“O que está acontecendo com a direita?”. Esse tem sido um dos principais questionamentos do eleitorado nas redes sociais. O assunto ganha força à medida que o governo Lula, mesmo sem ter apoio suficiente no Congresso, tem avançado com facilidade em suas agendas.
Antes mesmo de assumirem seus cargos, os deputados e senadores eleitos com votação histórica no pleito de 2022 prometiam ser uma oposição firme ao governo federal. No entanto, no dia 8 de janeiro, quando vândalos ocuparam e depredaram os Três Poderes, não apenas os civis nas ruas se tornaram alvo das investigações, mas também os próprios representantes da direita.
Quando diversos nomes da direita entraram no foco das críticas, foi dito publicamente que as narrativas não prevaleceriam e que o parlamento agiria para se contrapor ao que estava sendo ecoado pela esquerda e pela base governista. No entanto, apesar das promessas, a esquerda conseguiu obter uma série de vitórias contra a direita.
Isso se repetiu nas eleições da Câmara dos Deputados e do Senado, quando os dois espectros, com o amplo apoio do PT e do PL, garantiram a reeleição de Arthur Lira (PP-AL) como presidente da Câmara e de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) como presidente do Senado. Essas vitórias da esquerda representaram mais derrotas para a direita.
Outra derrota em curso está acontecendo atualmente. Apesar dos esforços do deputado André Fernandes (PL-CE), que atuou em várias frentes nas duas casas legislativas para garantir a criação da CPMI do dia 8 de janeiro, a esquerda triunfou sobre o colegiado, assumindo não apenas a maioria de seus membros, mas também a narrativa e a condução das atividades. Fernandes, juntamente com outros parlamentares como Nikolas Ferreira (PL-MG) e Marco Feliciano (PL-SP), têm tentado impedir esse avanço, mas seus esforços não têm obtido resultados significativos, reforçando a visão de que estão atuando praticamente sozinhos.
Além disso, há outros dois fatores perturbadores que têm prejudicado a direita: o apoio do PL à cassação de Sergio Moro e a indicação de Cristiano Zanin ao STF. Em ambos os casos, a direita se une ao lulopetismo para sacrificar o mandato de Moro, eleito senador pelo Paraná, e adere à indicação de Zanin ao Supremo Tribunal Federal, alegando ser uma “estratégia”. No Senado, onde ocorrerá a sabatina e a decisão final, apenas alguns nomes da direita resistem a seguir em frente com a aprovação do ex-advogado pessoal de Lula, como Magno Malta (PL-ES), Damares Alves (Republicanos-DF) e Eduardo Girão (Novo-CE). Eles já afirmaram ao Conexão Política que não darão apoio a Zanin.
No meio de todas essas crises internas e externas, Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal, que foi o partido que obteve a maior vitória nas eleições de 2022, não apenas tem expressado posições contrárias às pautas que levaram a direita ao poder. É dito que ele tem atuado nos bastidores para sufocar aqueles que ainda se mantêm fiéis aos ideais iniciais, como no caso de Ricardo Salles, que foi rifado na disputa informal para prefeito de São Paulo no próximo ano. No caso de Moro, Valdemar também tem insistido na cassação do ex-juiz, adotando as mesmas iniciativas do PT, que também busca derrubar o mandato de Moro. Costa Neto também liberou a bancada do PL para votar a favor de Cristiano Zanin, indicando que o partido não irá se opor à indicação do ex-advogado do líder petista.
Nesse contexto de divisões internas e externas, a direita está cada vez mais fragmentada, revelando uma série de problemas que antes permaneciam nos bastidores do poder. O ex-presidente Jair Bolsonaro, mesmo entre sua própria base de aliados, tem sido alvo de críticas de seus fiéis seguidores. Em várias situações, Bolsonaro tem conhecimento do que está acontecendo, mas tem se omitido em enfrentar o cacique do PL. Aliados afirmam que a sensação é de que ele está de braços cruzados, tentando “sobreviver” ao revés político, sem protagonizar o enfrentamento, apenas focando em questões pessoais.
Com a proximidade das eleições municipais, as divisões se acentuam ainda mais, deixando incertas quais serão os próximos passos da direita. Vários nomes têm indicado a possibilidade de unir forças com aqueles que não cederão para buscar uma nova sigla que tenha interesse em preservar as conquistas da “direita raiz”. O futuro da direita que foi eleita em 2022 é incerto.