O próximo CEO da Vale SA recebeu a missão de aumentar a produção de minério de ferro para melhorar a eficiência da empresa, mesmo diante da demanda em declínio da China por esse insumo siderúrgico.
“O principal objetivo da empresa é a produção”, afirmou Daniel Stieler, presidente do conselho de administração da Vale, na terça-feira (27), durante uma entrevista na sede da companhia no Rio de Janeiro. “Quando você melhora a produção, seu custo e gerenciamento de projetos se ajustam automaticamente.”
Stieler ressaltou que a diretriz principal para Gustavo Pimenta, nomeado na segunda-feira (26) como futuro CEO da segunda maior produtora de minério de ferro do mundo, será focar na entrega de minério de alta qualidade para o mercado global de siderurgia. Quando assumir o cargo em 1º de janeiro, Pimenta terá como meta a curto prazo posicionar a Vale como a principal fornecedora de minério de qualidade superior, atendendo às necessidades das siderúrgicas que buscam reduzir suas emissões de gases de efeito estufa.
Gustavo Pimenta apresentou o foco na maximização da produção de minério de ferro como parte de sua visão para a empresa durante o processo de seleção para CEO, conforme informou o presidente do conselho, Daniel Stieler. O executivo de 46 anos foi nomeado em um momento em que os preços do minério de ferro estão em queda, influenciados pela menor demanda de aço da China.
A desaceleração econômica na China, um dos maiores consumidores de minério de ferro, coincide com o início de operações de novas minas grandes e de baixo custo na Austrália e na África, além de um aumento na produção por grandes mineradoras, resultando em um mercado já saturado.
Os preços futuros do minério de ferro caíram cerca de 30% este ano, mantendo-se em torno de US$ 100 por tonelada métrica, valor que representa menos da metade dos picos recordes de 2021.
A Vale, que já foi a maior fornecedora mundial de minério de ferro, perdeu essa posição para o Rio Tinto Group após um acidente de mineração em 2019, que obrigou a empresa a suspender a produção em várias minas no sudeste do Brasil.
A nomeação de Gustavo Pimenta pôs fim a um processo de sucessão complicado que se arrastou por vários meses, gerando incertezas entre os investidores e levantando preocupações sobre possível interferência política. Anteriormente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia pressionado para que um de seus aliados assumisse a liderança da Vale. A escolha de um executivo interno foi bem recebida pelo mercado, sinalizando a independência do conselho da empresa.
Entre as prioridades de Pimenta está a restauração das relações com o governo, conforme afirmou Daniel Stieler. Embora a Vale tenha sido privatizada em 1997, manter um bom relacionamento com as autoridades é essencial para obter licenças ambientais necessárias à expansão da produção de minério de ferro. Além disso, a Vale busca um acordo com as autoridades em relação a um desastre de mineração fatal ocorrido em 2015.
Gustavo Pimenta foi escolhido para liderar a Vale principalmente por sua habilidade em se comunicar com as partes interessadas, explicou Daniel Stieler, presidente do conselho da empresa e indicado pela Previ, o fundo de pensão do Banco do Brasil SA. O Banco do Brasil, controlado pelo governo, é o maior acionista individual da Vale, com 8,7% de participação.
“A Vale enfrenta um problema de reputação que precisa ser restaurado para demonstrar seu valor à sociedade”, afirmou Stieler. “O processo de comunicação é muito importante.”
Entre as prioridades da Vale nos próximos meses estão finalizar um acordo de compensação pelo desastre de rompimento de barragem ocorrido em 2015 e resolver uma disputa com o governo sobre a renovação da concessão de uma ferrovia crucial para o transporte de minério de suas operações principais.
A Vale continua a concentrar seus esforços no minério de ferro como seu principal negócio, afirmou Daniel Stieler. No entanto, a empresa está aberta a parcerias e a explorar novas oportunidades de expansão em diferentes regiões e minerais, como o cobre.