O conselho editorial do jornal The New York Times está pressionando o presidente Joe Biden a abrir espaço para um novo desafiante Democrata na corrida presidencial contra o ex-presidente Donald Trump, após o desempenho fraco de Biden no debate.
“O presidente Biden descreveu repetidamente e com razão as apostas na eleição presidencial de novembro como nada menos que o futuro da democracia americana,” escreveu o jornal em editorial publicado na noite de sexta-feira (28).
“Biden disse que ele é o candidato com a melhor chance de enfrentar essa ameaça de tirania e derrotá-la. Seu argumento se baseia amplamente no fato de que ele derrotou Trump em 2020. Isso já não é uma justificativa suficiente para que Biden seja o candidato Democrata este ano,” acrescenta o texto.
O editorial foi publicado um dia após Biden ter dificuldade em formar frases coerentes durante o primeiro debate presidencial, mostrando sinais de sua idade avançada e gerando preocupação imediata entre muitos comentaristas e eleitores democratas.
Enquanto isso, Biden tentou minimizar seu desempenho ruim no debate durante um comício na Carolina do Norte nesta sexta-feira (28). “Eu não debato tão bem como antes,” disse Biden, enquanto seus apoiadores aplaudiam.
“Eu sei o que sei. Sei como dizer a verdade. Sei o certo e o errado. Sei como fazer este trabalho. Sei como fazer as coisas acontecerem. Sei, como milhões de americanos, que quando você cai, você se levanta novamente,” acrescentou o presidente.
Mas o conselho editorial do NYT não aceitou essa justificativa, afirmando que Biden “não é o homem que era há quatro anos”.
“O presidente apareceu na quinta-feira (27) à noite como a sombra de um grande servidor público. Ele teve dificuldade em explicar o que realizaria em um segundo mandato. Teve dificuldade em responder às provocações de Trump e responsabilizá-lo por suas mentiras, suas falhas e seus planos assustadores. Mais de uma vez, Biden teve dificuldade em terminar uma frase,” apontou o jornal.
O texto acrescenta: “Biden foi um presidente admirável. Sob sua liderança, a nação prosperou e começou a enfrentar uma série de desafios de longo prazo, e as feridas abertas por Trump começaram a cicatrizar. Mas o maior serviço público que Biden pode agora prestar é anunciar que não continuará concorrendo à reeleição.”
Aposta imprudente
Embora o conselho editorial tenha reconhecido que Biden ainda seria sua “escolha inequívoca” em um confronto direto contra Trump, argumentou que manter Biden na corrida representaria uma “aposta imprudente”, pois há outros democratas “mais bem preparados para apresentar alternativas claras, convincentes e enérgicas a um segundo mandato de Trump”.
“Não há razão para o partido arriscar a estabilidade e a segurança do país forçando os eleitores a escolher entre as deficiências de Trump e as de Biden. É uma aposta muito grande simplesmente esperar que os americanos ignorem ou desconsiderem a idade e a fragilidade de Biden que veem com seus próprios olhos,” acrescentou o texto editorial do NYT.
Os Democratas devem agora “encontrar coragem para falar verdades claras ao líder do partido,” escreve o conselho editorial, acrescentando que os aliados de Biden, que trabalharam para protegê-lo de aparições não roteirizadas em público, devem “reconhecer os danos à posição de Biden e a improbabilidade de que ele possa repará-los.”
Apesar do pânico imediato de comentaristas da CNN e MSNBC, muitos democratas defenderam Biden desde então, incluindo os ex-presidentes Barack Obama e Bill Clinton, a ex-presidente da Câmara Nancy Pelosi, o líder da minoria na Câmara Hakeem Jeffries e Jim Clyburn.
A campanha de Biden, por sua vez, procurou minimizar o editorial.
“A última vez que Joe Biden perdeu o endosso do conselho editorial do New York Times, isso acabou sendo muito bom para ele,” disse o copresidente da campanha de Biden, Cedric Richmond, em resposta, referindo-se à decisão do jornal de apoiar as senadoras Elizabeth Warren e Amy Klobuchar nas primárias democratas de 2020, antes de Biden finalmente ganhar a indicação.