As vítimas de abuso sexual da Igreja Batista do Sul julgaram como “muito branda”, a decisão tomada pela liderança desta igreja, nos Estados Unidos, por investigar “apenas” três, das dez igrejas acusadas.
Durante mais de 20 anos, 700 vítimas sofreram abuso sexual por parte de pelo menos 380 homens ligados à Igreja Batista do Sul, nos Estados Unidos. Em uma ampla investigação dos jornais texanos, Houston Chronicle e San Antonio, foi encontrado documentos de tribunais estaduais e federais do país, assim como, registros de estabelecimentos prisionais de vários estados.
220 dos 380 homens identificados, foram acusados. 90 dos 220, cumprem pena de prisão e 100 estão registrados como abusadores sexuais no país. A lista contém pessoas ligadas à igreja: pastores, diáconos, professores de catequese, organizadores de solenidades religiosas e voluntários.
Igreja Batista do Sul
A Convenção Batista do Sul, com mais de 15 milhões de membros e 47.000 congregações, já foi a maior igreja protestante dos EUA. A imagem de uma comunidade sólida, que vive pelos padrões bíblicos, foi danificada quando as primeiras histórias sobre abuso sexual, surgiram no início de 2018.
Os jornais texanos descobriram que alguns pastores, tinham uma tendência para acobertar os abusos, quando confrontados com estes. Como o caso de uma menina de 14 anos, que foi abusada sexualmente por um funcionário da Segunda Igreja Batista em Houston, uma igreja com 60.000 membros. O pastor Ed Young, presidente nacional dos Batistas do Sul de 1992 a 1993, ligou para a mãe desta garota, para perguntar se ele poderia ajudá-la. Quando esta disse que já havia contatado a polícia, Ed encerrou a conversa. “Nunca mais ouvi falar dele”, disse a mãe ao Houston Chronicle. Segundo o jornal, este caso é sintomático da atitude de muitos líderes da igreja.
Investigações
Imediatamente após a publicação dos artigos nos jornais, James David Greear, presidente da Convenção dos Batistas do Sul, afirmou que uma investigação deveria ser realizada nas dez igrejas, onde os casos ocorreram. Ele exigiu transparência por parte da igreja.
No entanto, no final da semana passada, a diretoria da convenção decidiu que a investigação deveria ser realizada em apenas três, das dez igrejas acusadas.
Uma destas três igrejas é liderada por C. J. Mahaney, um teólogo que ocupa um lugar proeminente no movimento de evangélicos conservadores, e conhecido como um dos novos calvinistas.
A decisão da administração nacional dos Batistas do Sul de não investigar sete igrejas, é fortemente criticada pelas vítimas.
Banalização do problema
Keith Whitfield, professor de teologia no Seminário Batista em Wake Forest, no Estado da Carolina do Norte, não está surpreso com a decisão da administração nacional dos Batistas do Sul. Keith conhece a cultura administrativa desta. No ano passado, ele foi vice-presidente do comitê que preparou as decisões para a convenção anual.
“A preocupação com a imagem das igrejas ainda é primordial e a atenção às vítimas ficou em segundo plano”, disse Whitfield.
“Nos últimos anos, em muitos sermões nas igrejas, pregou-se que não deveríamos apontar o dedo acusador para padres católicos romanos que cometeram abusos sexuais. Pois, esse mal também poderia ocorrer entre nós. E agora que isto se tornou público, subestimam a seriedade do ocorrido e abandonam suas responsabilidades”, acrescentou o professor.
O porta-voz da Igreja Batista do Sul, Sing Oldham, garantiu que “as igrejas têm sido chamadas a relatar às autoridades todas as suspeitas de abusos sexuais”, acrescentando também que “recursos estão sendo criados para que as igrejas protejam os seus fiéis da melhor forma”.
Abuso sexual é crime
O abuso sexual é sempre um crime, deve ser investigado e punido. A igreja tem um papel fundamental, como um ministério pastoral, de sempre priorizar e proteger as vítimas.