As eleições locais em Hong Kong terminaram com uma participação recorde e uma vitória retumbante para o bloco pró-democracia e anti-China.
Há cinco meses a população do território semiautônomo de Hong Kong está nas ruas e protestos em massa ocorrem contra a influência do governo comunista da China. Os protestos iniciaram em junho passado, quando o governo de Hong Kong quis aprovar uma lei que tornaria simples a extradição de suspeitos para a China.
A relação entre China e Hong Kong sempre foi sensível. Desde que a Grã-Bretanha deu sua colônia Hong Kong à China em 1997, Hong Kong foi autonomamente governada por sua própria constituição, de acordo com o princípio “um país, dois sistemas”. Os sete milhões de cidadãos de Hong Kong estão sob a soberania da China, mas – ao contrário do povo da República Popular Comunista – têm mais direitos, como liberdade de expressão e liberdade de reunião.
O governo de Hong Kong retirou a proposta da lei de extradição sob pressão do protesto em massa, mas o movimento de protesto continua agora a focar na influência da ditadura chinesa em geral. Durante os protestos, duas pessoas foram mortas e centenas ficaram feridas nos últimos meses.
Eleições
Neste último domingo (24), os moradores de Hong Kong foram autorizados a ir às urnas. As eleições foram sobre a ocupação dos 18 conselhos distritais de Hong Kong. Como os distritos da região têm poder limitado, as eleições serviram principalmente para confirmar quantas pessoas em Hong Kong ainda apoiam a líder Carrie Lam. A principal questão era se os candidatos pró-China ganhariam ou os candidatos pró-democracia e anti-China.
Dos 18 distritos que administram assuntos diários em Hong Kong, há agora pelo menos 17 em que candidatos pró-democracia e anti-China obtiveram maioria. Eles obtiveram 351 assentos, mais da metade do total de 452 assentos. Os números representam uma rápida ascensão, que quase triplica os assentos das eleições anteriores de 2015.
Este resultado eleitoral significa um voto de confiança no governo de Hong Kong. Os manifestantes sempre disseram que têm o apoio do povo e as urnas comprovaram esta afirmação.
Participação alta
Em um clima tranquilo, as eleições transcorreram sem grandes perturbações e a taxa de participação de 71,2% foi a mais elevada da história de Hong Kong. Nas eleições anteriores, apenas 47% foram às urnas.
Mesmo no início da manhã de domingo, já havia filas muito longas para votar; algo sem precedentes para Hong Kong.
Governo
O resultado da eleição não afetará diretamente o governo de Hong Kong, pois os distritos têm pouco poder político. Eles são voltados principalmente para administração direta da cidade.
No entanto, o resultado terá um impacto direto nas eleições para o maior líder de Hong Kong, que ocorrerá em 2022. 117 dos presidentes de distrito poderão participar de um comitê de 1.200 pessoas que decidirá quem será o sucessor de Carrie Lam.
Apesar desses 117 presidentes de distrito ainda serem minoria neste comitê, haverá uma mudança.
O que ainda não está definido é como Hong Kong reagirá à voz do povo nas urnas. O país não poderá ignorar completamente os resultados das eleições.
A líder Carrie Lam se manifestou após as eleições e disse que “aceita os resultados dela”, mas acredita que “Hong Kong ainda superará isso”. Lam provavelmente não esperava esse resultado esmagador das eleições e deve primeiro considerar como responderá à vontade popular.
Há uma possibilidade de Lam renunciar ao cargo. Ela disse anteriormente que renunciaria se a população não a apoiasse mais. Mas, o governo terá que aprovar seu possível pedido demissão.
Protestos
Os protestos continuaram porque os manifestantes em Hong Kong não se sentiram ouvidos. Agora, a comunidade internacional estará observando como Hong Kong responderá aos resultados das eleições.
É possível que os manifestantes optem por dar uma pequena pausa nas manifestações.
Inicialmente, eles exigiam apenas a retirada da lei de extradição. Agora, eles também querem que o governo não rotule as manifestações como ‘motins’, solte todos os manifestantes detidos e tenha uma comissão independente para investigar a violência policial usada. Eles também querem o sufrágio universal – o pleno direito ao voto de todos cidadãos adultos, independente de alfabetização, classe, renda ou etnia, salvo exceções menores – e a renúncia de Lam.