A crise sanitária provocada pela covid-19 deu lugar à questão financeira quando se trata de preocupação entre os brasileiros. É o que revela a pesquisa do Instituto Travessia, que colheu, por telefone, a opinião de 1.000 cidadãos entre os dias 5 e 6 de abril.
O impacto na vida econômica ocupa o primeiro lugar no ranking de tópicos que afligem todas as classes sociais. O assunto é citado por 37% dos entrevistados com renda de até dois salários mínimos, e por 33% daqueles com renda superior.
Segundo o cientista político e sócio-proprietário do Instituto Travessia, Renato Dorgan Filho, a redução nos índices do coronavírus observada entre 2022 e 2021 vem gerando um sentimento de “pós-pandemia” na população.
“A nossa guerra é a covid-19. Ela devastou a economia, especialmente entre os mais pobres, levando a uma situação de endividamento e até fome. Em contrapartida, os mais ricos são os que menos se vacinaram. São eles também que têm acesso ao sistema particular de saúde e aos melhores tratamentos, o que, claramente, reduz o medo da contaminação”, declarou Renato.
A sondagem também revelou uma certa resistência à continuidade do programa vacinal no país. O percentual de entrevistados que são contra a aplicação da quarta dose é de 37%. Essas pessoas dizem que não pretendem tomar mais uma dose de reforço, enquanto 20% dizem não ter opinião formada e 43% garantem que irão participar de todas as etapas de inoculação.
Na opinião de 42% dos que foram ouvidos pelo levantamento, com renda inferior a dois salários mínimos, a pandemia acabou no Brasil. O percentual aumenta entre os financeiramente privilegiados: 66% com renda acima de cinco salários mínimos consideram que a doença ficou para trás.
O infectologista Celso Ramos, integrante da Academia Nacional de Medicina (ANM), afirma que a situação epidemiológica é realmente bastante favorável, Segundo ele, o atual momento foi possível graças à vacinação em massa.
“Quem não tomou as doses disponíveis e está atrasado com o calendário deve se atualizar. A quarta dose é fundamental, e ainda temos uma quantidade significativa de crianças e adolescentes não vacinados, além de pessoas que não tomaram a terceira dose”, disse.
“Não podemos deixar de lado esta preocupação, mesmo já tendo outras, como a financeira. É fato que a dor no bolso pesa, mas, tudo que não queremos é reviver uma pandemia”, acrescentou.