Um júri popular condenou nesta terça-feira Hunter Biden, filho do presidente dos EUA, em todas as três acusações federais relacionadas ao porte de uma arma de fogo enquanto era usuário de drogas. Esta é a primeira vez na História dos Estados Unidos que o filho de um presidente em exercício é julgado e condenado criminalmente. O veredicto foi alcançado em três horas de deliberação.
Hunter Biden enfrentará um segundo julgamento em setembro, dois meses antes das eleições, em Los Angeles. Ele é acusado de sonegação de impostos, evasão fiscal e fraude na declaração de imposto de renda. Este caso pode ser especialmente embaraçoso para a família Biden, pois envolve negócios obscuros no exterior e um estilo de vida luxuoso que teria se beneficiado dos laços com o presidente.
Desde que as denúncias foram feitas no ano passado, o presidente Joe Biden evitou comentar diretamente os casos. Em uma entrevista à MSNBC, ele afirmou que seu filho “não fez nada de errado”.
Em uma rara declaração, na última quinta-feira, Joe Biden afirmou que respeitará a decisão da Justiça e não concederá perdão presidencial ao seu filho. Como as acusações são federais, o presidente poderia comutar a sentença, poupando Hunter de cumprir a punição.
Contudo, a posição do democrata pode mudar caso seja derrotado por Donald Trump. No final do seu mandato, nada impede que Biden perdoe uma eventual condenação de Hunter. Essa ação não seria inédita: em 2021, o então presidente Bill Clinton concedeu perdão ao seu irmão Roger, condenado por posse e tráfico de drogas, como um de seus últimos atos no cargo, embora Roger já tivesse cumprido sua sentença há mais de uma década.
Impacto na campanha eleitoral
O resultado do julgamento de Hunter Biden pode ter implicações significativas para a campanha eleitoral dos Estados Unidos. Se condenado, isso pode fortalecer os republicanos em um momento em que a condenação de Donald Trump pelo caso de suborno envolvendo a ex-atriz pornô Stormy Daniels ainda repercute na mídia. Após o veredicto de culpado contra Trump, Biden referiu-se a ele como um “criminoso condenado” — um rótulo que poderá ser aplicado também ao seu próprio filho.
A condenação de Hunter Biden pode ser utilizada pela campanha de Trump para ilustrar uma disfuncionalidade na família Biden, enfraquecendo a narrativa democrata sobre a condenação do ex-presidente. Isso pode minar o impacto negativo da condenação de Trump, sugerindo que o problema não se restringe a um partido específico.
Por outro lado, se Hunter for inocentado, os republicanos poderão alegar uma suposta perseguição política contra Trump, afirmando que ele foi condenado por ser um opositor do establishment, enquanto o filho do presidente foi absolvido devido a uma suposta parcialidade do Judiciário. Isso poderia reforçar a narrativa de que o sistema está enviesado a favor dos democratas, alimentando a base de apoio de Trump.
Em uma campanha que enfatiza a defesa da democracia e do estado de direito, uma condenação de Hunter Biden pode enfraquecer a imagem que o presidente Joe Biden busca projetar em contraponto a Donald Trump. A situação pode prejudicar a percepção pública de integridade que Biden tenta estabelecer.
O julgamento também trouxe à tona momentos difíceis para a família Biden, como a morte de Beau Biden, filho mais velho de Joe, vítima de câncer no cérebro. A tragédia teria sido um dos fatores que levaram Hunter ao consumo de drogas, uma luta pessoal detalhada em seu livro de memórias, usado pela promotoria como prova do seu vício na época em que adquiriu a arma. Além dos desafios legais, o impacto psicológico sobre o presidente em meio à campanha é significativo.
— Eu sou o presidente, mas também sou um pai — afirmou Biden no início do julgamento, em Wilmington, antes de viajar para a França na última semana. — Nossa família passou por muita coisa junta, e Jill [a primeira-dama] e eu vamos continuar ao lado de Hunter e da nossa família com nosso amor e apoio.
Uma pesquisa do instituto Emerson realizada durante o julgamento na semana passada revelou que 24% dos eleitores estariam menos propensos a votar em Joe Biden a depender do veredicto, enquanto 64% disseram que o caso não mudaria seu voto e 12% afirmaram que estariam mais dispostos a apoiá-lo. O levantamento também apontou que metade (49%) dos eleitores não acreditam que Hunter Biden esteja sendo acusado por ser filho do presidente, enquanto 27% acham que sim.
Quando as investigações começaram, em setembro do ano passado, uma pesquisa da Universidade Monmouth revelou que 27% do eleitorado considerava os problemas judiciais de Hunter Biden como um motivo para não apoiar o presidente Joe Biden. No entanto, a pesquisa indicou que a maioria desse grupo já não votaria em Biden de qualquer forma, o que significa que o julgamento poderia influenciar apenas 2% dos eleitores do presidente. Embora esse percentual seja baixo, ele pode ser decisivo em uma eleição apertada, especialmente em estados-chave onde a disputa será voto a voto, segundo analistas.
Relembre o caso
Hunter Biden, de 54 anos, enfrenta três acusações federais relacionadas à compra e posse ilegal de uma arma enquanto supostamente era viciado em drogas. Apesar de ter falado abertamente sobre sua luta contra o crack e o álcool, Hunter se declarou inocente, alegando que, na época da compra da arma, não estava consumindo drogas há algum tempo. Em 2019, ele afirmou estar sóbrio desde maio daquele ano.
As acusações incluem a compra da arma e envolvem o preenchimento de um formulário onde o comprador precisa atestar certas condições. A promotoria alega que Hunter mentiu ao responder “não” à pergunta “você é um usuário ilegal ou viciado em drogas?” no formulário. A terceira acusação se refere à posse da arma, que permaneceu com Hunter durante 11 dias em outubro de 2018, antes de ser descartada por sua então namorada, preocupada com seu estado psicológico.
Na argumentação final, os promotores alegaram que Hunter “sabia que usava crack e era viciado” ao preencher o formulário, não sendo necessário provar o consumo de drogas em um dia específico. Para sustentar a acusação, foram apresentadas trocas de mensagens de Hunter com traficantes durante o período em que possuía a arma, além de depoimentos de ex-parceiras que confirmaram sua luta contínua contra o vício.
“Talvez se ele nunca tivesse ido para a reabilitação… ele poderia argumentar que não sabia que era um viciado”, afirmou o promotor Leo Wise.
Já a defesa destacou que não há provas de que Hunter sabia estar violando a lei, argumentando que a pergunta no formulário era feita no tempo presente, portanto, ele teria respondido de acordo com seu estado em relação ao vício na época. O advogado Abbe Lowell também mencionou o testemunho do vendedor de armas, que afirmou que Hunter não parecia alterado no momento da compra, e argumentou que nenhum depoimento citava que ele havia feito “uso real de drogas” no mês em que esteve com o objeto.
A sentença será definida pela juíza Maryellen Noreika, que afirmou que o anúncio ocorrerá em até 120 dias, possivelmente em meados de outubro. A pena máxima pode chegar a 25 anos de prisão e US$ 750 mil em multas. No entanto, devido ao fato de Hunter ser réu primário e o crime ser considerado de menor potencial ofensivo, é improvável que a sentença atinja esse limite máximo. Seus advogados ainda podem recorrer do veredicto.