Pedófilos descobrem como é fácil obter vídeos mostrando meninos e meninas pela coluna de recomendações do YouTube.
Crianças dando cambalhotas, brincando no escorregador, subindo em árvores, rolando na areia da praia, meninas fazendo espacate ou “dando uma estrelinha”; filmes com tais travessuras, são carregados diariamente por milhares de pais e filhos no YouTube.
Isso parece ser inofensivo, mas há um lado sombrio, que o YouTuber americano, Matt Watson, descobriu e sinalizou a questão, em um post crítico do Reddit, no dia 17 deste mês.
Watson encontrou dezenas de vídeos de crianças, nos quais “usuários” pedófilos do YouTube, trocam comentários impróprios e mostram a hora exata do clipe, em que uma criança toma inadvertidamente, uma postura “imprópria” ou “sexual”.
Outros, também pedófilos, reagem a estes comentários, solicitando dicas para mais vídeos com imagens semelhantes. Além disso, Watson encontrou evidências de que alguns dos vídeos estão sendo monetizados.
O funcionamento do círculo de pedófilos na plataforma
Ao assistimos a um vídeo no YouTube, este recomenda conteúdos semelhantes na coluna da direita. Geralmente, são vídeos que o algoritmo identifica ser de nosso interesse, considerando outros vídeos que visualizamos e canais nos quais estamos inscritos.
Este algoritmo de recomendações é a terrível ferramenta descoberta por pedófilos, para chegar aos vídeos com crianças. Frequentemente, estes deixam os seus comentários nos filmes, e se referem nas reações a momentos em um vídeo que consideram sexuais.
Por exemplo, se as crianças adotarem, sem intenção, uma pose “sexualmente sugestiva”. Estes “usuários” colocam um “código de tempo”, do tal momento do vídeo, nas reações. Outros podem clicar nesse “código”, gostar ou pedir outros vídeos onde imagens semelhantes possam ser vistas.
Casos
O jornal britânico The Times selecionou mais de 100 ocorrências, em que crianças são induzidas por pedófilos a publicar poses comprometedoras, e até mesmo à nudez.
Eles seduzem as crianças, com a promessa de ganho de novos seguidores.
Houve casos de meninas se despirem, atendendo ao pedido de um adulto nos comentários.
Em outra situação, uma criança foi instruída a se masturbar.
Empresas suspendem publicidade
Dias depois de Watson acusar a plataforma de permitir um “círculo de pedofilia”, a Disney anunciou a interrupção da sua publicidade no YouTube.
Pois, em vários vídeos que foram mal utilizados por este grupo, um anúncio da empresa foi exibido.
Entre outras empresas, também suspenderam suas publicidades, a Nestlé, a Dr. Oetker, a Epic, a Purina, GNC, Fairlife, Canada Goose, Vitacost e o McDonald’s.
Alguns anunciantes, como o Peloton e o Grammarly, comunicaram que já estão em contato com o YouTube para resolver o problema.
Alerta aos pais
Esta perturbadora situação, levantou a questão da responsabilidade dos pais em proteger seus filhos nas plataformas digitais.
É dever dos pais utilizar as mídias sociais com prudência, e também instruir seus filhos no uso adequado desta mesma.
Um diálogo alertando as crianças dos perigos existentes e esclarecendo as consequências de que, quando se coloca algo na internet não tem volta, é primordial.
Dicas de proteção digital dos filhos
Muitos pais, não conseguem acompanhar a rápida evolução tecnológica e o novo meio social cibernético, em que seus filhos convivem diariamente. Porém, isto não reduz a responsabilidade destes, no cuidado com os seus rebentos.
É possível explicar de forma prática aos filhos a impossibilidade de voltar atrás, após imagens e palavras alcançarem o mundo digital.
Uma sábia analogia e de fácil entendimento para as crianças, é feita com a pasta de dente. Instrua seu filho a espremê-la, fazendo o conteúdo sair do tubo.
Em seguida, peça a ele, que tente colocar o mesmo conteúdo, novamente neste tubo de pasta. A missão será praticamente impossível.
Da mesma maneira, acontece com as imagens e as palavras, ao serem publicadas no mundo digital, não temos mais como resgatá-las. Serão espalhadas incontrolavelmente.
Apresentamos a seguir, algumas dicas aos pais:
— Aprofunde-se no mundo on-line de seus filhos.
— Crie uma conta nas mesmas mídias utilizadas pelos filhos, sigam um ao outro e conversem sobre isto.
— Ao fazer um vídeo de seus filhos para o YouTube, é importante tomar cuidado em não os expor, de forma que possa fornecer material a pedófilos.
— Quando um filho quiser fazer seus próprios vídeos para o YouTube, explique a importância de mostrá-los primeiro a você. Pois, ao compartilhar algo online, milhões de pessoas poderão olhar e reproduzir o conteúdo em círculos impróprios.
— Evite publicar fotos e vídeos de seus filhos em trajes de banho, roupas íntimas e vestes curtas.
— Verifique os comentários postados.
— Preste atenção aos códigos de tempo suspeitos nos comentários dos vídeos. Por exemplo, algo como “1:13 uma maravilha”, remova estes comentários, denuncie e bloqueie o usuário.
A Responsabilidade
A obrigação de plataformas como o YouTube em proteger as crianças deve ser cobrada, tendo em vista que este tem facilitado e monetizado a exploração sexual de crianças.
Em reação ao escândalo, o YouTube anunciou mudanças rigorosas em suas políticas internas, repudiou a prática desses grupos de pedófilos e se comprometeu em combater agressivamente, comentários sobre vídeos de crianças, reportando-os às autoridades competentes.
Além disso, passou a desmonetizar os vídeos, quando encontrado conteúdo que viola suas políticas, ou até mesmo, removê-los por completo.
No entanto, o porta-voz deste, enfatizou que a maioria dos vídeos sinalizados por Watson, são gravações inocentes de crianças fazendo coisas cotidianas.
Porém, estas estão sendo exploradas de forma abusiva.
Sem dúvida, uma pressão política é necessária para que haja uma legislação explícita sobre segurança nas mídias sociais e os deveres dos respectivos responsáveis.
Enfim, seria muito cômodo e injusto, responsabilizar somente as plataformas digitais.
Pois, a responsabilidade maioral sobre os atos dos filhos, ainda recai sobre os pais, inclusive na internet.
Deixemos a ingenuidade, e passemos a ser mais alerta.
O perigo não mora mais ao lado, mas pode estar dentro dos lares através do mundo virtual.