Nesta quarta-feira (19), o ditador turco, Recep Tayyip Erdogan, garantiu que vai continuar “com toda a determinação” a explorar hidrocarbonetos no Mediterrâneo, apesar do conflito que gerou com a Grécia e o Chipre e dos avisos da União Europeia.
“Tomar medidas para proteger os nossos direitos no Mediterrâneo é vital para acabar com a nossa dependência energética do estrangeiro”, afirmou Recep Tayyip Erdogan, num discurso transmitido ao vivo pela CNNTürk.
Erdogan descreveu como uma “luta pelo futuro” a doutrina Mavi Vatan (“Pátria Azul”), desenvolvida desde 2015 para reforçar a frota turca e afirmar o seu controlo sobre os mares que circundam o país, especialmente o Mediterrâneo Oriental, onde se cruzam vários interesses econômicos e geopolíticos.
“Assim como, há um século, rasgamos o tratado de Sèvres. não nos submeteremos agora àqueles que tentam impor uma Sèvres no Mediterrâneo Oriental”, disse Erdogan, referindo-se ao acordo de paz assinado entre os Aliados e o Império Otomano em 10 de agosto de 1920, após a Primeira Guerra Mundial.
A Turquia quer declarar uma zona econômica exclusiva (ZEE) numa grande área marítima ao sul da Anatólia, que incluem zonas reivindicadas pela Grécia e pelo Chipre. Ancara tem atualmente dois navios de exploração sísmica e um navio sonda nas áreas disputadas para procurar reservas de hidrocarbonetos.
A CNNTürk garante que a Turquia também está preparando outro navio sonda para começar a perfuração “nos próximos dias”. A União Europeia considerou, nesta quarta-feira (19), estas atividades da Turquia como “ilegais” e avisou que “todas as opções estão em cima da mesa”, manifestando “total solidariedade” para com Grécia e Chipre.
“Tivemos a oportunidade de discutir a situação no Mediterrâneo oriental e as relações com a Turquia, que foram denunciadas por alguns Estados-membros”, disse o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, falando em conferência de imprensa após uma reunião extraordinária de chefes de Estado e de Governo da UE realizada por videoconferência.
Indicando que os líderes europeus acordaram em “regressar a estas questões” durante uma reunião em Setembro, Charles Michel avisou a Turquia de que “todas as opções estarão em cima da mesa”, admitindo eventuais sanções a Ancara.
Também intervindo na conferência de imprensa após ter participado nesta reunião extraordinária de líderes, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, assinalou que a UE tem “uma longa história com a Turquia, de parceria, mas também de conflitos”.
No caso da Grécia, verificou-se na semana passada uma escalada da tensão no Mediterrâneo oriental pela presença – numa zona reclamada por Atenas – de um navio de prospecção turco escoltado por fragatas da Marinha de Guerra da Turquia. As operações turcas começaram dias depois de a Grécia e o Egito terem assinado um acordo de delimitação das ZEE, não reconhecido pela Turquia.
A República de Chipre, reconhecida pela comunidade internacional e membro da União Europeia desde 2004, controla a parte sul da ilha, cerca de dois terços do território. A República Turca Chipre do Norte, autoproclamada em 1983, é apenas reconhecida pela Turquia, que mantém milhares de soldados nessa região após a invasão militar de 1974, justificada por uma tentativa fracassada de golpe que pretendia a união da ilha à Grécia.
A Turquia reivindica parte da ZEE da ilha de Chipre e tem realizado operações de perfuração, insistindo que “está a proteger os seus interesses e os dos cipriotas turcos” nos recursos naturais da região.