A China está espalhando sua influência no mundo por todos os meios, incluindo a desinformação. É o que afirma um relatório de 650 páginas do Instituto de Pesquisa Estratégica da Escola Militar da França (IRSEM) divulgado nesta segunda-feira (20).
O IRSEM é um órgão externo da Direção-Geral de Relações Internacionais e Estratégia (DGRIS) do Ministério das Forças Armadas francesa.
O texto afirma que todos os golpes são permitidos para que os chineses sejam a primeira potência mundial. Geopoliticamente, Pequim não mede esforços para desestabilizar seus adversários.
Segundo o relatório, as autoridades chinesas possuem um exército de desinformadores cujo quartel-general está localizado na Base 311 do Exército Popular. Esta base se encontra em Fuzhou, no sul do país, e realiza operações de influência através de rádios, editoras, universidades.
O documento revela números preocupantes: 2 milhões de chineses seriam pagos em tempo integral para veicular a propaganda do regime do Partido Comunista Chinês e 20 milhões atuariam em meio período, para sobrecarregar as redes sociais e criar falsos movimentos espontâneos.
França
A França não é poupada pelas manobras de desestabilização chinesas. O relatório do IRSEM aponta o dedo para a editora “La Route de la Soie” e seu jornal Dialogue Chine France (publicado por uma organização ligada ao Partido Comunista Chinês), o think tank “The Bridge Tank” (que organiza eventos financiados pela Embaixada da China), a fundação “Prospectiva e Inovação” presidida por Jean-Pierre Raffarin e o think tank IRIS (Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas) que, em determinados eventos específicos, daria lugar de destaque a posições de Pequim. Mas a França não é um alvo prioritário da China, segundo o relatório. Com exceção da Nova Caledônia, onde as redes chinesas apoiam movimentos de independência, com a esperança de reunir o território com a zona de influência da China no Pacífico e, ao mesmo tempo, capturar seus recursos de níquel.
Suécia, alvo número um na Europa
Em sua vizinhança imediata, a China tem como alvo primeiro Taiwan, com várias operações de desinformação. Mas também tem dois alvos mais distantes: Canadá e Suécia, sendo o último país seu alvo prioritário na Europa. A China está interessada nele por vários motivos: sua posição geográfica (porta de entrada para o Ártico e a Europa), seus setores de tecnologia de ponta, sua imagem de país modelo. Portanto, é um cavalo de Troia. Mas Pequim mudou sua estratégia recentemente da sedução para a agressão. Em particular, ao organizar toda uma operação de desinformação sobre um alegado caso de turistas chineses alegadamente “agredidos pela polícia sueca”. Trata-se de desestabilizar o modelo ao tentar convencer o público chinês da violência do sistema europeu.
As estranhas construções chinesas na África
O relatório observa que, nos últimos 50 anos, as empresas chinesas construíram ou reformaram 186 edifícios governamentais na África, incluindo Namíbia, Angola, Gana e Uganda. Incluídos no lote estão 24 palácios presidenciais ou de primeiros-ministros. Além disso, há a criação de 14 redes de telecomunicações governamentais sensíveis e o equipamento de TI de 35 governos africanos. Tudo construído a cada vez por empresas ligadas ao poder do Partido Comunista Chinês. Esta situação levanta questões, pois as revelações em 2018 mostraram que a sede da União Africana em Addis Abeba, também construída pelos chineses, tinha sido crivada de microfones e computadores equipados com sistemas espiões.
Agressiva, mas nem sempre eficaz
Os autores do relatório, Paul Charon e Jean-Baptiste Jeangène Vilmer, enfatizam que essa estratégia chinesa total costuma ser ineficaz ou mesmo contraproducente. A escolha da China nos últimos anos tem sido a agressividade, mais temida do que seduzida. A consequência é uma degradação duradoura de sua imagem no exterior. Mas seu objetivo prioritário está em outro lugar: controlar a situação dentro do país.