A União Europeia aprovou tarifas sobre aproximadamente US$ 23,2 bilhões em produtos americanos como resposta às medidas protecionistas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. As novas sanções comerciais atingem diretamente exportações americanas de setores estratégicos e começam a vigorar a partir de meados de abril.
A decisão, tomada nesta quarta-feira (9) com apoio da maioria dos 27 países do bloco, visa retaliar os 25% de tarifas impostos pelos EUA no mês passado sobre o aço e o alumínio europeus. Entre os produtos alvo das novas taxas estão soja da Louisiana, estado do presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Mike Johnson, além de diamantes, aves, produtos agrícolas e motocicletas.
A Comissão Europeia, responsável pela política comercial do bloco, declarou que as contramedidas podem ser revertidas caso os Estados Unidos aceitem um acordo negociado justo e equilibrado.
Escalada tarifária com efeitos globais
A medida aprofunda a já tensa guerra comercial transatlântica, que ganhou força após os EUA imporem uma tarifa universal de 20% sobre quase todas as exportações da UE, além de 25% sobre automóveis e autopeças. Enquanto isso, a China também intensifica sua resposta, elevando tarifas para 104% sobre produtos americanos.
As novas tarifas da UE serão aplicadas em três etapas:
- 15 de abril
- meados de maio
- 1º de dezembro
As alíquotas variam entre 10% e 25%, com a maioria dos produtos enfrentando o teto da faixa.
Produtos isentos e riscos econômicos
Sob pressão política interna, a UE retirou o bourbon da lista de produtos afetados para evitar uma retaliação americana mais agressiva. Trump ameaçou, em resposta, aplicar tarifas de 200% sobre vinhos, champanhes e outras bebidas alcoólicas da Europa.
O presidente americano tem intensificado críticas à UE, acusando o bloco de criar barreiras regulatórias para dificultar a entrada de produtos americanos. Em 2023, a tarifa média ponderada da UE foi de 2,7%, segundo dados da Organização Mundial do Comércio.
“Eles criam regras que dificultam a venda dos nossos produtos. Não vamos permitir que isso continue”, afirmou Trump esta semana.
Autoridades da Comissão Europeia, como o comissário de Comércio Maros Sefcovic, tentam abrir negociações com representantes dos EUA. No entanto, segundo fontes ouvidas pela imprensa europeia, o governo americano ainda não apresentou um mandato claro de negociação.
Retaliações futuras e instrumentos comerciais
A UE prepara novas contramedidas para enfrentar o que chama de “tarifas recíprocas” impostas por Washington. Uma proposta formal deve ser apresentada na próxima semana. França, Alemanha e outros países do bloco pedem o uso do instrumento anti-coerção da UE, mecanismo criado para responder a ações comerciais consideradas coercitivas por outras nações.
Além das tarifas, o bloco cogita direcionar retaliações contra empresas americanas de tecnologia e serviços, como parte de uma resposta mais abrangente.
Harley-Davidson, jeans e a origem do conflito
A disputa comercial entre EUA e UE teve início em 2018, quando o governo Trump impôs tarifas sobre US$ 7 bilhões em exportações europeias de aço e alumínio, alegando motivos de segurança nacional. A resposta da UE incluiu tarifas sobre produtos emblemáticos como motocicletas da Harley-Davidson e jeans da Levi’s, além de itens agrícolas e vestuário.
Em 2021, os dois lados concordaram com uma trégua parcial. Os EUA flexibilizaram as sanções em troca de um sistema de cotas tarifárias para metais, enquanto a UE congelou medidas retaliatórias. A atual retomada do conflito ameaça o crescimento da zona do euro e pode desestabilizar ainda mais o comércio global.