como:
Anuê Jaci, etinisemba-ê
Indê irú manunhê
Yara rekô embobeuká tupirã
Rekôku ya subí
Embobeuká tupirabê
Nge membyrá Tupã
Esta é a Ave Maria em tupi, na versão original do Padre José de Anchieta, que traduz Maria por Jaci e Jesus por Tupã, o trovão. E aqui nós precisamos de Aleteia, odesesquecimento. Precisamos libertar a nossa memória histórica da qual essa modesta oração faz parte.
Para libertar o Itamaraty através da verdade precisamos recuperar o seu papel como guardião da continuidade da memória brasileira. Eu me lembro da emoção que senti quando era terceiro secretário e subi pela primeira vez as escadas que dão para este terceiro andar. Vi, logo ao subir à escada, o quadro da coroação de Dom Pedro I e o quadro do Grito do Ipiranga. Eu tinha 22 anos e imediatamente me lembrei de quando tinha cinco anos e assisti maravilhado, no cinema, ao filmeIndependência ou morte, com Tarcísio Meira e Glória Meneses. E pensei: então tudo isso existe! Tudo isso é aqui. Isto aqui não é meramente uma repartição pública. Isto é uma espécie de santuário, um túnel do tempo, onde os heróis, famosos ou anônimos, estão vivos; onde convivemos com os descobridores, com Alexandre de Gusmão, Padre José de Anchieta, com Dom João VI, com os imperadores, as princesas, com os bandeirantes e os abolicionistas; com os seringueiros, garimpeiros e tropeiros que construíram esta nação e até mesmo com o estranho caso de um barão monarquista que se tornou grande ídolo da República.
Eu não sei se conhecem um seriado espanhol chamado Ministerio del tiempo. Eu recomendo. Eu diria que o Itamaraty não é apenas o Ministério das Relações Exteriores, mas é também um ministério do tempo. Como talvez nenhuma outra instituição no Brasil, temos a responsabilidade de proteger e regar este tronco histórico e multicultural por onde corre a seiva da nacionalidade.
O presidente Bolsonaro disse que estamos vivendo um momento de uma nova independência. É isso o que nós brasileiros profundamente sentimos e deveríamos senti-lo e vivê-lo ainda mais aqui no Itamaraty, onde a história está tão presente. Deveríamos deixar fluir por estes corredores a emoção deste novo nascimento da Pátria. Precisamos desesquecer e lembrar de quem somos e quem estamos voltando a ser.
Diz o lema do Barão [do Rio Branco]: Ubique Patriae Memor. Normalmente se traduz como “em todos os lugares lembrar-se da pátria”. Mas aqui os senhores me permitam a correção de um professor de latim frustrado (risos). Está errada essa tradução. Memor é em primeira pessoa. Então seria: “em todos os lugares eu me lembro da pátria”. É um compromisso de vida pessoal que cada um de nós assume e não apenas uma simples anotação na agenda. Onde quer que esteja, eu me lembro da pátria. Isso não significa apenas que quando estamos no exterior devemos pensar no Brasil, mas significa, se pensarmos no conceito de Aleteia: eu sinto essa verdade profunda que é a pátria, sinto o que é ter uma pátria. É lembrar-se da pátria, portanto, como uma verdade central, essa verdade central que liberta e que só se pode conhecer pelo amor.
Lembrar-se da pátria não é lembrar-se da ordem liberal internacional, não é lembrar-se da Ordem Global, não é lembrar-se do que diz o último artigo da Foreign Affairs ou a última matéria do New York Times. É lembrar-se da pátria como uma realidade essencial. Nós não estamos aqui para trabalharmos pela Ordem Global. É o Brasil. E não tenham medo de sermos Brasil. Pensem, por exemplo, em Dom Sebastião, rei de Portugal. Quando preparava sua expedição para a África, algum nobre o questionou se não tinha medo. Ele olhou e perguntou: “de que cor é o medo?”. Alguém objetará que Dom Sebastião morreu pouco depois no areal do Alcácer Quibir, no Marrocos, o que é verdade. Mas não estamos falando aqui dele, pois sabemos quem ele foi. Tornou-se um mito “aquele que há de voltar, das ondas do mar, num dia de muita névoa”. Nós não nos lembramos das pessoas que ficaram em casa, daquelas que não foram ao Alcácer Quibir. Aleteia, libertas, está com os que foram. Os que seguiram as bandeiras dos seus reis e dos seus santos sem saber se iriam voltar. Sem se importar se iriam voltar. O mito ensina a não ter medo. E é curioso que o mito, no momento atual, é o apelido carinhoso que o povo brasileiro deu ao presidente Bolsonaro. Marcel Proust dizia que nossos sentimentos vão se atrofiando por medo, por medo de sofrer. Eu acho que a nossa política externa vem se atrofiando por medo de ser criticada. Então não tenham medo de sofrer e de serem criticados. Por sua vez, Clarice Lispector dizia, falando do Brasil e do nacionalismo: ” nossa evidente tendência nacionalista não provém de nenhuma vontade de isolamento. Ela é um movimento sobretudo de autoconhecimento”.
Autoconhecimento é a verdade, Aleteia, a verdade que liberta. Então para não termos medo, vamos ler menos Foreign Affairs e mais Clarice Lispector, Cecília Meireles. Vamos ler menos New York Times e mais José de Alencar, Gonçalves Dias. Vamos escutar menos CNN e mais Raul Seixas. Por que Raul Seixas? “Não fiquemos no trono de um apartamento ou de uma embaixada com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar”. Vamos fazer alguma coisa pelas nossas vidas e pelo nosso país. Mergulhemos no oceano de sentimentos e na esperança do nosso povo. Não mergulhemos nessa piscina sem água que é a Ordem Global. O Itamaraty existe para o Brasil e não para a Ordem Global.
O Itamaraty existe para o Brasil e não para si mesmo. Somos uma casa de excelência? Sim, somos. Mas para sê-lo precisamos mostrá-lo e não ficarmos simplesmente repetindo isso uns para os outros. Vamos cuidar da nossa administração, do fluxo de carreira, solucionar este e muitos outros problemas que legitimamente afligem a instituição para que o Ministério possa melhor se capacitar para a sua tarefa maior.
Queria dizer que não precisamos e não vamos abrir os quadros do Itamaraty para pessoas de fora da carreira para além dos casos que já existem. O presidente Bolsonaro confia plenamente na capacidade desta casa, desta carreira, para implementar a sua política. Nós simplesmente tomamos uma medida para flexibilizar a ocupação de cargos por funcionários da carreira em determinados níveis hierárquicos, justamente para arejar o fluxo da carreira inclusive estimular os nossos colegas a ocupar esses cargos.
Nós temos tradições, é claro. Mas precisamos empregá-las como estímulo para buscarmos a verdade e a liberdade, como serviço à Pátria, como serviço a todos os brasileiros, tanto os mais humildes quanto os mais afortunados do nosso povo. Este povo que uma ideologia perversa não mais divide. Temos tradições, mas como dizia o embaixador Azeredo da Silveira, “a maior tradição do Itamaraty é saber renovar-se”. Quando eu comecei no Itamaraty ouvia-se muito essa frase. Mas há alguns anos eu pessoalmente não tenho mais escutado, não sei bem porque. Talvez por um certo ensimesmamento ou comodismo que se criou. Nós nos apegamos muito à nossa própria autoimagem e fizemos dela uma espécie de ídolo. Ficamos nos olhando no espelho e dizendo que nós somos o máximo ou que os governos não nos entendem, mas o Itamaraty está acima do governo. Nós nos tornamos diplomatas e fazemos coisas que só são importantes para outros diplomatas. Isso precisa acabar. Deixemos de olhar no espelho e passemos a olhar pela janela, ou melhor ainda, vamos sair à rua para o Brasil verdadeiro. Não temos medo do povo brasileiro. Somos parte do povo brasileiro.
Certa vez, ainda no Instituto Rio Branco, ouvi de um diplomata antigo o seguinte: “O Itamaraty não pode ser melhor do que o Brasil”. Nessa época, eu tomei isso como sinal de um grande pessimismo. Era um momento difícil na história do Brasil e eu achei que ele estava dizendo “olha, o Brasil está ruim e o Itamaraty está igual”. Mas hoje eu acho que finalmente compreendo o que ele queria dizer. O Itamaraty não pode achar que é melhor do que o Brasil. Não pode achar que não faz parte do Brasil. Fazemos parte, voltamos a fazer parte, em uma aventura magnífica. A partir de hoje o Itamaraty regressa ao seio da Pátria Amada. O Itamaraty voltou porque o Brasil voltou.
Fernando Pessoa dizia: “o poeta superior diz o que sente, o poeta médio diz o que decide sentir, e o poeta inferior diz o que acha que deve sentir”. O mesmo talvez se possa dizer do diplomata e o mesmo se aplica a um país na sua presença internacional. Por muito tempo o Brasil dizia o que achava que devia dizer. Era um país que falava para agradar aos administradores da Ordem Global. Queríamos ser um bom aluno na escola do globalismo e achávamos que isso era tudo. Éramos um país inferior, aplicando-se a classificação de Fernando Pessoa. Mas o Brasil volta a dizer o que sente e a sentir o que é.
Vocês podem dizer que isso é quixotesco talvez. As pessoas nos chamam às vezes de tantas coisas, bem piores, que quixotesco até estaria bom, seria um bom adjetivo. Mas isso me lembra algo que escutei do professor Olavo de Carvalho, um homem que depois do presidente Bolsonaro talvez seja o grande responsável pela imensa transformação que o Brasil está vivendo. Certa vez ouvi o professor Olavo se referir a um trecho de Dom Quixote, de Cervantes, que é talvez o ponto central dessa obra. É quando Dom Quixote está caído à beira do caminho, em algum lugar de la Mancha, em uma espécie de delírio e começa a conversar com os passantes como se fossem o marquês disso, o conde daquilo, ou algum herói de cavalaria, enquanto fala de suas próprias façanhas. Em dado momento, ele se dirige a um camponês que está passando como se fosse um certo Marquês de Mantua. O camponês pára, olha para ele e diz: “espere aí, eu sei quem é o senhor. Eu não sou o marquês de Mantua, eu sou seu vizinho, o Pedro Afonso e o senhor não é Dom Quixote. É um bom homem que conheço há bastante tempo. É Alonso Quijano”. E Dom Quixote pára um segundo, pensa e responde: “yo sé quien soy”.
Algumas pessoas dirão que o Brasil não é isso tudo que o presidente Bolsonaro acredita e que eu também acredito. Dirão que o Brasil não tem capacidade de influir nos destinos do mundo, de defender os valores maiores da humanidade; que devemos apenas exportar produtos e atrair investidores, pois afinal somos um bom país, quieto e pacífico. Nós não temos poder para nada. Dirão que o País é apenas Alonso Quijano. Mas o Brasil responderá: eu sei quem eu sou.
Somos um país universalista, é certo. E a partir desse universalismo iremos construir algo bom e produtivo com cada parceiro. Mas universalismo não significa não ter opiniões, não significa uma geléia geral. Não significa querer agradar a todos. A vocação do Brasil não é ser um país que simplesmente existe para agradar. Queremos ser escutados, mas não por repetir alguns dogmas insignificantes ou frases assépticas. Queremos ser escutados por termos algo a dizer. Buscaremos as parcerias e alianças que nos permitam chegar aonde queremos. Não pediremos permissão à Ordem Global, o que quer que ela seja. Defenderemos a liberdade e a vida. A liberdade de cada povo ser o que é com liberdade e dignidade, a dignidade que unicamente a liberdade proporciona.
Quem ama luta pelo que ama. Então nós admiramos quem luta. Admiramos aqueles que lutam pela sua pátria e aqueles que se amam como povo, por isso admiramos o exemplo de Israel, que nunca deixou de ser uma nação mesmo quando não tinha solo, em contraste com algumas nações de hoje que mesmo tendo solo, suas igrejas, seus castelos, já não querem ser nação. Por isso admiramos os Estados Unidos da América, aqueles que hasteiam suas bandeiras e cultuam seus heróis. Admiramos os países latino-americanos que se libertaram dos regimes do Foro de São Paulo, admiramos nossos irmãos do outro lado do Atlântico que estão construindo uma África pujante e livre. Admiramos os que lutam contra a tirania na Venezuela e em outros lugares. Por isso, admiramos a nova Itália, a Hungria, a Polônia. Admiramos aqueles que se afirmam e não aqueles que se negam.
O problema do mundo não é a xenofobia, mas a oikofobia, (de oikós = lar). Oikofobia é odiar o próprio lar, o próprio povo, repudiar o próprio passado. É mais fácil não amar, não lutar. Porque amar e lutar também significam sofrer. Significam muitas vezes não ser compreendido, suscitar o ódio, o desprezo, a inveja. Então, muitas nações, assim como muitas pessoas, optam pelo conforto, pela facilidade de não amar, de não lutar. Nós aqui não optamos nem pelo conforto nem pela facilidade.
Além da oikofobia, deveria nos preocupar também cada vez mais, a teofobia, o ódio contra Deus. Há uma teofobia horrenda e gritante na nossa cultura, não só no Brasil, mas no mundo. Um ódio contra Deus proveniente sabe-se lá de onde, canalizado por todos os códigos de pensamento e de não-pensamento que perfazem a agenda global. Para destruir a humanidade é preciso acabar com as nações e afastar o homem de Deus. É isso que estão tentando e é contra isso que nos insurgimos. Globalismo se constitui no ódio através de suas várias ramificações ideológicas e seus instrumentos contrários à nação, contrários à natureza humana e contrários ao próprio nascimento humano. Nação, natureza e nascimento, todos provém da mesma raiz etimológica e isso se dá porque possuem entre si uma conexão profunda. Aqueles que dizem que não existem homens e mulheres são os mesmos que pregam que seus países não têm direito a guardar suas fronteiras; são os mesmos que propalam que um feto é um amontoado de células descartável; são os mesmos que dizem que a espécie humana é uma doença que deveria desaparecer para salvar o Planeta. Por isso, a luta pela nação é a mesma luta pela família, a mesma luta pela vida, pela humanidade em sua dignidade infinita de criatura.
Quando eu era criança e adolescente ouvia muita gente dizendo: o mundo caminha inexoravelmente para o socialismo. Mas não caminhou. Não caminhou porque alguém foi lá e não deixou. Hoje escutamos que a marcha do globalismo é irreversível, mas não é irreversível. Nós vamos lutar para reverter o globalismo e empurrá-lo de volta ao seu ponto de partida. Nós queremos levar à toda parte o grito sagrado à liberdade Eleftheria. Este foi o primeiro grito de guerra do Ocidente, desde seu nascimento, na Batalha de Salamina, “libertai a Pátria”. Então temos aqui o Barão dizendo “eu me lembro da pátria”, eu trago a pátria de dentro de seu esconderijo, eu vivo a pátria na verdade. E temos Ésquilo gritando pela liberdade “libertai a pátria”. Mas Aletheia e Eleftheria só são possíveis pelo conhecimento da pátria que se dá pelo amor.
Um dos instrumentos do globalismo para abafar aqueles que se insurgem contra ele, é espalhar que para se ter comercio com eles não se pode ter ideias nem defender valores. Nós provaremos que isso é completamente falso. O Itamaraty terá agora o perfil mais elevado e mais engajado que jamais teve na promoção do agronegócio, do comércio, dos investimentos e da tecnologia. De fato, ao se distanciar do Brasil e do povo brasileiro, o Itamaraty havia se distanciado também do setor produtivo nacional. Mas agora estaremos junto com o setor produtivo nacional como nunca estivemos. Nós não vamos mais “acompanhar os temas”, como se diz no jargão antigo aqui do Itamaraty fechado ao povo. O Itamaraty não será mais um ministério que só fica olhando. Vamos trabalhar sem descanso para promover o comércio agrícola, a indústria, o turismo, a inovação, capacitação tecnológica, os investimentos em infraestrutura e energia, avançando ombro a ombro com os outros ministérios, graças a essa extraordinária equipe ministerial que o presidente Bolsonaro criou com um espírito de harmonia e sentido de missão sem precedentes. Quando eu digo extraordinária eu me excetuo, porque não quero falar de mim mesmo. Estou falando dos outros 21 ministros.
Formularemos, com cada parceiro internacional, um programa de trabalho específico para desenvolver o potencial de cada relação de maneira criativa e dinâmica. Para isso contaremos, entre outros, com esse instrumento extraordinário que é a Apex, uma Apex renovada, redinamizada, integrada ao conjunto da nossa estratégia de política externa. Contaremos também com o setor de promoção comercial dentro do Itamaraty que multiplicaremos por quatro. Vamos desburocratizar o setor de diplomação comercial das embaixadas no exterior, transformando-os em verdadeiros escritórios comerciais capazes de gerar negócios e ocupar novos mercados para os nossos produtores. Implementaremos uma política de negociações comerciais para os dias de hoje. Estivemos negociando acordos comerciais, alguns mais exitosamente outros menos, mas em muitos casos no modelo dos anos 1990. Em muitos casos estamos negociando esses acordos desde os anos 1990. A até agora, em alguns casos, foram involuindo com o passar do tempo.
[Nos últimos anos] nós negociamos esses instrumentos em abstrato e não da forma como deveríamos fazer, com os entendimentos efetivos direcionados às nossas potencialidades concretas. Nós negociamos muitas vezes em uma posição de fraqueza, como se estivéssemos implorando acesso aos mercados, quando na verdade deveríamos negociar a partir de uma posição de força como um dos maiores e potencialmente o maior produtor de alimentos do mundo, por exemplo.
Nós orientaremos todas as relações, bilaterais e multilaterais para a geração de resultados concretos para o emprego, a renda e a segurança dos brasileiros. Ao mesmo tempo, investiremos renovado esforço também nas negociações multilaterais, especialmente na OMC [Organização Mundial do Comércio], que está construindo uma nova e promissora agenda da qual hoje o Brasil está de fora, mas na qual entrará com todo o seu peso e toda a sua criatividade.
No sistema multilateral político, especialmente na ONU, vamos reorientar a atuação do Brasil em favor daquilo que é importante para os brasileiros e não no que é importante para as ONGs. Defenderemos a soberania; defenderemos a liberdade. Liberdade de expressão, liberdade de crença, liberdade na internet, liberdade política. Defenderemos os direitos básicos da humanidade, o principal dos quais, se me permitem usar o título de uma novela dos anos 1960, o direito de nascer.
Abriremos o Itamaraty para a sociedade. Seremos a casa de todos os brasileiros. Muito se escuta que o brasileiro não se interessa por política externa. Mas na verdade o brasileiro não se interessava por política externa quando achava que política externa era simplesmente um exercício de estilo com infinitas variações para não dizer nada em um discurso da ONU. Desde a eleição do presidente Bolsonaro, o brasileiro está interessado e profundamente envolvido em política externa. Mesmo porque o presidente dá uma atenção enorme a esta área e a considera algo profundamente integrado na vida nacional e não alguma disciplina arcana, à qual só teriam acesso alguns especialistas. O brasileiro sente que na frente externa se dá uma das principais, senão a principal batalha pelos seus ideais e valores mais profundos. O brasileiro entende que da frente externa depende, em grande medida, a sobrevivência e o êxito do projeto de redescoberta e libertação, esta aventura de Aleteia e Eleftheria que estamos vivendo com amor e com coragem.
Falar com a sociedade não é simplesmente falar. É principalmente ouvir. Eu vou dar um exemplo do que temos para ouvir. É um comentário de uma pessoa que segue a minha conta no Twitter, que diz o seguinte:
“Antes, eu não entendia o amor do povo da Inglaterra pela rainha. Agora entendo. Quando temos alguém que ama seu país e seu povo, e os defende, ganha amor e respeito. Não conhecíamos isso antes de Bolsonaro”.
A isso me proponho aqui: fazer do Itamaraty um instrumento de amor pelo nosso país e pelo nosso povo. Estou certo que de podemos tornar o Brasil ao mesmo tempo mais competitivo e mais autêntico; ao mesmo tempo mais economicamente dinâmico e mais verdadeiro, mais respeitado internacionalmente e mais fiel a si mesmo. Não deixem o globalismo matar a sua alma em nome da competitividade. Não acreditem no que o globalismo diz quando diz que para ter eficiência econômica é preciso sufocar o coração da Pátria e não amar a Pátria. Não escutem o globalismo quando ele diz que paz significa não lutar.
Os senhores me perguntarão: e como faremos isso? Pela palavra. Acreditemos no poder infinito da palavra, que é o Logos. O presidente Jair Bolsonaro chegou até aqui e está aqui, e nós com ele, porque diz o que sente, porque diz a verdade e isso é o Logos. Vou terminar falando do princípio, citando novamente São João, a abertura do Evangelho de São João, quando diz: “no princípio (arché) era o Verbo”, o Logos, a palavra. Arché significa princípio, tanto no sentido de início quanto no sentido, principalmente, de força estruturante. A realidade, pelo menos a humana, está estruturada em torno da linguagem, da palavra, do verbo, portanto, do logos. Tudo o que temos e tudo o que precisamos é a palavra. Ela está aprisionada, mas com amor e com coragem havemos de libertá-la.
Que Deus abençoe a todos vocês, os que creem e os que não creem, os que estão conosco, os que ainda não estão conosco. Que Deus abençoe o presidente Jair Bolsonaro. Que Deus abençoe o Brasil. Anuê Jaci [Ave Maria].