Sintomas neurológicos e psiquiátricos, como anosmia (perda total do olfato) e depressão, são comuns entre pessoas com Covid-19 e podem ser igualmente prováveis em pessoas com casos leves, sugere uma nova pesquisa divulgada recentemente.
As evidências de 215 estudos de pessoas com a doença indicam uma ampla gama de maneiras pelas quais a condição pode afetar a saúde mental e o cérebro.
Os estudos, de 30 países, envolveram um total de 105.638 pessoas com sintomas agudos do novo coronavírus, incluindo dados até julho de 2020.
“Esperávamos que os sintomas neurológicos e psiquiátricos fossem mais comuns em casos graves, mas, em vez disso, descobrimos que alguns sintomas pareciam ser mais comuns em casos leves”, disse Jonathan Rogers, da University College London, principal autor do estudo.
“Parece que a Covid-19, que afeta a saúde mental e o cérebro, é a norma, e não a exceção”, acrescentou.
Os sintomas neurológicos e psiquiátricos mais comuns foram anosmia (perda do olfato), relatada por 43% das pessoas com a doença, fraqueza (40%), fadiga (38%), perda do paladar (37%), dores musculares (25%), depressão (23%), dor de cabeça (21%) e ansiedade (16%).
As principais condições neurológicas ocorreram mais raramente, como acidente vascular cerebral isquêmico, visto em 1,9% dos casos no conjunto de dados, acidente vascular cerebral hemorrágico (0,4%) e convulsão (0,06%).
Pessoas com a doença em seu estado grave estavam super-representadas no conjunto de dados, já que a maioria dos estudos se concentrava em pessoas internadas em hospitais, e mesmo os estudos de pessoas fora dos hospitais incluíam poucas com sintomas muito leves ou nenhum sintoma.
No entanto, o estudo aponta que entre as pessoas com Covid-19 aguda sintomática que não foram internadas no hospital, os sintomas neurológicos ainda eram comuns.
Neste grupo, 55% relataram fadiga, 52% perda do olfato, 47% dor muscular, 45% perda do paladar e 44% relataram dores de cabeça.
Os pesquisadores disseram que é possível que tais sintomas sejam tão comuns em casos graves, já que sintomas leves podem não ser relatados por um paciente em cuidados intensivos.
Embora a pesquisa não tenha investigado os mecanismos causais, os pesquisadores sugeriram algumas explicações possíveis, incluindo inflamação ou fornecimento de oxigênio prejudicado ao cérebro.
Fatores psicossociais relacionados ao contexto da pandemia também podem desempenhar um papel, disseram os pesquisadores. Isso pode ser porque as pessoas com doenças agudas podem se sentir isoladas quando não podem ver sua família ou amigos, o que pode explicar o porquê a depressão e a ansiedade foram encontradas em alguns estudos de pessoas com coronavírus como mais comuns do que em outras doenças virais como a gripe.
“Com milhões de pessoas infectadas globalmente, mesmo os sintomas mais raros podem afetar substancialmente mais pessoas do que em tempos normais”, disse Alasdair Rooney, da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, coautor do estudo. “Os serviços de saúde mental e serviços de reabilitação neurológica devem ter recursos para um aumento nas referências”, completou.