Em Israel, a perda devastadora causada pelo conflito com o Hamas levou muitos pais enlutados a tomar uma decisão difícil: solicitar a extração e armazenamento do esperma de seus filhos falecidos, muitos dos quais eram soldados.
Desde os ataques de 7 de outubro, as regras para esse procedimento foram flexibilizadas, mas as famílias ainda enfrentam uma série de burocracias com os processos legais.
Em relato à BBC News, Avi Harush, com a voz embargada pela dor, recordou o momento em que soube da morte de seu filho, Reef, de 20 anos, em combate no sul da Faixa de Gaza. Quando recebeu a notícia, foi informado da possibilidade de extrair o esperma de Reef.
“Disseram que Reef estava dentro do prazo para a extração e perguntaram se estávamos interessados”, contou Avi. Ele não hesitou em responder. “Reef adorava crianças e queria ser pai. Apesar da dor imensa, decidimos seguir em frente e manter a sua memória viva”, justificou.
Reef, que não tinha esposa nem namorada, agora é um dos pretendentes de dezenas de judias. Várias mulheres se ofereceram para gerar um filho em sua memória, uma oferta que Avi vê como uma forma de encontrar algum consolo. “Essa ideia nos dá algo para nos agarrar”, diz ele. “Agora é a missão da minha vida”, emendou.
Desde os ataques de 7 de outubro, cerca de 170 homens jovens — civis e soldados — tiveram seus espermatozoides extraídos, conforme informações do ministério da Saúde de Israel. Esse número é aproximadamente 15 vezes maior do que no mesmo período em anos anteriores.
O procedimento para a extração envolve uma incisão no testículo, a partir da qual é removido um pequeno pedaço de tecido. As células espermáticas vivas são então isoladas em laboratório e congeladas. Para aumentar as chances de sucesso, a extração deve ser realizada dentro de 24 horas após a morte, embora as células possam sobreviver até 72 horas.
Em comparação, em alguns países, como França, Alemanha e Suécia, esse procedimento é totalmente proibido. Outros, como o Brasil, impõem regras rigorosas que exigem o consentimento explícito do falecido antes da morte. No entanto, em outubro, o ministério da Saúde de Israel isentou a necessidade de uma ordem judicial para que os pais pudessem solicitar a extração, e as Forças de Defesa de Israel (IDF) têm se mostrado mais proativas em oferecer esse serviço aos pais enlutados.