O escritor de suspense, Dean Koontz, previu o surto do atual vírus corona há quase quarenta anos? Em seu livro “The Eyes of Darkness” (Os Olhos da Escuridão), escrito em 1981, o americano escreve sobre uma “arma biológica” chamada “Wuhan-400” que causaria pânico em todo o mundo.
O escritor de ficção – que frequentemente incorpora elementos de horror, ficção científica e mistério em seus ‘thrillers’ (suspenses) – forneceu uma descrição de um vírus que, para muitos, é assustadoramente semelhante ao “Covid-19”.
“Um cientista chinês chamado Li Chen fugiu para os EUA com um disquete com informações sobre a nova e mais perigosa arma biológica da China”, diz o livro de 312 páginas. “Eles chamam de “Wuhan-400″ porque foi desenvolvido em laboratórios perto da cidade de Wuhan”.
The eyes of darkness conta a história de Tina Evans, que busca descobrir o que realmente aconteceu com seu filho Danny. O menino é dado como morto após um acidente, mas, cerca de um ano depois, ao entrar no quarto do garoto, Tina vê uma mensagem escrita no quadro-negro que há no cômodo: “Não morreu”.
O filho da protagonista é detido em uma unidade militar, depois de ter sido infectado com o microrganismo produzido pelos seres humanos.
Koontz escreveu que o Wuhan-400 foi desenvolvido como uma “arma perfeita”: afetava apenas as pessoas e não podia sobreviver fora de um corpo humano vivo por mais de um minuto. Era uma arma biológica projetada para matar pessoas, mas acidentalmente deu a uma criança habilidades psíquicas.
Décadas depois, seu romance está circulando on-line, com sugestões de que Koontz previu o coronavírus de 2019.
Uma postagem no Facebook inclui 3 fotos: duas páginas do livro e uma mostrando a capa do romance de Koontz, ‘The Eyes of Darkness’.
A legenda diz: “Koontz escreveu este livro no início dos anos 80 e descreveu o vírus Corona. Interessante.”
Instituto de Virologia de Wuhan
Várias pessoas estão convencidas de que não é uma história fictícia que Koontz escreveu no início dos anos 80. Elas acreditam que o “centro de pesquisa” descrito no livro é o Instituto Wuhan de Virologia.
De fato, existe um laboratório deste instituto que possui a mais alta classificação de laboratórios que estuda os vírus mais mortais. Ele está localizado a cerca de 30 quilômetros de onde “Covid-19” estourou pela primeira vez.
A China construiu um laboratório em Wuhan para estudar alguns dos vírus mais perigosos do mundo, o SARS e o Ebola – e especialistas em biossegurança dos EUA alertaram em 2017 que o vírus poderia “escapar” da instalação que se tornou essencial no combate ao surto.
Acredita-se que um mercado de peixe em Wuhan seja o local onde o vírus mortal se espalhou. Ele fica a cerca de 32 quilômetros do Laboratório Nacional de Biossegurança de Wuhan, que abrigava patógenos perigosos, incluindo SARS e Ebola.
Em 2017, quando a inauguração do laboratório se aproximava, cientistas americanos publicaram na revista Nature suas preocupações de que esses vírus assassinos pudesse “escapar” e infectar pessoas. Tim Trevan, consultor de biossegurança de Maryland, nos EUA, disse que temia que a cultura da China pudesse tornar o instituto inseguro, porque uma “estrutura em que todos se sentissem à vontade para falar e que tivesse uma abertura de informações seria importante”.
O vírus da SARS – que entre 2002 e 2004 infectou 8.098 pessoas e matou 774 – havia ‘escapado’ várias vezes de um laboratório em Pequim, antes da abertura do laboratório de Wuhan, segundo o artigo da Nature. A China instalou o primeiro dos 5 a 7 biolaboratórios planejados e projetados para a máxima segurança em Wuhan em 2017, com o objetivo de estudar os patógenos de maior risco, como o SARS.
O laboratório, instalado no Instituto de Virologia Wuhan, foi construído em 2015 e ficou pronto em 2017. Ele foi o primeiro laboratório do país projetado para atender aos padrões de biossegurança nível 4 (BSL-4) – o mais alto nível de risco biológico, o que significa que seria qualificado para lidar com os patógenos mais perigosos. Os laboratórios da BSL-4 devem ser equipados com roupas de proteção especiais ou espaços especiais de trabalho em gabinetes, nos quais são confinados vírus e bactérias que podem ser transmitidos pelo ar para caixas seladas que os cientistas alcançam usando luvas de alta qualidade. Existem cerca de 54 laboratórios BSL-4 em todo o mundo. O primeiro da China, em Wuhan, recebeu credenciamento federal em janeiro de 2017.
Apesar dos primeiros temores sobre a contaminação em massa, especialistas chineses disseram que “atualmente não há suspeitas de que a instalação tenha algo a ver com o atual surto”, detectado pela primeira vez na China em dezembro do ano passado.
O microbiologista da Universidade Rutgers, Richard Ebright – e também responsável pelo sequenciamento de genoma crucial que permite aos médicos diagnosticar o vírus – disse ao Daily Mail que “não há motivos para suspeitar de que o laboratório esteja conectado ao vírus corona em Wuhan”.
De acordo com Guizhen Wu, da revista Biosafety and Health, o laboratório de Wuhan estava operacional ‘para experimentos globais em patógenos BSL-4’ desde janeiro de 2018.
“Após um incidente de vazamento de laboratório da SARS em 2004, o Ministério da Saúde da China iniciou a construção de laboratórios de preservação de patógenos de alto nível, como SARS, vírus corona e vírus de gripe pandêmica”, disse Guizhen Wu.
Os cientistas americanos que alertaram dos riscos em 2017 disseram à Revista Nature que o trabalho realizado em Wuhan era importante para o desenvolvimento de vacinas e tratamentos. Isso incluiu a realização de testes em animais, incluindo macacos, já que os regulamentos para pesquisas com animais são muito mais flexíveis na China do que nos países ocidentais. O mais recente surto do vírus corona, que atualmente os cientistas acreditam ter sofrido mutação para infectar pessoas por meio de contato animal-humano, agora se espalhou para outros países, chegando ao Brasil.
Covid-19 x Wuhan-400
O Wuhan-400 tem algumas semelhanças com o Covid-19, mas as “previsões” de Koontz não se encaixam perfeitamente nas características do Covid-19.
O Wuhan-400 foi mencionado na versão original do livro como ‘Gorki-400’. Naquela época, o que preocupava era a Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética. Somente em 2008 o nome foi alterado para Wuhan-400 e várias passagens do romance foram alteradas.
Ambos têm uma associação com a cidade chinesa de Wuhan. A doença fictícia de Koontz foi desenvolvida por pesquisadores de um laboratório. Embora não haja evidências de que o Covid-19 tenha sido criado em um laboratório ou tenha sido projetado por pessoas, essa hipótese não deve ser totalmente descartada.
O romance também diz que Wuhan-400 “afeta apenas seres humanos” e que “nenhuma outra criatura viva pode transmiti-lo”. Acredita-se, porém, que o Covid-19, segundo cientistas, tenha passado para os humanos a partir de animais.
No livro, a arma é mortal: com uma taxa de mortalidade de 100%, enquanto o atual vírus corona, apresentou até o momento no máximo – as opiniões diferem – 2%.
O período de incubação também é muito diferente. O fictício “Wuhan-400” tem um período de incubação extremamente rápido de cerca de 4 horas, em comparação com o COVID-19, que tem um período de incubação entre de 14 dias ou até mais, apresentando casos de 24, 27 e até 34 dias.
Casos graves de Covid-19 podem causar pneumonia e falta de ar, mas a Organização Mundial da Saúde diz que a maioria das vítimas se recuperará. E testes para vacinas e outros tratamentos em potencial estão sendo realizados.
Covid-19
Os coronavírus são um grupo de vírus que causa doenças que variam do resfriado comum a doenças mais graves. Um surto de uma nova cepa, chamada Covid-19, foi identificado em Wuhan, China, no final de dezembro de 2019.
De acordo com a atualização mais recente da Organização Mundial da Saúde sobre o surto, em 26 de fevereiro de 2020, o vírus já matou 2.770 pessoas.
Houve 81.280 casos confirmados de infecção por Covid-19 em todo o mundo, a maioria deles na China.