A jovem jiadista alemã, Jennifer W., de 28 anos, ganhava seu dinheiro na “Hisbah”, “a polícia da moralidade” do Estado Islâmico (EI). Mas Jennifer retornou à Alemanha. E agora, ela está sendo julgada pela morte de sua escrava doméstica, uma menina de 5 anos de idade.
Nesta última semana, Jennifer tentou se esconder das câmeras, durante a sessão de abertura do tribunal de Munique. Jennifer W., de Lohne, no norte da Alemanha. De unhas bem cuidadas e cabelos bem tratados, talvez a conselho de seus advogados, ela compareceu ao tribunal.
Esta jovem jiadista de 28 anos não é apenas mais uma noiva do EI, que retorna ao seu país de origem. Na época do Califado, ela patrulhou armada, pelos parques das cidades ocupadas pelo EI de Falluja e Mosul. Como agente da “polícia da moralidade” dos jihadistas, Jennifer abordava as mulheres por causa de suas roupas, relatou o jornal alemão Die Welt.
Jennifer contou tudo o que fazia a um homem, em quem confiava e que a levaria para a Turquia, para uma segunda missão para o califado. No entanto, este homem na verdade, trabalhava para um serviço secreto americano. E em seu carro haviam equipamentos de escuta.
A alemã revelou sua terrível história, que agora, pode custar a sua própria liberdade; e pelo menos, por “negligência criminosa”.
Jennifer está em julgamento em Munique, na Alemanha, pela morte desta menina de 5 anos, uma criança de uma minoria religiosa yazidi, do Iraque. A jiadista comprou a menina no mercado de escravos no verão de 2015. Muitas crianças e mulheres yazidis foram vendidas ou doadas ao EI.
Jennifer era então, casada com Abu Maawi, um combatente do EI. Ela contou sua história no carro, a caminho da Turquia. A menina ficou doente e teria molhado seu colchão duas vezes. Razão suficiente para seu marido punir a criança e a algemar, deixando-a exposta ao sol ardente. Ela desidratou e morreu, a uma temperatura de mais de 40 graus Celsius.
“Embora ela tenha reconhecido que a criança morreu por desidratação, ela não fez nada. Ela não cuidou da criança, não a hidratou e não soltou suas algemas “, disse a acusação. Em algum momento, a alemã teria levado um copo de água à menina, mas foi tarde demais. Negligência criminosa levou à morte da criança.
Durante a primeira sessão, o advogado da jiadista indagou o promotor: “Ela não fez nada, como ela seria capaz de fazer algo com a presença do marido?”
Testemunhas
O processo continuará, e algumas testemunhas importantes são esperadas. Uma delas é Nora B., a mãe da menina morta. Ela é assistida por Amal Clooney, a conhecida advogada internacional de direitos humanos e esposa do ator George Clooney.
Nora B. disse anteriormente à mídia alemã, como sua filha havia sido humilhada; e muitas vezes recebeu golpes do marido de Jennifer. “Porque ela era yazidi e não muçulmana”.
Vítimas Yazidis
O caso é seguido, entre outros, por Nadia Murad, que foi sequestrada e ex-escrava sexual do EI, que se tornou uma escritora famosa e venceu o Prêmio Nobel.
“Este caso é importante para todos os yazidis que sobreviveram”, disse Murad ao The New York Times. “Todo sobrevivente com quem conversei está à espera da mesma coisa – que criminosos sejam processados, por causa do que fizeram com os yazidis, incluindo mulheres e crianças.”
Nora B. havia sido capturada pelo EI na Síria; seus dois filhos foram tirados dela. Sua filha foi autorizada a ficar, mas em seguida também foi vendida.
Inúmeras mulheres e meninas yazidis tiveram o mesmo destino e se tornaram escravas domésticas ou sexuais. O caso contra Jennifer W., portanto, tem o apoio da Yazda, uma organização que faz um inventário dos crimes contra Jezidi.
Como outros países da Europa Ocidental, a Alemanha tem o problema de mulheres que viajaram consciente e voluntariamente para o califado; e que podem ou não, estar ativamente envolvidas em um regime criminoso por lá.
Pouco se sabe sobre Jennifer W.. Exceto, que depois de terminar os estudos, ela não conseguiu um emprego e levava uma vida pouco excitante, na pacata cidade de Lohne (Oldenburg), na Alemanha.
Não se sabe o motivo de sua radicalização e a sua escolha de ir o Califado, como uma futura noiva do EI. Espera-se que tudo fique mais claro nas próximas semanas.
Passado
Sua história era conhecida em Lohne, mas ninguém conhecia os detalhes. A mídia alemã relatou, que Jennifer era uma estudante tranquila no ensino médio. Mas de repente, começou a usar o véu islâmico, aos 17 anos.
Segundo a mídia local, primeiro, ela quis lutar pelo PKK curdo. Porém, isso mudou, quando ela se converteu ao islamismo em 2013.
Na época, um refugiado sírio em sua cidade natal, notou que ela estava andando com uma bolsa que dizia “mártir” em árabe.
Jennifer ficou temporariamente em Raqqa, capital do califado EI. Em 2016, a jiadista retornou, depois de solicitar um novo passaporte alemão na Turquia.
Aparentemente não satisfeita na Alemanha, ela volta ao território do EI pela segunda vez. É suposto, que Jennifer tenha se casado novamente, com outro combatente do EI, com quem ela tem uma filha.
Para ser levada ao califado, ela procurou por simpatizantes. E encontrou “um”, o agente secreto americano. E o plano americano foi bem-sucedido. Conseguiram documentar as provas, o que agora pode resultar em sua prisão por muitos anos.
Há muitas outras acusações contra Jennifer, como a do seu comportamento abusivo como membro do esquadrão da “polícia da moralidade”. Recebendo um salário de cerca de 437 reais por mês, a jiadista ameaçou outras mulheres com uma kalashnikov, e colocou cinturão de bombas em torno delas.
Ela também teria posto uma arma na cabeça da mãe da menina yazidi, e ameaçado matá-la, caso ela não se comportasse.
Em 29 de abril, o processo contra a jiadista Jennifer W. será retomado na Alemanha, com a presença de novas testemunhas.