Dario Messer, conhecido como “doleiro dos doleiros”, mudou a sua versão da delação sobre o alegado pagamento de propina ao procurador Januário Paludo, que integrou o consórcio de Curitiba, de acordo com o The Intercept Brasil.
Segundo o site, suspeita-se que o ex-integrante da famosa “equipe de Sergio Moro”, a força-tarefa da Lava Jato no Paraná, teria recebido propina para proteger Messer a partir de 2005, no “caso Banestado”, quando ocorreu a sua primeira proposta de delação premiada.
A colaboração do doleiro foi assinada pela Lava Jato e homologada pela Justiça – mas sem o trecho que levanta suspeitas contra um dos principais integrantes da força-tarefa paranaense.
Caso Banestado
O caso Banestado investigou o envio de dinheiro do Brasil para contas no exterior usando contas no hoje extinto banco estatal paranaense. Para apurar e processar os envolvidos, uma força-tarefa foi criada no Ministério Público Federa (MPF) no Paraná, na qual Januário Paludo e Deltan Dallagnol foram integrantes. Dario Messer foi um dos investigados, mas nunca foi punido.
Versões das delações
Na primeira versão de sua colaboração premiada, Messer disse que escapou dos investigadores graças a propinas. Depois, com os benefícios do acordo de delação garantidos, afirmou ter se enganado a respeito de Paludo.
Graças à delação, Messer manteve R$ 3,5 milhões que tinha numa conta nas Bahamas, um apartamento avaliado em R$ 3 milhões no Rio de Janeiro, desbloqueou a herança da mãe e ainda deixou a prisão. Atualmente, ele cumpre prisão domiciliar no bairro nobre de Copacabana, na capital fluminense.
Segundo o site, os integrantes da força-tarefa da Lava Jato no Paraná teriam arquivado o relato de Messer sobre os supostos pagamentos a Paludo sem sequer abrir investigação por considerarem as informações inconsistentes.
A versão homologada pela Justiça não cita Paludo e diz que o doleiro foi vítima de um esquema de extorsão criado por seu ex-advogado Antônio Figueiredo Basto e seu ex-sócio Enrico Machado, que vendiam ao doleiro uma “proteção” que jamais existiu.
Na proposta inicial de delação, Messer admite que só não foi preso em 2018 por ter sido avisado com antecedência de uma operação policial. Nesse contexto, ele sustenta que se livrou da prisão na época e das acusações no caso Banestado por ter comprado proteção junto ao MPF.
Ainda de acordo com o site, o ‘doleiro dos doleiros’ afirma que pagava US$ 50 mil todo mês para que fosse blindado em investigações. Ele entregava os pagamentos para o ex-sócio e a seu ex-advogado. Messer afirmou que nunca encontrou o procurador, mas disse que acredita que contava com a ajuda dele.
A decisão da Procuradoria-Geral da República (PGR) de arquivar o trecho da delação de Messer que citava Paludo, no segundo semestre de 2020, não foi a primeira. Antes, em novembro de 2019, a cúpula do MPF em Brasília já havia sido provocada a investigar a alegada proteção ao doleiro.
Meses após a prisão de Messer, a Polícia Federal (PF) encontrou no celular dele a mensagem na qual ele conversava com a namorada sobre o “esquema com Januário Paludo e Figueiredo”. Essa mensagem foi encaminhada à PGR, que chegou a convocar Messer para dar explicações. Na época, ele ainda não era delator premiado. Assim, se calou sobre o caso.
A PGR, então, pediu informações a Paludo. Ele enviou um documento ao órgão informando que era inocente e que não fazia sentido pensar que teria protegido Messer, porque havia deixado a força-tarefa do caso Banestado em 2005; que as investigações contra Messer corriam no Rio e, Paludo, a partir de 2014, trabalhava na Lava Jato do Paraná; que Messer usou contas de titulares ocultos no exterior (offshore) quando foi chamado a testemunhar a favor do doleiro pela defesa dele, em 2011. Ou seja, Paludo nega tê-lo protegido.
A justificativa de Paludo foi o bastante para a PGR arquivar o procedimento.
No entanto, ao testemunhar para a defesa de Messer, em 2011, Paludo disse outra coisa à Justiça. O procurador afirmou que não encontrou nenhuma ligação de Messer ou de membro da família dele com contas offshore, e afirmou que as investigações apontaram que Clark Setton, o Kiko, aparecia como o responsável por contas investigadas e que a apuração não revelou nenhuma relação da família Messer com ele.
Já nos diálogos que manteve com colegas procuradores pelo Telegram, Paludo parece estar bem informado sobre Messer e sua relação com Setton. A outros procuradores, Paludo chega a dizer que Setton era uma espécie de laranja, de “boi de piranha” dos Messer.
Resposta do ex-advogado Antonio Figueiredo Basto
Em manifestação enviada ao ConJur, o advogado Antonio Figueiredo Basto afirma “que jamais fizemos nada do que foi escrito, desde logo entregamos nosso sigilos bancário, fiscal, telemático e telefônico ao MPF, bem como a imensa relação de trabalhos que prestamos ao Messer e toda a família dele durante mais de dez anos”.
“Jamais tive qualquer relacionamento ilícito com o Januário Paludo, pessoa a quem respeito e sempre foi correto. A investigação da força-tarefa do Rio de Janeiro está repleta de abusos, desde coação de colaboração, subtração de provas da defesa, até a declaração de suspeição do procurador que encabeçou a investigação. Nada disso foi noticiado, limitando-se a imprensa a falar de uma denúncia que se baseia em depoimentos de pessoas que nunca falaram comigo ou de colaboradores que afirmam que um terceiro pedia dinheiro em meu nome, sendo que essa pessoa, sócio do Messer e colaborador do MPF, negou peremptoriamente que eu ou alguém do meu escritório tivesse pedido ou recebido dinheiro. Esses depoimentos foram ocultados da denúncia. Existem inúmeras irregularidades que irei provar. Por fim , não tenho qualquer relação com a força-tarefa do Paraná, e o Messer nunca fez acordo no Paraná.”
Com informações, Conjur e The Intercept Brasil.