As últimas eleições ocorridas na América do Sul transformaram o continente em uma região cujos governos são, em sua maioria, de esquerda. Dos 12 países que a constituem, nove são governados por líderes que se identificam com esse espectro político.
Diante de um país altamente conservador, que vai na contramão da realidade que cerca a América do Sul, o Paraguai elegerá neste domingo (30) o sucessor do atual presidente Mario Abdo Benítez (Partido Colorado), além de governadores de departamentos (equivalentes a estados), senadores, deputados nacionais e deputados departamentais.
Em mais um pleito, os candidatos que possuem força para vencer são, em ampla maioria, representantes de direita, que mais uma vez renovam o fôlego político colorado.
Os principais candidatos da corrida presidencial, por exemplo, ecoam bandeiras conservadoras às vésperas da decisão final. O direitista Santiago Peña, do Partido Colorado, representa o partido que governa o Paraguai quase que ininterruptamente. Entre outras coisas, seu foco de governo será, se eleito, gerar meio milhão de empregos.
O outro nome de peso que aparece na disputa é Efraim Alegre, do Partido Liberal, que promete reger o mandato focado em reduzir os preços da energia. Para se fortalecer, fez uma frente com siglas de centro-esquerda.
Direita ou esquerda?
Efraim Alegre
Apesar de buscar transmitir uma certa isenção, Efraim Alegre é visto como um candidato de esquerda, ainda que externe declarações que o levem a ser entendido como algum nome mais à direita. Recentemente, a candidata ao cargo de senadora pela Associação Nacional Republicana (ANR), Carmen Alonso, criticou as propostas do liberal.
Para a postulante, Alegre representa o progressismo em todos os sentidos. “Todas as suas propostas que ouvi até agora são populistas, pouco aplicáveis e sem respaldo técnico”. Ela sustenta, inclusive, que o povo paraguaio deve ter cuidado com vistas às eleições gerais de 30 de abril, para não cair no populismo como aconteceu em alguns países sul-americanos como Venezuela, Argentina, Equador, entre outros.
“Temos uma Venezuela destruída por pessoas de esquerda, por um homem que acredita ser o messias e disse ao povo que vai resolver seus problemas”, disse ela, referindo-se ao ditador venezuelano Nicolás Maduro.
Pautas ideológicas
A visão de Alonso é sustentada, especialmente, em uma fala recente de Alegre, que se colocou contra o casamento igualitário e ao aborto, sendo que, no ano anterior, havia manifestado seu apoio à comunidade LGBTQIA+. Com contradições comunicativas, o presidenciável tenta puxar para si o voto conservador, tendo em vista que essa parcela da população representa uma maioria eleitoral que pode fazer a diferença no dia 30 de abril.
“Dizem que sou um revolucionário, mas em algumas coisas sou bastante conservador porque tenho uma família muito católica. O casamento é exclusivamente entre um homem e uma mulher, conforme estabelecido por nossa própria Carta Magna. Agora, em relação aos relacionamentos, as alternativas sempre existem; sobre o aborto, sou totalmente contra porque sou a favor da vida”, disse o liberal.
Apesar disso, em junho do ano passado, ele concedeu uma entrevista para um meio digital, ocasião em que garantiu que apoia amplamente a comunidade LGBTQIA+, frisando que as acusações sobre seu posicionamento eram equivocadas e infundadas.
Outro nome a criticar Alegre pelo posicionamento é Dannia Ríos Nacif, co-fundadora e presidente do movimento “Pela Vida e a Família Paraguaia”. Ela diz ter uma série de dúvidas sobre o discurso do liberal. No Twitter, Dannia deu aval aos questionamentos de Carmen Alonso, externando que Efraim flerta com a esquerda.
Santiago Peña
Santiago Peña, por sua vez, é de família conservadora e representa a direita no país. Por princípios, diz rejeitar a legalização do aborto, além de considerar que é “o [caminho] mais fácil, um atalho”. Desde que ingressou no ramo político, o colorado abraça pautas de eixo tradicional e discursa em favor da parentela “em sua composição tradicional: mamãe, papai e filhos”. Ele também se opõe a agendas que apreciam pautas de gênero.
Em todo o período de campanha, Santiago tem defendido a liberdade religiosa, de expressão e de imprensa. Em declarações recentes, voltou a condenar qualquer tipo de censura contra jornalistas e comunicadores, justificando que a imprensa deve ser livre e ter todos os direitos garantidos para seu exercício de trabalho.
Por não se desprender de posicionamentos direitistas, Peña recebe críticas da comunidade internacional, que questiona a ampla defesa dele em torno de Taiwan. Ele também quer fortalecer ainda mais laços com Israel, como a medida de se alinhar à diplomacia em Jerusalém.
Jerusalém e Taiwan
Caso eleito, uma de suas primeiras ações será transferir a embaixada do Paraguai para Jerusalém. “Nosso país reconhece essa cidade como a capital do Estado de Israel”, tem dito Peña. O reconhecimento internacional de Jerusalém como capital de Israel é uma solicitação antiga do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que voltou ao poder em 2022. Atualmente, apenas Estados Unidos, Guatemala, Honduras e Kosovo mantêm embaixadas em Jerusalém.
Em torno de Taiwan, diz que seguirá reconhecendo a ilha como país independente, levando em conta pontos históricos, além de um vínculo de amizade com o Paraguai de mais de 60 anos, em que Taiwan tem sido um grande aliado. O Paraguai é um dos 13 países que mantêm relações diplomáticas com a ilha.
De acordo com Santiago Peña, é Taiwan quem apoia o povo paraguaio na formação de capital humano e em programas sociais de grande impacto. Ambos os países, diz ele, estão unidos por um vínculo de princípios e valores democráticos, com foco em uma economia eminentemente agrícola, rumo à industrialização.
Peña é apadrinhado político do ex-presidente conservador Horacio Cartes — empresário do setor do tabaco, que sofre sanções dos Estados Unidos. Ex-ministro da Fazenda, Peña é o favorito dos paraguaios, conforme algumas sondagens eleitorais divulgadas nos últimos dias.
Conexão Política cobrirá as eleições presidenciais do Paraguai neste domingo