A pandemia da Covid-19 trouxe à tona questões não apenas de ordem biomédica e epidemiológica em escala global, mas uma série de fatores relacionados a impactos sociais, econômicos, políticos, culturais e históricos sem precedentes na história recente. Em meio à necessidade de isolamento social, a tecnologia desenvolveu um papel indispensável em nosso cotidiano. Com a internet, pudemos nos manter informados, cuidar da saúde e conversar com familiares e amigos.
Desde o início do surto do coronavírus, no entanto, as pautas políticas entraram em conflito com as preocupações sobre saúde pública e a liberdade de expressão. Autoridades e órgãos convencionais de imprensa passaram a confrontar portais de notícias, a colocar em xeque os posicionamentos de especialistas e a ditar discursos e linhas editoriais de outros veículos de comunicação, ordenando a remoção de conteúdos indesejados e, o mais flagrante, a persegui-los por meio do aparato estatal.
Recentemente, o nível de perseguição contra adversários políticos ficou ainda explícito quando mídias independentes foram inseridas na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, do Senado Federal, ao longo do segundo semestre de 2021, tendo os integrantes do colegiado determinado a quebra dos sigilos bancário e fiscal de diversos meios de comunicação. À época, a medida foi duramente criticada por instituições como a Associação MP Pró-Sociedade e a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), além de juristas e jornalistas.
É fato que o cenário de pandemia escancarou uma repressão global à liberdade de expressão. Em vários países, ativistas, jornalistas e integrantes comuns da sociedade civil foram presos ou acusados injustamente nas esferas cível e criminal por declarações on-line relacionadas à doença. Tais repressões foram justificadas por meio uma série de leis que classificam os discursos como causadores de pânico, instigadores de violência, espalhadores de ódio e coisas do tipo.
Sob o pretexto de combater a desinformação, além de uma série de tentativas para aprovar novas medidas com o objetivo de prender ou silenciar indivíduos por delitos que não existem no direito internacional, diversos países tentaram controlar narrativas sobre a propagação do vírus e seus efeitos, incluindo questões relacionadas ao desempenho dos governos e às desastrosas implicações sociais e econômicas provocadas pelo lockdown.
A China, sob o comando do Partido Comunista, emplacou uma onda de censura sistemática, com forte atuação de autoridades do regime manipulando a narrativa global sobre sua ausência de ações durante a crise sanitária e a incapacidade de conter o surto inicial em Wuhan. Políticos chineses buscaram calar uma série de conteúdos e denúncias relacionadas ao surgimento do vírus.
Países e líderes autocráticos com histórico de estímulo a rupturas institucionais não foram os únicos a apostarem nesse tipo de investida autoritária. Mesmo os governos que historicamente protegeram a liberdade de expressão também responderam desproporcionalmente a opositores durante o contexto de pandemia ainda em vigência.
Voltando ao Brasil
Conforme registrado no início desta matéria, jornalistas e comunicadores foram alvo de abuso de poder durante a pandemia, especialmente por manifestarem publicamente opiniões contrárias ao que passou a ser consenso entre seus pares. Nesse contexto, o Conexão Política entrevistou, com exclusividade, a jornalista Aryane Garcia, que alega ter sofrido uma série de perseguições por exercer a profissão e não compactuar com a visão majoritária defendida pela classe jornalística.
Nascida e criada em São José do Rio Preto (SP), Aryane iniciou a carreira apresentando programas de TV em grandes emissoras do interior paulista. Alguns anos depois, foi morar em Chicago e Nova York, nos Estados Unidos, onde despontou na carreira assinando reportagens exclusivas em língua portuguesa para mais de 10 países. Ela também trabalhou como assistente de produção no evento ‘Brazilian Day’, uma tradicional festa brasileira que ocorre anualmente no centro da cidade de NY.
Ao retornar para o Brasil em 2013, a rio-pretense continuou exercendo sua influência no setor da comunicação, contribuindo com uma série de trabalhos no setor jornalístico. Em 2020, ano que foi desencadeado o surto global da covid-19, ela teve seu nome envolvido em uma série de ataques e polêmicas, devido às suas posições políticas.
Contrária à vacinação compulsória e às medidas de confinamento extremo como o lockdown, a jornalista relata ter sofrido perseguição daqueles que não compactuavam com seus posicionamentos, tornando-se alvo de calúnia e difamação. A comunicadora diz ter visto seu nome estampar manchetes de jornais com acusações absurdas, em um verdadeiro assassinato de reputação.
Alvo de três ações judiciais, ela relata o sentimento de angústia ao ver seu nome envolvido em acusações tão graves, provocadas por perseguição política. Ao conversar com a nossa equipe, ela garante que todos os processos movidos contra ela foram arquivados por falta de materialidade nas acusações. Após os ataques contra sua honra, Aryane Garcia ajuizou uma série de processos contra seus acusadores, alegando que todos eles devem enfrentar os tribunais a fim de reparar os danos provocados a sua imagem.
Pod no Condado
Em abril deste ano, Aryane Garcia assumiu uma nova etapa em sua carreira, desta vez, no centro da capital paulista. Disposta a propor um novo formato de jornalismo, a comunicadora estreou o “Pod no Condado”, um formato de podcast que realiza entrevistas com personalidades do mundo político, social e econômico.
O nome da atração, segundo ela, tem um significado especial, visto que ‘condado’ refere-se à nobreza e, para dar ainda mais substância à nomenclatura, o espaço de gravação do projeto é sediado na Avenida Brigadeiro Faria Lima, um importante centro comercial e financeiro do país.
Com uma linha editorial conservadora, “Pod no Condado” já recebeu grandes figuras do cenário nacional como o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PTB), tido como uma das personalidades mais emblemáticas da história recente, tendo seu nome cravado na República por ser o grande responsável por iniciar o impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Além do ex-congressista, já foram entrevistados o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, o ex-secretário especial de Cultura Mário Frias e o jornalista e apresentador de TV Otávio Mesquita, este último que é uma das figuras pioneiras da televisão brasileira.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista concedida ao Conexão Política.
CP: Qual a trajetória de Aryane Garcia como jornalista e quais foram os desafios até aqui?
AG: Eu sou jornalista há mais de 10 anos e tive a oportunidade de ser correspondente internacional, trabalhando formalmente em Nova York, e sempre tive programas independentes no interior de São Paulo. Nasci em São José do Rio Preto, onde me formei. Desenvolvi uma série de trabalhos em grandes veículos de comunicação e, posteriormente, fui estudar inglês no exterior, e lá consegui uma vaga bastante disputada como assistente de produção do “Brazilian Day”, que é o maior evento brasileiro do mundo. Eu cheguei lá com um currículo bem bacana. Eu era nova, tinha por volta dos 26 anos. Aos 22, me formei, dando início à carreira aos 23 anos. Então, eu sempre fui empreendedora desde muito cedo. Já fora do país, tive grandes oportunidades, pois a maioria das pessoas que vão aos Estados Unidos, muitas vezes não têm tanta experiência. Quase sempre, elas vão porque não tem trabalho no Brasil, e estudante faz coisas para estudar. Já eu, estava fazendo os dois — estudando e trabalhando. Então, eu consegui essa vaga e foi onde me encontrei. Estudei inglês, fiz a produção do “Brazilian Day”, além de estar como correspondente internacional, enviando matérias em português, com notícias relevantes sobre o Brasil. Alguns anos depois, voltei ao Brasil, especialmente porque tenho a minha família no interior. Eu sou muito apegada ao vínculo parental, sou interiorana mesmo. Com esse retorno, quis ter meu filho. Sou mãe solo por opção e tive meu filho em 2014. Com isso, dei uma desacelerada na vida. Esperei ele crescer um pouco e continuei com minhas viagens de trabalho. No interior paulista, eu tinha um programa independente, sendo veiculado em alguns canais de TV como Band, SBT e afins. E assim fui seguindo. Com a chegada da pandemia da Covid-19, eu quebrei. Eu tive muita dificuldade financeira, fiquei meses sem fonte de renda. Nesse meio tempo, em específico, eu comecei a fazer declarações nas redes sociais me posicionando contra o lockdown. Na ocasião, eu já tinha bastante seguidores, porque eu já era bastante conhecida na região devido ao programa de TV. Por causa das minhas falas, o pessoal começou a cair matando em cima de mim. Eu comecei a sofrer uma perseguição da mídia. Na época, eu estava recebendo Auxílio Emergencial, porque sou mãe solo, então como produtora de eventos, setor que está voltando só agora e foi o último a voltar na pandemia, e como apresentadora de TV, pois meu estúdio tinha 30 pessoas trabalhando, então não consegui voltar às atividades. Eu fiquei bastante vulnerável financeiramente. E aí, a partir disso, usaram essa vulnerabilidade contra mim. Pegaram minhas fotos de viagens, de 2018, 2019, e falaram que eu estava usando o Auxílio de forma indevida. Colocaram, de modo meio subliminar, que eu estava sendo investigada pela Polícia Federal, sendo que isso foi mentira. Foi quando começou essa grande perseguição contra mim. A partir disso, eu comecei a bater de frente, e peguei firme nas denúncias em minha cidade. Comecei a receber muita coisa de óbito fraudulento, fiz um dossiê de mais de 10 minutos. Eu fui para cima dos relatos envolvendo o prefeito e também o hospital da minha cidade. Com a grande repercussão, vieram me dizer que precisavam de uma pessoa como eu na política. Eu me candidatei, recebi quase 500 votos. Há quem diga que foi uma quantidade expressiva.
CP: Como foi sua ida para São Paulo e por que um podcast?
AG: Em outro momento, compondo um cenário posterior a tudo isso, muita gente já tinha me visto como jornalista atuante na política. E surgiu o convite para trabalhar em São Paulo, justamente nesta área da comunicação. E apesar da minha resistência pessoal em ir para a capital, devido à violência, eu passei a avaliar a possibilidade. Para quem já morou em Nova York, com tantos desafios, o que seria São Paulo, né?! Com o convite, passei a avaliar todo o contexto. E foi justamente em São Paulo que eu recomecei como jornalista, com assuntos de relevância da política nacional. Eu já tinha tentado criar um podcast lá no interior, com uma linha editorial conservadora, de direita mesmo, mas não emplacou. Na maioria das vezes, as empresas têm medo de associar a imagem, com medo de cancelamento, represálias, coisas desse tipo. À vista disso, eu tive a ideia de trazer esse projeto de podcast, que já estava engatinhando no interior, para São Paulo mesmo. Foi uma mudança de rota, admito. Um projeto inicial mesmo. É algo que recém começou, mas que temos a pretensão de tornar um veículo de comunicação ainda mais promissor. O nosso objetivo é consolidar um canal democrático, porque apesar de nossa posição editorial declarada, não recebemos somente convidados de direita, mas também concedemos abertura para que exista um campo de discussão de ideias. O meu novo trabalho se chama Pod no Condado.
CP: Qual a linha editorial do Pod no Condado? Vocês têm noção do cenário de censura que o país atravessa?
AG: Estamos trabalhando bastante com rodadas de entrevistas. Já entrevistamos a Cristiane Brasil, filha do Roberto Jefferson; o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha; o influencer Fernando Lisboa, conhecido como Vlog do Lisboa; o jornalista Otávio Mesquita; o ex-Secretário da Cultura, Mário Frias; o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, entre outros. A nossa abordagem vai ouvir personalidades relevantes do cenário político, mas também explorar figuras expressivas no cenário da cultura, do ramo televisivo. O nosso interesse é abrir espaço para convidados protagonistas de suas histórias e que marcaram a história no Brasil. Um exemplo disso é Otávio Mesquita, que participou das principais etapas da evolução da TV brasileira. Em nosso podcast, ele fala sobre o período na pandemia, que foi uma fase que ele pegou covid, além de se posicionar contra o lockdown. Então teremos, sim, entrevistados que não têm medo do cancelamento. Porque viver em um país Democrático de Direito, sendo perseguido por dar opinião… não dá, né?! A gente vê que nem mesmo os parlamentares foram poupados, a exemplo do Daniel Silveira. A gente vê que até os deputados, que têm imunidade parlamentar, falam de tudo, mas sempre vigilantes. A gente, que é jornalista, até fala, mas sempre vigilante, constantemente com uma assessoria jurídica, com um zelo de “se controla, vai devagar, podem derrubar o teu canal, não fala esse nome”. Isso é, de fato, censura prévia. Eles tentaram criar esse temor em nós, que é justamente para a gente ter um limite. Em um Estado Democrático de Direito não tem limite na comunicação, é um ambiente de livre manifestação de expressão e de pensamento. Eu tive três ações contra mim no interior de São Paulo. Primeiro, porque eu fui contra o lockdown. Depois, como não conseguiram me enterrar, tentaram um assassinato de reputação, me chamando de genocida, fascista, preconceituosa, porque eu também fui contra a vacinação compulsória. Dessa forma, o Ministério Público (MP) veio para cima de mim. Eu sofri um processo criminal e dois cíveis, mas todos eles foram arquivados. A todo momento me classificavam na imprensa como “jornalista investigada; jornalista enquadrada; empresária investigada por declaração antivacina”. Com insistência, a todo momento, meu nome saía em manchetes de jornais. E o que vou fazer? Depois de tanto apanhar, aprendi a bater. Eu vou processar todo mundo. Porque senão tudo que eu falar as pessoas vão continuar vindo para cima de mim e vai ficar esse ‘oba, oba’. Não aceito pedido de desculpa. Desculpa, não. Porque foram diversas tentativas de assassinato de reputação. Isso é grave, isso é muito sério. Vou processar todos.
CP: No tocante à liberdade de expressão, como você avalia a CPI da Pandemia e o cenário jurídico atual?
AG: Sou contra tudo isso que aconteceu nos últimos meses, anos. A liberdade de expressão no Brasil está correndo perigo. Eles pegaram algumas pessoas como bode expiatório, ciente de que era, pessoas expressivas. Com isso, começaram a bater para que servissem de exemplo, ou seja, qualquer um que se levantasse sofreria as consequências. Jornalistas; deputados; prisões arbitrárias; bloqueios de bens. Tudo isso, no entanto, não são medidas para gerar equilíbrio, não, mas para impor limites. E em São Paulo, por exemplo, eu fui o bode expiatório do interior. Ao invés de resguardarem meus direitos como jornalista, de garantirem o artigo 220 da Constituição Federal, de a lei ser preservada, ferramentas contrárias foram colocadas como instrumento para me bater. Então, na prática, o que gerava nas pessoas que me acompanhavam? Medo! Elas tinham receio de que os rostos delas aparecessem nos jornais por causa de seus comentários em minha página, entre outras coisas. Estamos vendo claramente que não é questão de combater fake news, mas uma materialização da censura prévia.
CP: Você acredita ser uma voz de resistência no jornalismo?
AG: Eu sou cristã e tenho uma visão espiritual das coisas. Se analisarmos o cenário da história, nós sabemos que algumas pessoas se levantaram, apanharam e fizeram história. Então, eu enxergo que essas pessoas que estão sendo perseguidas, na verdade, possuem uma missão a cumprir. Eu não me sinto no direito de não atender aquilo que Deus colocou em minhas mãos. Porque se eu acordar e dizer: “Deus, hoje não”, eu vou perder o meu propósito de vida. E, todas as vezes que me bateram, que eu fui prejudicada de alguma maneira, rapidamente Deus usou situações para me reerguer. A pandemia foi um desses momentos em que, mesmo diante de dificuldades, nada ficou totalmente perdido. Deus me ajudou muito.
CP: Você fez menção de pontos ligados à fé. Poderia explicar um pouco mais?
AG: Sim. A luta sempre foi entre o bem e o mal. Não adianta achar que é algo limitado a uma disputa política entre esquerda e direita. Porque não dá para limitar tudo isso à risca, senão nos tornamos extremistas. Mas é, de fato, uma briga entre o bem e o mal. E, novamente, haverá um marco na história.
CP: Você se considera de direita. Já sofreu alguma aversão por causa disso?
AG: Eu tomo muita pedrada da mulherada, sabia? Inclusive, de uma parte da direita. Porque existe uma parte da direita vaidosa, de quem se considera da elite da direita. Já recebi muita pedrada de mulheres, ativistas, pessoas que tentaram pedir minha cabeça. “Como é que você veio para São Paulo? Com que condição?”. Basicamente, aquela velha pergunta: “Quem está por trás?”. Porque uma mulher, mãe solo, sozinha na capital, isso traz algo cultural à tona e eu até entendo. Mas o que quero dizer é que, na verdade, existem pessoas que crescem na vida trabalhando de verdade, se esforçando mesmo. O que tenho na minha vida são pessoas, homens, mulheres, que trabalham para mim, que me contratam, que me apoiam. Então não tem porque existir esse ego, essa disputa desnecessária. Mas quem me persegue mesmo é a ala feminista. As feministas me odeiam.
CP: Sobre o Pod no Condado, poderia falar um pouco mais?
AG: O nome do podcast surgiu porque ele é ocupado na Avenida Brigadeiro Faria Lima, que é considerado um condado. Então, o Pod, ele remete à realeza. A cor roxa da nossa identidade visual, por exemplo, também remete a essa ideia. A nossa essência, apesar disso, está ligada ao patriotismo, aos atributos do Brasil, mas com uma proposta diferenciada no formato de comunicação, na forma de abordagem. Temos posicionamentos claros, evidentes. Eu me posiciono abertamente contra o aborto, contra o feminismo, entre outros pontos. Será uma mídia para a família brasileira, que reflete os valores do cidadão brasileiro, da maioria da população. Quem está cansado da velha imprensa e deseja ver temas sobre o que realmente pautam o Brasil, não só pode como deve acompanhar o Pod No Condado.
CP: Qual a grade de programação do Pod no Condado? Como encontrá-los?
AG: Estamos atuando em todas as plataformas digitais. Atualmente, lançamos a íntegra das entrevistas às quintas-feiras, além de uma série de pílulas que são publicadas diariamente, com trechos de entrevistas, de bastidores. Todos os dias o nosso público pode ter acesso ao nosso projeto, do que estamos fazendo. Então, as pessoas que nos acompanham sempre ficam antenadas de tudo que acontece no segmento político, econômico e social.